domingo, 18 de fevereiro de 2018

            Demonstrando o Netuno



            O Netuno foi a minha primeira aeronave. Como toda a primeira, marcou profundamente, inclusive na hora de vender.

            Este escrevinhador, nas horas em que não fotografa, até trabalha como advogado e, lá pelas tantas, uma certa Universidade – a ULBRA, posso dizer o nome, pois o assunto foi devidamente julgado, inventou de usar indevidamente uma foto feita por mim, sem autorização, sem dar os devidos créditos e alterando de colorida para foto em preto-e-branco.
 
                    Fiquei uma arara. Tentei um acordo, não quiseram e tive que entrar com uma ação pedindo uns trocados de indenização por violação de direitos autorais.

            A condenação deles permitiu que comprasse um Kitfox, aviãozinho louco de especial, mas, como não consegui ficar rico até agora, é claro que não poderia ficar com dois ultraleves. Restava, então, vender o Netuno.

            Mas quem diz que se conseguia comprador. Acho que gastei quase metade de seu valor em anúncios, e, nada ...

            Até que surgiu um interessado, coisa de não se desprezar de jeito nenhum. Sabia  lá quando apareceria um outro?

            Dito comprador era um piloto agrícola de Uruguaiana. Estava realmente interessado, tanto que se largou lá da fronteira com a Argentina até Porto Alegre, de ônibus, coisa dumas dez horas de viagem.

            Sábado pela manhã, lá pelas sete horas, toca o telefone. Era o dito, avisando que já estava aguardando, na Rodoviária.  Olho para fora, e vejo a coisa mal parada. Aquela garoazinha típica de inverno,  duradoura na certa, me tirava a possibilidade de fazer o ‘Marimbondo” voar. Todo o mundo sabe, para efetivar a venda, nada como deixar o comprador babando de vontade de poder, em definitivo, gozar as delícias dum bom vôo.

            A pista ficava em Itapuã, a 38 km, sendo que 14 deles em estrada de terra, ruim para mais de metro. Tudo contribuindo para criar um clima de não venda. Imaginem o sujeito entrar numa buraqueira depois de 10 horas de ônibus ...

            Mas agüentou firme os buracos e o barro. Chegamos ao hangar, checamos o ultraleve e, embora garoasse, resolvi, pelo menos, fazer roncar os 2.200 cm3 do motor Volkswagen que, aliado ao tipo de surdina fazia um barulho impactante, parecendo com o de um avião “adulto”.

            E quem diz quer o motor pegava. Ficamos um tempão dando corda, examinando velas,  corda de novo, distribuição, carburador, mais corda e, pegar que era bom ...

            Umas duas horas depois a coisa funcionou.  Aí, para comprovar de que eu realmente falara a verdade ao dizer que aquilo não era normal, era dar hélice apenas uma vez e o bicho roncava bonito.         

                  Pelo andar da carruagem, já dá para ver o que se preparava. Sem mais nem menos começamos a achar que a garoa amainara, que o vento Minuano diminuíra de intensidade, que dava para dar umas corridinhas na pista, por que não?

            E lá nos fomos. Como a pista era do tipo primeira metade em subida e a segunda a descer, não era possível decolar e pousar em frente, pois faltaria espaço para a frenagem.

            Corrida vai, corrida vem, um piloto agrícola, que é classe de gente muito peituda e um ultraleveiro com uma certa bagagem, começou a disputa interior de vaidade. Eu pensava: ‘Se não convido para um vôo, vai ficar achando que sou cagalhão.” Ele, decerto: “Se me convidar aceito, pois se não, me desmoralizo”.

            A disputa de beleza veio à tona:

            - O que tu achas? A garoazinha não dá nada e o vento praticamente parou.

            Realmente, naquele exato momento houvera uma calmaria.

            - Estou por ti. Tu é que sabes o que dá para fazer com o Netuno.

-       Então vamos nessa.

            A corrida e a decolagem foram tranqüilas, mas quando saímos da “sombra” dumas figueiras e outras árvores o pau quebrou. O vento que parecia quase parado lá embaixo, no alto era  uma tormenta. Era um tal de sacode, joga prá cima, atira prá baixo, empurra de lado, derruba uma asa, que não sei como consegui manter o controle.

            “Mas onde é que eu estava com a cabeça? Me jogar numa garoa com vento que nem essa? E ainda por cima com um co-piloto? Se só quebrar o avião no pouso, estou num baita lucro, isto é se tiver pouso ...”

            Que sinuca de bico: se ficava baixo, pegava a turbulência do terreno e da vegetação, se subia um pouco o vento era aterrorizante. O jeito foi ir até um meio termo, onde desse para tentar uma curva. Chegando à altitude que julguei adequada, esperei um momento de relativa calmaria, desses que quase sempre vem depois duma turbulência forte, cedi o manche para ter um pouco mais de velocidade, pois quando pegasse o través e o vento pela cauda, o velocímetro cairia um monte.

            E dê-lhe berrar:
            - Fica tranqüilo que está tudo sob controle!

            Só o vento e a garoa acreditavam ...

