domingo, 25 de outubro de 2020

Pista Seletiva para Automobilismo

    A Fórmula 1 destes últimos tempos está ficando ruim de se assistir. É um tal de Lewis Hamilton abrir na frente, ni guém passar e estamos conversados. Quase não se via ultrapassagens, nem na ponta, nem no pelotão intermediário nem no batalhão da merda, lá atrás. 

                     Quando tudo parecia perdido, aparece o Grande Prêmio de Portugal, no circuito de Portimão. E suge a luz no fim do túnel: pelo menos uma vez por ano teremos um GP com emoções.

    E tudo graças ao excelente projeto dum arquiteto ou engenheiro português, que bolou um traçado, tipo tobogã, montanha-russa, liga asfáltica diferente, só pra desafiar a moçada. E botou no chinelo um outro "expert" que vive projetando pistas, todas até seguras, mas monótonas. 

    Mas o "Munuel Juaquim" foi de uma inteligência incontestável. Projetou u a pista segura, mas de um traçado difícil e desafiador.

    Só que há trinta e dois anos, um brasileiro, que não é engenheiro, arquiteto ou algo parecido, mas mero escrevinhador metido a humorista, já tinha em mente um projeto audacioso, como se vê, pelo que foi publicado na edição de 14 de julho de 1988, no jornal "Esportemotor", onde o Vilsom "Lamb-Lambe" Barbosa enchia linguiça e aporrinhava seus cinco leitores.

    E a prova aí está, na Publicidade. No caso, parte do projeto, apenas uma curva, a chamada "Curva Fácil". Imaginem como seriam as outras ...




 Quando minha mãe me chamava de gênio, não é que ela tinha razão? Uma visão futurista que nem Leonardo Da Vinci (e dizem que dava, mesmo) conseguiria superar ... 

São Gabriel - Dia do Aviador

 


Tapado de cerração

Amanheceu por aqui,

Na costa do Toropi.

Primeiro,  meu chimarrão

Depois me fui pro galpão

Adonde guardo o aparelho,

Sempre atendendo ao conselho,

Pra quem a voar começa:

No preparar vá sem pressa

Pra poder morrer de velho!


 

Na semana do Aviador

Se repete, sempre fiel,

Na grande São Gabriel,

A festa que é um primor.

E não é nenhum favor,

Que é das melhores, falar,

Vale a pena o índio voar,

Mesmo de pago distante.

É muito gratificante

Os amigos encontrar!



 

Consultei a "segurança"

"Será que dá pra voar?"

"Tu para de incomodar

E vai logo pra festança.

Te prepara pra lambança

Na hora da tua volta.

A sós, a gente se solta.

Coisa boa é fazer arte.

E tu faz a tua parte:

Aceita e não te revolta!"

 

Fui seguindo minha sina

De piloto, aviador,

Num trote de marchador,

Me fui comprar gasolina

Lá na venda da esquina.

Trouxe, então, pro meu box.

E não há quem não remoce

Conquistando a amplidão,

Inda mais se o avião,

É "crioulo", Kitfox!

 


Foi mermando a cerração.

O céu aos poucos se abrindo.

Aí eu me peguei rindo,

Faceiro de coração.

O voo sai e, então,

Solto o freio, sem barbela

Por que o Céu não tem cancela.

Vou no rumo do churrasco;

Que são bons, não fazem fiasco.

Sempre tá cheia a gamela!

 


Como era meio dia

Na hora da decolagem,

Chacoalhei durante a viagem

E isto ao velho judia.

O esqueleto pedia

Pouso imediato, de pronto.

Quase me paro tonto,

Mas o esforço  não foi  vão:

Pois mal pousei o avião,

A carne ficou no ponto!

 


Boa carne, boia boa,

Chopp e, também, cerveja.

Acho que até carqueja,

Pra não se ficar à toa,

Quando na tripa ecoa

O pedido de banheiro.

E o quera vai mui ligeiro

Se esconder lá nas macegas.

Se limpa e preserva  as pregas

No velho estilo campeiro!

 

Mas nessas horas, lhes digo:

O importante do ritual

É o convívio fraternal;

É o abraço do amigo,

Que nos oferece abrigo

E muita hospitalidade.

E que a grande amizade

Da Terra dos Marechais,

Cresça sempre, mais e mais,

Dure pela eternidade!





