domingo, 29 de abril de 2012

Andanças e fotos

Na terra dos Marechais, no hangar da Grifo Aviação, do Leonardo, andei fotografando umas paredes ...

Não pude esclarecer direito, mas pelas características do público, este deve ser um dos primeiros aviões a andar por São Gabriel.  Atenção para o detalhe da "bequilha" e do gaudério de roupa branca ou quase,pois a bombacha devia ser cinza. Que foi em plagos gaúchos, ah, isto foi.



Um visitante que esteve por lá, no mm.dia em que o Lambe-Lambe.

Tenho ou não tenho motivos para trocar o escritório de advocacia pela foto aérea?

Andar por este Rio Grande tão bonito, conseguir estas fotos, fazer novas amizades e ganhar mais conhecimento aeronáutico será que não é melhor do que redigir petições, agravos, recursos?
Eu acho que é ...

domingo, 22 de abril de 2012

domingo, 15 de abril de 2012

   Voar é vida.

   Voar é a vida em sua mais elevada dimensão.

   É deixar lá embaixo todas as picuinhas do dia a dia e isolar-se no contato único com a amplidão do horizonte, o riscar de um caminho que será percorrido apenas desta vez e por mais ninguém.

   Seguir o próprio nariz ou o do avião é privilégio exclusivo dessa minoria que somos nós, pilotos.

   Mas isso não nos contenta: queremos mais, muito mais. Se somos privilegiados, queremos gozar ao extremo, bem no limite, esse privilégio. Não nos basta cruzar as alturas: temos que desafiar a física, a natureza, nossas limitações. E esse assumir  riscos tem seu preço, que, infelizmente não avaliamos direito.

   Se um piloto de automobilismo chega perto do limite, ao errar, quase sempre escapará. Em aviação é o contrário: no erro, dificilmente escaparemos. Mas não nos damos conta e cutucamos a cobra com vara curta. Muitas vezes o bote nos pega.

   O piloto que nunca aprontou está por nascer. O piloto que sempre aprontou está por morrer, essa é a verdade. Infelizmente muitos aprontaram um única vez. Outros têm mais do que sete vidas. Mas o estoque um dia termina.

   Quando um carrão top dá pane, o motorista simplesmente pára no acostamento, aperta um botão e dali a pouco o guincho o resgata. Ainda não surgiu avião assim...

   Apesar da imensa evolução de equipamentos, voar ainda é arriscado. Assim, não por que acrescentarmos outros riscos além dos que já vêm no pacote original?

   Não há como condenar os que buscam emoções. Mas antes de buscarmos, avaliemos bem se vale realmente a pena. Quem sabe um pouco menos de emoção imediata, para compensarmos com muitas emoções futuras, embora nem tão radicais e fortes.

   Há duas semanas foi para voos mais altos o Zé, de Araranguá.

   Em 1997, quando precisei de apoio no sul catarinense, ele foi incansável. Deu um jeito de reacomodar os ultraleves no hangar e hospedar o Netuno "Marimbondo".

   Até houve um temporal que derrubou uma porta sobre o seu ultraleve, danificando um pouco o mesmo, mas, se não fosse por haver trocado de posição, por causa do Netuno, nada teria acontecido.

   Prontifiquei-me a ajudar no prejuízo, mas não aceitou. Segundo ele, fora fatalidade. Não fora eu o mandante do temporal.

   Não sei realmente o que causou sua morte prematura, mas, segundo li, estava voando a baixa altura. E quem não houve o canto dessa sereia, de vez em quando? Infelizmente algo deu errado.

   A gente se entristece quando amigos se vão. Mas não esqueçamos que também perdemos amigos no trânsito, por infartos, por outras doenças e fatalidades.

   Os amigos que perdemos voando, sabemos que partiram em momentos felizes e onde quer que andem carregarão sempre a lembrança desta felicidade.

   Neste final de semana mais mortes.

   A ceifeira deu uma trégua nos dois últimos anos, mas parece que voltou com vontade em 2012.

   A nós que ficamos, resta não darmos mais chance ao azar (nome supersticioso de possibilidade estatística). "Tanto o rato vai ao moinho, que um dia deixa o focinho".

   Vamos deixar o moinho de lado e procurar lugares mais interessantes.

   Nietzke, que não era piloto, já dizia "Viver é muito perigoso".

   Como filósofo estava coberto de razão. Viver é tão perigoso, que ninguém escapa da morte. Mas dá para a gente ir empurrando com a barriga o final encontro.

   Vamos ficar com as emoções mais suaves, mais doces, mais ternas. Num voo dá para consegui-las.

   As radicais, vamos deixando para depois.

   Piloto louco fica famoso. Fica respeitado. Fica invejado.