            Veio o momento crucial da curva. Fiz com a maior derrapagem possível, que, com um ventão daqueles, oferecer a asa era um brinde às funerárias. Chegou a fase da transição em que o vento, antes de proa vai mudando pro través e, finalmente, para a cauda. Em quanto cairia a velocidade? Haveria sustentação suficiente? O coração na boca, pé e mão trabalhando freneticamente para manter o ultraleve voando. Chegou o famigerado vento de cauda, velocidade caiu, mergulhamos um pouco, mas nos mantivemos em vôo.

            - Isto é normal. Já peguei coisa muito pior – menti descaradamente.

            A aproximação prometia uma turbulência de respeito. Inicialmente pegava-se um coxilha com uns pinus no alto, depois uma descida cheia de coqueiros e, lá embaixo, muito lá embaixo, começava a pista, em elevação até a primeira metade, depois descida. Ou se pousava antes da metade inicial  ou ..., isto em circunstâncias normais ...

            Com aquela turbulência toda não dava para entrar lento, arriscando a perder os comandos. Entrar veloz significava alto risco de não parar antes da cabeceira oposta, que era um aterro duns três metros seguido dum descidão, quase pirambeira, destruição certa do avião e muitas chances de quebraduras ou pijama-de-madeira.

            Decisão: entro veloz, atiro-o na pista assim que passar a maldita cerca, tento frear, caso não consiga segurar normalmente, cavalo–de-pau e seja o que tiver que ser.

            E nos viemos.

            De tanto manche e pé, já nem batia ‘schimmier’, fazia gemada.

            O co-piloto com uns olhos que eram uns patacões.           

            Nunca menti tanto em tão pouco tempo:

            - Fica frio. Já pousei aqui em tempo pior.

            Passamos ‘pinus’, coqueiros, cerca, chegou a pistinha. Joguei no chão o bicho, mas, para  surpresa o toque foi suave e, antes mesmo do topo, estávamos parados.

            Com um ventão daqueles, era evidente que a parada seria curta assim que tirasse o motor. Agora é facil chegar a essa conclusão elementar, mas na hora do pavor, atento principalmente à necessidade vital de se manter voando, não dá para fazer muitos cálculos, dá?

            Sentindo que  apavorara o comprador, tentei remendar com comentários do tipo:

            - Com uma garoa e um Minuano desses a gente nunca voa de ultraleve: fica nos pelegos com a prenda ou tomando um mate no galpão, proseando, jogando carta, essas coisas. Ultraleve é para dia calmo, sem vento, pela manhã, quando ainda não há térmicas.

            - Bah, tchê, me apavorei com o quanto vocês têm que usar os comandos. Não paraste um minuto.

            - Com um vento desses, primeiramente tu não voarias nem um Ipanemão .  Em segundo lugar, se voasses, trabalharias quase a mesma coisa.

            Mas não teve jeito.

            Além de não vender o Netuno, acho que espantei um futuro ultraleveiro para todo o sempre.


 Ah, o tal piloto ex-interessado era e é o Luques.  Embora tenha levado aquele susto, acabou comprando outros aviões leves. Agora possui um Águia - que é  a cópia brasileira do Kitfox.                          

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Acidente com Avião Agrícola Deixa Entusiasta da Aviação Leve Gravemente Ferido

  Moacir Moro, de 52 anos, morador de São Pedro do Sul, RS,  sofreu um grave acidente na tarde da última quinta, dia 1º de fevereiro.
   Segundo informações de populares, o  Cessna AG-Truck, caiu logo após a decolagem, numa lavoura de arroz próxima à pista.
   Moro encontra-se hospitalizado em Santa Maria e seu estado de saúde preocupa, mas as possibilidades de recuperação são grandes.
   Estamos numa corrente de torcida pela vitória do Moro, nesta luta.
   Houve ferimentos na face, pneumotórax sofreu drenagem, lesão na coluna vertebral e, no momento, está em coma induzido. Houve tentativa de tirá-lo do coma, mas, como estava muito agitado, houve nova sedação. Seu estado continua estável, o que é uma boa notícia. 
  Seu ajudante, Clóvis Dornelles da Silva, 47 anos, sofreu ferimentos sem gravidade. 
Álvaro Taschetto / Arquivo Pessoal 
A foto é de Álvaro Taschetto - publicada em Gaúcha ZH

   Moro é grande entusiasta da aviação leve e, embora profissional experiente na aviação agrícola, sempre que possível fazia seus voos em aviões experimentais ou ultraleves. 
   A comunidade aeronáutica está torcendo pela sua recuperação e volta aos voos.
   Quem quiser acompanhar a evolução da vitória do Moro pode entrar no whatsapp - Grupo Hangar Gaúcho.

   Estamos precisando de doação de sangue para o Moro, no Hospital de Caridade de Santa Maria, a partir das oito horas de segunda. Horário para doação - 8 às 14 h.
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   Força, Índio Velho! Tu vais sair dessa! Com tanta gente torcendo a recuperação virá!
  As três últimas fotos são do perfil do Moacir no Facebook.
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