O blogueiro Lambe-Lambe, também conhecido como Barbosa, com seus 68 é um guri, perto do seu amigo Jader Dutra, o da direita, possivelmente o piloto mais "experiente" do Brasil, com seus 84 anos, muita vitalidade e amor à aviação.

À esquerda, outro ícone da aviação, Paulo Machado, piloto e construtor de aviões. Esse foi o tal que construiu um avião na garagem de casa e, somente quando ficou pronto, foi que se deu conta de que não tinha porta suficiente. Solução: derrubar parte da parede ... E ele não nega ... 



sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Parodiando Rudyard Kipling - Poema Se

 

Aproveitando o Dia do Aviador, e atendendo à solicitação dos meus cinco leitores, republico a postagem da paródia que fiz do poema "Se" . Pois não é que ficou boa? Até eu me emocionei o relê-la. Nem acreditei que fosse minha, de tão boa.


Se

          Paródia de Vilsom Jair Barbosa (Lambe-Lambe)


Se és capaz de manter a calma em decolagem,

Quando o motor tosse ou simplesmente apaga ,
A Morte chamando pra tua última viagem,
Pela vida lutas,  pra continuar a saga.
Se crês em ti, com todo o mundo  duvidando,
Se és capaz de esperar sem desespero,
Sem pretensão, sabes, vais continuar voando.
Saberás como manter o avião inteiro.

Se és capaz de voar,  sem que só a isso te atires,
De sonhar  com horizontes, céus e amplidões,
De ver CBs e também o Arco-íris,
Viver, sem ser escravo das  emoções.
Se és capaz, de com  a perda de companheiros,
Seguir teus  voos , que a vida também trás morte.
De reviver  o gosto dos solos primeiros,
A dor te fará a cada dia mais forte.

Se és capaz de  tudo para ter  um avião,
Pondo ali tudo o que ganhaste na tua vida,
E uma pane destruir tudo no chão,
Se,  corajoso,  voltas ao ponto de partida
E te dedicas, coração, músculos, tudo,
A perseguir o  sonho de ao voo voltar.
Pode ser  que demore muito, contudo,
Ninguém duvide que ao destino hás de chegar.



Se és capaz de aos manicacas dar valor,
E não se intimidar mesmo quando  junto dos ases,
E a quem precise de ajuda estar ao dispor,
Tu és feliz em tudo o quanto tu fazes.
Se és capaz de no voo, segundo a segundo,
Aproveitar, viver com todo o amor e brilho,
Teu é o Céu e tudo o que existe no mundo
E o que mais importa: és um aviador, meu filho!

Paródia de Vilsom “Lambe-Lambe” Barbosa

domingo, 18 de outubro de 2020

Quase Defunto na Geladeira

 

        

 

         Conforme compromisso firmado entre partes, três leitores e o escrevinhador, fiquei de contar uma outra aprontação do mesmo voo em que fiz o primeiro é único parafuso de minha vida.

         Pois bem, recuperados do cagaço do tal parafuso acidental em que o instrutor nos metera, lá seguimos nós no rumo a Pelotas e Rio Grande.

         Paramos da Princesa do Sul, para uma mijadinha básica e reabastecimento, pois ainda teríamos que ir à região do superporto de Rio Grande fazer  fotos de topo de uma área mais ou menos extensa, isto é, deveríamos ir o mais alto possível.

         No solo tínhamos trinta graus de temperatura, pois era verão. Isso por volta dumas onze horas da manhã.

         Para fazer as tais fotos de topo, o manicaca e retratista bolara um plano infalível: abrir a porta do bagageiro, isto depois de bem amarrado aos cintos da bagagem e uma corda extra, que levara. Aí, era só colocar a cabeça para fora e fazer as tais fotos.

         Só que esquecera do estribo de embarque. O tal ficava bem embaixo da área de visão da câmara. Assim, para fazer as fotos, tinha que estar com a cabeça e a câmara abaixo do estribo desgraçado.

         Confiado na excelente amarração que fizera, não me assustei e dentro do avião ficaram apenas as pernas e um pouco mais, até a região da cintura.

         Todos os ingredientes  para a cacaca.

         Tínhamos subido para doze mil e quinhentos pés. Assim, a temperatura lá estava vinte e cinco graus mais baixa do que no solo. Trinta graus menos vinte e cinco, igual a cinco graus. Acresça-se que o oxigênio lá era bem mais escasso.

