Como já falei, a
meteórica carreira de piloto de asa foi curtíssima, mas faltam "os
finalmentes".
Depois dos espinhos na bunda e da arborização veio o
encerramento do curso, carreira, etc., com chave de ouro...
Andava o escrevinhador-blogueiro tratando de seu trabalho,
entregando fotos, recebendo uns trocos, essas coisas, quando me encontro com o
carro do instrutor, duas asas no teto, quatro alunos dentro, vindo em sentido
contrário.
Dei um jeito de fazê-los parar e perguntei para onde iam.
- Pro Morro da Jativoca,
em Joinville.
E caíram na armadilha de elogiar o tal Morro. "Que era
ideal para voos iniciais, pois era um morro pelado, isto é só tinha pasto na
encosta. Que a inclinação era ideal, pois o ângulo de descida era mais ou menos
igual ao da rampa do morro. Que, no caso dum imprevisto, dificilmente o novato
se machucaria e, finalmente, que permitia voo com vento de qualquer direção porque
era uma elevação arredondada e regular."
Pronto: "Podem ir se apertando que eu vou junto".
E lá se foi a Elba, se não me engano, atulhada de voadores,
experientes e nem tanto, equipamentos no porta-malas, duas asas no teto,
sofrendo com todo aquele peso.
Os cem quilômetros ou pouco mais foram vencidos sem problemas
e lá pelas três da tarde estávamos nós
no alto do Jativoca, disputando seu uso com o Exército Brasileiro, que estava,
justo naquele dia, fazendo alguns exercícios com a milicada. Os comandantes da
operação não colocaram empecilhos e começaram os voos.
O vento, fraco das pernas, de novo. Parecia até perseguição,
pois todos sabemos que litoral sem vento
é coisa difícil de ocorrer.
Só que fazer duzentos quilômetros, para não voar é coisa que
difícilmente a rapaziada aceitaria.
Mesmo em condições adversas, todos queriam tirar sua
casquinha no Morro da Jativoca.
Como aqui o trajeto entre a decolagem e pouso era menor e a
rampa mais suave, os voos se sucediam mais rapidamente e logo chegou minha vez.
O primeiro voo transcorreu sem incidentes mais graves.
Apenas aquela sensação de "vai dar cacaca agora" , pois com falta do
"lift" era um rasante de não caber uma formiga entre o voador e a
grama ...
Mas nesse, deu tudo certo.
Antes de mim um outro aluno andou perdendo sustentação e o
voo ficou pela metade, mas não se machucou, dadas as características de rampa
suave e sem maiores obstáculos.
A asa também saiu ilesa.
Outros voaram, todos tirando fininho do solo.
O certo, mesmo, era suspender o treinamento, pôr a viola no
saco e voltar para Itajaí. Mas, não sei lá porque o professor cedeu aos apelos
dos alunos.
Não devia.
Eis que, de novo estava o "Lambe-Lambe" pronto
para nova corrida, decolagem, rasante morro abaixo e, com sorte, outro pouso lá
embaixo.
Fui-me. Num rasante bárbaro, que nem um agrícola Ipanema,
sobrecarregado em calorão de trinta graus.
Pois é, falei que o Morro da Jativoca era apreciadíssimo
pelos praticantes do voo livre.
Mais apreciado ainda era por uma colônia de cupins, que não
entendia de voos humanos pendurados naquelas coisas triangulares e estranhas. E
não imaginava que um novato quisesse fazer testes de resistência de
materiais, usando, justamente seu
condomínio.
Não deu outra: no raso, consegui dar uma cabradinha e livrar
minha cabeça, corpo e membro do arranha-céu dos insetos.
Mas não deu para livrar o trapézio do choque.
Para os gaúchos campeiros, foi como se tivessem pealado a
asa pelas patas da frente.
Faz tanto tempo que não lembro direito, mas acho que não
completei o "looping" invertido.
Quando me dei por conta estava com a proa da asa cravada na
grama, ambos ilesos.
Tratei de me levantar e subir a encosta para entregar o
equipamento a outro maluco que quisesse encarar aquela condição de pouco vento.
Notei que a asa estava meio molenga, mas pensei que fosse
coisa de apenas algum pequeno ajuste.
Chegando na rampa, fomos revisá-la.
Que ilesa, coisa nenhuma: o choque quebrara a quilha e, sem
um bom mecânico aeronáutico, por um tempo aquela asa não voaria mais.
A outra asa era a queridinha do instrutor, equipamento
caríssimo e, claro, naquelas condições nem ele quis saber de voar.
Restava, então, procurar um boteco e beber para esquecer.
E eles até já sabiam onde havia um que tinha cerveja bem
gelada a preço honesto.
Lá nos fomos para comemorar a "formatura" nada
honrosa desse manicaca aqui, que encerrou sua carreira de piloto de asa delta
de forma melancólica, bebendo em boteco de periferia ...
Não sei por que, dali para a frente, sempre que eu me
escalava para um voo, havia uma desculpa na ponta da língua ...
Naquela sequência, arborizando e quebrando asa, ia era
acabar quebrando as ideias nalguma pedra
ou encosta.
"Melhor não arriscar" - pensava o instrutor.
E ali encerrou-se minha experiência com o voo livre!
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Resposta da Sessão Nostalgia da Postagem Anterior
As fotos dos CAP 10 em acrobacia, foram feitas pelo "Lambe-Lambe na EXPOAER que ocorreu no Aeroclube do RGS, em 22 de abril de 1990.
Os pilotos eram um casal de franceses que faleceu em acidente aéreo alguns anos depois.
O Paulistinha pousado na praia era de Joinville e os "motoristas" eram o "Lambe-Lambe", de barba e o Irineu, que era instrutor naquele aeroclube, mas que já voara muito no Aeroclube de São Leopoldo.
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Sessão Nostalgia Pessoal
Quem seria o piloto especializado em quebrar Kitfox? Esse foi o primeiro, em 31 de dezembro de 1999.
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