   Quase nunca fica velho.

   Aos que se foram um pouco antes, torcemos para que seus últimos momentos tenham sido de muita realização e felicidade. E que esta seja a sensação que os acompanhe durante toda a nova jornada.
Nesta semana, senti a paz dum voo tranquilo sobre o rio Ibicuí.

Felizmente estamos sobre o aquífero Guarani e este Rio Grande é cortado por muita sanga e rio.


  

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Quem achar que essa é a Chácara e Pista do Nédio, acertou.

O desinfeliz inventou de fazer um encontro justo nuns dias em que o Lambe-Lambe estava até o pescoço de trabalho. Resolvendo assuntos em Porto Alegre e com o flete Kitfox em Uruguaiana. Fiz de tudo para ir, mas não deu. Ou ia na festa ou amansava os primeiros da fila de cobradores ...

O de camisa de cornão (cor sim, cor não - listrada) ou de presidiário é o anfitrião Nédio com uma turma de desocupados, tipo Lima, Ademir, Guidotti, Diego, gente de Cachoeira, Cruz Alta. A única coisa a lamentar é que em encontro de aviação, aparecem duzentos barbados e apenas uma ou duas prendas ...

O hangar que o homem tem lá dá para abrigar todas as aeronaves da FAB. Uma pena que esteja ocioso.

Alguns dos tecos que foram aproveitar o excelente dia e a melhor recepção. Quem já foi lá, sabe que o homem recebe muito bem os amigos. Tchê, fiquei muito chateado por não ir, mas que na próxima vou, ah, isto vou, nem que deixe os cobradores a ver navios, ou seriam aviões ...

domingo, 1 de abril de 2012

Um Voo Histórico



Mal o Polaco estufara o peito, batera as asas e dera a primeira clarinada de saudação ao novo dia, estava já o Deoclécio sentado num cepo, sorvendo um amargo, com erva das mais fortes da Palmeira, bombeando o fogo e resmungando consigo e com o cusco:

                - Tchê, Ventania, hoje bamo amostrá  praqueles bundamol o que é um gaúcho de serventia.

Isto falava, porque  tinha um plano traçado . Bem traçado e infalível, que nem os do Cebolinha e Cascão contra a Mônica.

- Termino o mate, pito um palhero dos bueno, adespoi tomo uma caneca de café com um resto da oveia de onte e to pronto pro desafio. E tu não te fresqueia de me atrapaiá nos planejado.

Feito os alimentamentos, lá estava o peão num trote em riba da égua Xuxa, assobiando de novo o “Canto Alegretense”, música preferida quando estava por se envolver em alguma cosa arriscada.

O  Ventania, meio por perto, chuleando alguma caça - sorro, pereá, mulita, qualquer cosa de sustança.

Pros lados de Rosário a barra do dia avermelhava o horizonte e o peão vibrava de contentamento, que nem guri que acertou a bodocada.

De vereda estavam na várzea, onde uma nesga de cerração meio que contornava o mato da sanga.

- Só o que me falta. Uma baita librina. Aí se vai tudo rio abaixo ...

“Eles vão ver, pensava. Acham que sou um bocó, de não prestar atenção pras coisas.”

O imponente Ipanemão, uma das últimas aquisições do seu Ponciano, tapado de sereno, era um desafio. Mais de trezentos cavalos prontos a disparar na cancha reta que era a pista de 600 metros, bem larga e nivelada, sem obstáculos nas cabeceiras e com laterais limpas.

“Numa pista dessas até guri que não desmamou sai voando.”

Pelo andar da carruagem, já podem ter ideia do que se aproxima.

Como todos sabem , piloto e equipe agrícola são bichos por demais madrugadores e, antes do Sol nascido já estão a postos. Assim, se o peão queria, mesmo, voar, tinha que ser meio a rumo, antes dos outros chegarem, no lusco-fusco do amanhecer.

Por ser lugar retirado, de difícil acesso, onde ninguém ia, o piloto seguido deixava a chave no painel ou, na melhor das hipóteses, pendurava numa sobra de arame, meio escondida no oco dum moirão, cavado por um pica-pau.

Era praticamente noite             ainda e o rugir do motor acordou gente e bichos em toda a volta, coisa de légua.

Na fazenda, o pessoal achou que era o piloto. O piloto pensou que fora a equipe de apoio e o Deoclécio pensou que era isso mesmo que ele queria que eles pensassem.

Voará o gaudério? Destruirá o Ipanema do patrão? Morrerá junto com seu sonho de voar?

Não percam os próximos capítulos de “Aquela Estampa”, que acaba de iniciar, como dizem os apresentadores da Globo. Acaba de iniciar ... E eu é que sou burro ...