         Agora imaginem um sujeito praticamente pendurado pela pernas, com a circulação prejudicada, tomando um vento gelado de 170 km/h no focinho e com pouco oxigênio. Não deu outra: comecei a passar mal.

         Imediatamente tratei de recolher a parte responsável por estes escritos para o conforto da cabine do avião. Mas, quem disse que conseguia me içar de volta para o compartimento da bagagem?

         Ou pelo peso maior do lado externo ou pela fraqueza que começava a dominar-me, já próximo ao desmaio, dei-me conta da realidade: o piloto lá na frente, tendo os assentos traseiros entre nós,comigo fora da cabine, ele nada ouviria se eu pedisse socorro, por certo  o voo ia continuar na maior tranquilidade.

         Até dar-se conta de que algo errado acontecera com o "Lambe-Lambe" Retratista, preciosos minutos ter-se-iam passado.

         E lá estaria o fotógrafo desmaiado e pendurado, com quase todo o sangue na cabeça, tomando um ventão geladíssimo nas ventas.

         Depois dele flagrar-se do acontecido, até perder os doze mil e quinhentos pés e pousarmos em Rio Grande, lá se iriam uns vinte minutos.

         Pensei: "Ou tu dá um jeito de te içar de volta pro avião ou deu pra tua bolinha!"

         Foi como chegar alguém com meio litro de adrenalina pura e  injetar na veia: arranjei forças não sei de onde e, tonto e tudo, consegui ver-me dentro do Tupizinho bendito.

         Não era o dia para a troca de querência: primeiramente por ter-me saído bem dum parafuso acidental sem a mínima experiência com a manobra, apenas papos de hangar e bar; segundamente, por não ter congelado lá em cima, com pouco oxigênio, a uma temperatura enregelante.

         Para terem uma ideia do quanto estava frio, depois de devidamente sentado e amarrado, havendo recobrado o sangue-frio, lembrei-me das fotos a baixa altitude e quis fazê-las.

         E de que jeito, se as lentes estavam tão geladas, que embaçaram externa e internamente? Não adiantava passar um pano macio para limpar o vapor por fora: o problema era interno.

         Tivemos que ficar uns dez minutos voando a uns quinhentos pés, com as câmaras no painel, tomando Sol direto, até se aquecerem e poder fazer as fotos.

         Dez minutos de voo em que via o dinheiro literalmente saindo do meu bolso ...

         E lá estava eu preocupado com o prejuízo?

         Depois das duas aprontações do voo não estava vivinho da Silva?

         Nunca acertei em Mega Sena, Loto, essas coisas. Mas que sou sortudo, isto sou.

domingo, 11 de outubro de 2020

Primeiro e Único Parafuso

 

         Há uma baita polêmica quanto ao treinamento de certas manobras, ditas acrobáticas, por parte dos alunos do Curso de Piloto Privado. Uns acham que todo o aspirante a piloto deveria saber como sair de uma perda ou  de um parafuso. Outros alegam que tais treinamentos para gente inexperiente pode conduzir a erros graves e, em muitos casos, a tragédias. Também argumentam que a maioria das aeronves de nossas escolas e aeroclubes está pela bola sete, dada a falta de renovação dos equipamentos.

         A verdade é que muitos pilotos se formam sem saber como enfrentar um parafuso imprevisto.

         Este escrevinhador já tinha checado o PP há muito, tinha um monte de horas lançadas em CIV e o triplo das horas lançadas como efetiva prática de voo. Isto porque  a grande maioria de suas horas voadas eram anotadas na Caderneta Individual de Voo dos alunos de PC ou, até mesmo PP, que pilotavam o avião enquanto o contador de causos aqui fazia seus retratos aéreos.

         E agora confesso que fiz muitos voos fotográficos, digamos, informais, porque a legislação proíbe o aluguel de aeronaves de aeroclubes ou, até mesmo particulares, não registradas como SAE (Serviços Aéreos Especiais).Faço a confissão somentre agora porque tais infrações foram cometidas há muito tempo, com as penalidades devidamente prescritas.

         Pois naquele dia saí duma determinada entidade aeronáutica da região da Grande Porto Alegre, com destino ao Sul do Estado, mais especificamente às cidades de Pelotas e Rio Grande.

         O guri que foi escalado  estava mais faceiro do que mosca em tampa de xarope. Afinal, ganhar, sem gastar um centavo, umas seis horas de voo, não é loteria em que se acerta todo o santo dia. Não me lembro se era aluno do Comercial ou já Instrutor de Pilotgem Elementar. Qualquer que fosse o caso, era guri com suas cento e poucas horas, não mais do que isso.

         O retratista já era bem mais voado e, embora não tivesse feito Curso de Pilotagem por Instrumento, aproveitava seus constantes voos para praticar, empiricamente, o voo ensacado. E nessa prática, já conseguia voar por um bom tempo, apenas observando bússola, altímetro, inclinômetro e velocímetro. E salientando que isso não é assim, lá uma grande África. Os pilotos antigos muito voavam com menos instrumentos, usando como inclinômetro um simples relógio de bolso pendurado próximo ao parabrisa. E saíam safos de muito tempo fechado.

         Pois esse era um dia propício para o "Lambe-Lambe" praticar seu voo instrumental. Havia cúmulos de tamanho bem indicado para a arte. Formações leves, distribuídas a espaços regulares, que davam, no máximo, entre um e três minutos de voo sem contato visual com o solo.

         Pois bem, como já era craque na manobra, me saí louco de bem nuns quantos voos instrumentais e, é claro, isso mexeu com os brios do dito instrutor ou piloto comercial, que, ao menos teoricamente, deveria ser melhor  do que eu.

         E deu a lógica:

         - Barbosa, posso tentar?

         Meio sestroso, perguntei:

         - Já checaste o IFR?

         - Não, mas se tu que nem o teórico de IFR fizeste, consegues, por que eu não vou conseguir?

         Para não criar clima ruim na cabine, resolvi contemporizar:

         - Tá contigo.

         E, confiado na relativa superioridade do tal piloto, comecei a checar meus equipamentos fotográficos, trocar filmes, etc.

         E estava no meio da troca duma "película sensível" quando sou supreendido com o quase grito apavorado do "comandante":

         - Barbosa, assume!

         Rapazes, para quê? Quando olho pra frente, em vez de ver o horizonte, vejo apenas solo.

         Pior, não é que a terra girava?

         E agora? Eu era mais ou menos treinado em manter o avião em voo normal, mesmo com visibilidade zero, mas nunca vira a terra girando abaixo de mim. Apenas à minha frente, quando exagerara nas biritas ...

         "Então esse é o tal de parafuso para o qual não quiseram me treinar" - pensei.

         E aí as horas de bar me foram de extema valia. Muito ouvi pilotos experientes contando de suas saídas do tal parafuso acidental. Diziam:

         - Soltei o manche, dei pedal contrário até o mundo parar lá embaixo. Aí fui chamando o manche, devagarinho, para nivelar.

         Sempre ouvi falar que entre morrer por inação ou  por tomar alguma atitude, melhor a segunda hipótese,  pois aí há alguma chance de enganar o dono da funerária.

         Bueno: a terra girava para a direita, então, na minha falta de prática, achei que devia dar pedal esquerdo (contrário).

         Aí, sim, o mundo girou.

         "Seu asno" - me xinguei. "Se o solo gira para a direita, o avião está girando para a esquerda, então, pedal direito."

         Dei-lho, como diria o Jânio Quadros.

         "Funcionou-lho".

         Fui chamando com jeito, nivelei o Tupi, parei de tremer, sequei o suor e propus ao sujeito que nos levara para aquilo um acordo de cavalheiros:

         - Que tal um voo padrão até estarmos sãos e salvos, na base, hoje à tarde?

         Mas cachorro comedor de ovelha, só matando: naquele mesmo voo ainda aprontei uma outra, mas fica para a próxima semana.

sábado, 3 de outubro de 2020

Dicas Infalíveis para Estressamento de Pilotos

Dicas Infalíveis para Estressamento de Pilotos

 

         Se você está tranquilo, fazendo voos prazerosos, sem cagaços, com atmosfera estável, não há por que continuar com essa rotina cansativa e monótona. Tenho a solução garantida para você conseguir tirar do sério até o último dos seus acomodados nervos.

         Realmente, "tudo o que é demais é excessivo", como dizia o Millôr Fernandes. Aquela repetição chata e previsível de voos calmos, com os comandos respondendo suave e firmemente, aquela certeza de um pouso manteiga no final, isso tudo deixa um piloto sedento de adrenalina, agitação e novidades. Então, por que não ler isto até o final e descobrir como fugir dessa vidinha acomodada e sem graça?

         Dá para conseguir seu objetivo sem grandes gastos, ou com pequeníssimos desembolsos.

         É simples:

         Basta você inserir um anúncio de venda de um aviãozinho qualquer. Pronto, você conseguiu incomodação para ninguém botar defeito.

         Parece piranha esperando banhista descuidado. Você nem deu o enter no anúncio e já tem alguém ligando, mandando e-mail, mensagem de whats, no Face, Instagram, etc. e tal.

         Um quer saber "quantos quilos levanta"?

         Para esse eu respondi que não ser tratava de halterofilista, mas de avião ...

         Aí, você, para evitar desperdício de tempo, elabora um trabalho exaustivo, onde fornece informações completas, até mais detalhadas do que as do Manual da aeronave e envia prum outro infeliz. Pode ter certeza de que a resposta será: "pode fornecer maiores detalhes?"

         Ah, importantíssimo: todos os compradores de avião são sujeitos falidos, moradores de rua, fracassados até a raiz dos cabelos, pois sempre quererão saber quantos quilòmetros faz por litro. Isso mesmo, quilômetros por litro, não litros por hora ... E, mesmo que fossem os km/h de consumo, quem lê o anúncio e vê, por exemplo, que o motor é um Rotax 912, se entende um pentelhésimo de aviação, saberá mais ou menos qual é o consumo.  Isso é sinal de que o sujeito é um daqueles que não entende bulhufas do ramo.

         Ah, também surgirão os que tem a absoluta certeza de que você nasceu com apenas dois neurônios e que o Teco já queimou, restando apenas um. Esses farão a proposta parecida com a que eu recebi:

         - Amigo, comprei uma célula completa dum Kitfox, mas estou em dificuldades para conseguir o motor. Que achas de eu te entregar a célula e mais a diferença?

         Os sujeitos fazem a burrada e querem que tu consertes o erro. Além de burro, querem que a gente assine a declaração de otário ...

         E prepare seu coração para as propostas de troca.

         Eles são sorrateiros. Começam com uma inocente pergunta: aceita troca?

         Não cometa a asneira de responder que, em princípio, não.  Se você fizer isto, está perdido. Aí virão as propostas que tirariam até o patriarca Jó, aquele da Bíblia, tido como o mais paciencioso sujeito de todos os tempos, do sério.

         - Tenho um painel de LED para oferecer na troca! ...

         O que um piloto vai fazer com um painel de LED? Instalar um programa para simular voos em grande escala? Avisar os colegas qual a pista em uso? Contatar índios em resposta a sinais de fumaça? Mandar um recado amoroso para a mãe  ... da lavadeira  do tio  do caseiro que cuida da pista?

         Troca por automóvel, então, uma gracinha:

         - Tenho uma Mercedes, ano 2013, 91.000 km, zerinho, impecável, e mais um monte de abobrinhas de duas páginas, falando inutilidades sobre a tal Mercedes que ele quer dar em troca, taco a taco. Aí você vai na tabela Fipe e a tal Mercedes não vale, sequer, a metade do teco anunciado.

         E troca por outro avião? Beleza de propostas:

         - Tenho um Ximango, motor Lymbach (Volks de gravata).

         Agora eu pergunto: quem quer saber duma traquitana dessas, hoje em dia? Ainda se fosse com um motor caro como o Rotax 912 em diante, até seria analisável, apenas pelo valor da propulsão, não do trambolho completo.

         Um outro queria que eu aceitasse um Cessna 310 ou Sêneca. Ora, a troco de que um piloto de ultraleve, que voa poer lazer,  vai querer um avião executivo que vale várias vezes mais?

         E os infalíveis pedidos de mais fotos, então:

         - Tem fotos mais nítidas do interior?

         Isso mesmo que você tenha fotografado em 24 megapixels.

         - Tem vídeos dele voando, além dos já enviados?

         Sugestão de resposta: tenho, um do voo que fiz para levar à pqp um outro que ficou me enchendo o saco.

         Ainda não se estressou? Quer que eu continue a listinha? Dá para passar a tarde de sábado e o domingo inteiros contando histórias.

         E eu venho há meses aturando isso ...

         Bem, já viram que consegui o estresse e, como sou amigo de todos vocês, indico o procedimento como absolutamente confiável.

         Atenção futuros compradores, eventualmente interessados no meu Kitfox:  atingi o patamar da tolerância zero.

         Sempre terei uma resposta imbecil para uma pergunta idiota ...