sábado, 27 de agosto de 2011

Relembrando a "Legalidade"

   Nesta semana completam-se os 50 anos da Legalidade. Aproveito a oportunidade e publico uma história sobre minha experiência de piá de nove anos com aquele movimento de patriotismo e cidadania, coisa bem típica da gauchada, que não aceita ser pisada nos calos assim, no mais. Faz parte do livro Lembranças de Guri, do qual ainda tenho expmplares para vender por vinte pilas.


LEGALIDADE

De repente o Jânio Quadros resolveu deixar a sua vassoura de lado e, disparando das "forças ocultas", renunciou.

Armou-se um baita reboliço. Assume o vice-presidente Jango, não assume, quando nos demos por conta, o Rio Grande estava mais uma vez pegando em armas para dar uma lição de patriotismo e democracia.

O homem não era o vice-presidente? E quem deve assumir quando o presidente renuncia? O vice, é claro. Então, tinha que assumir o Jango e pronto.

Ah, não queriam que assumisse por bem? Então assumiria por mal.

E já tinha taura relembrando os tempos antigos, louco da silva para dar uns tirinhos campo a fora e matar uns paisanos ou milicos, se preciso fosse, para cumprir a lei e a constituição.

O único rádio das redondezas era o da Vó. Durante o dia era um tal de chegar guri de recados, para saber da situação, que o Dudu nem tinha tempo de parar de acoar nuns e já outros apareciam.

À noite vinham os grandes, mesmo. Todo o mundo em roda do rádio, cada qual querendo chegar mais perto e ficar em posição onde pudesse vê-lo o mais de frente possível. Devia ser uma atitude premonitória à chegada da televisão ...

O locutor com voz dramática começava enumerando as rádios que estavam na famosa "Cadeia da Legalidade". Aquela enumeração longa, de todas as emissoras só servia para dar mais tensão ao momento. Com os nervos à flor da pele começávamos a ouvir as notícias.

Tal exército estava de nosso lado, o comando de outro ainda não tomara uma decisão. No Palácio Piratini estavam erguidas barricadas e sacos de areia colocados em todas as aberturas.

O Rio Grande lutaria até o último homem, mas a lei seria cumprida.

Alguns tinham parentes no quartel e estas pessoas eram as mais preocupadas. Nós, os da casa estávamos preocupados com o pai e a mãe, que andavam vendendo livros para as bandas de Cacequi. Um ou dois dias depois apareceram, mas restava o problema com os manos Paulo e Maria que estavam estudando em Taquara, no internato adventista. Aí o pai resolveu que iria buscá-los. Foram dias de muita expectativa. E se a revolução estourasse justo agora, com eles viajando? Demorou, mas conseguiram chegar sãos e salvos.

Quem ficou muito impressionado com a Legalidade foi o Irineu. Pelo fato de ser surdo, não conseguia acompanhar as notícias diretamente. As pessoas tinham que fazê-lo entender as coisas por senhas. Agora, imaginem o que aconteceu: gente simples tentando transmitir notícias políticas e militares a um surdo, por sinais. Infelizmente ele acabou interpretando que a coisa estava muito mais preta do que na realidade.

Um belo dia alguém passou ao lado da casa dele, coisa de uns cinquenta metros e se depara com uma toca de tatu um tanto estranha. Foi olhar melhor e vê, surpreso, que ali estava sendo construída uma galeria subterrânea.

Acontece que toda a terra que o Irineu tirava do interior, ficava amontoada ao lado da entrada, no alto da coxilha, bem à vista. Aquele baita monte de terra denunciava o esconderijo a léguas.

As escavações seguiam num ritmo acelerado pois a situação estava preteando.

Quando a toca já estava espaçosa o suficiente, sem mais nem menos, a terra desapareceu misteriosamente.

Veio a explicação:

Por senhas mostrou que jogara a terra dentro do açude e que, se alguém viesse buscá-lo para a guerra ou, pior ainda, diretamente para a degola, como nas antigas revoluções, não o encontrando em casa, iria procurá-lo lá pelos matos da Restinga, pelos cerros da região, nunca no alto da coxilha, bem ao lado da casa.

E por sinais, completava:

"Que não ouvia, que não falava, mas que burro, ah, isso não era, mesmo. Alguém via orelhas compridas nele?

domingo, 21 de agosto de 2011

Encontro de Cruz Alta - por Leomar Alves

   Conforme já falado o Lambe-Lambe está com problemas de DNA (Data de Nascimento Antiga) e teve que dar umas consertadas em dobradiças do pé. Infelizmente ainda não foi desta vez que deu para ir a Cruz Alta. E olha que quase dá para ir de a pé ou de a cavalo , de tão perto.

   Mas o Leomar Alves esteve lá e colaborou com estas belíssimas fotos.

   Leomar: fui obrigado a fazer cortes, para diminuir o peso dos arquivos.
 
   Todos agradecemos a colaboração do excelente repórter fotográfico.






sábado, 20 de agosto de 2011

Encontro de Cruz Alta

   Mais uma vez não pude ir até Cruz Alta, embora esteja relativamente perto, coisa duns 50 minutos.
   Acontece que andei enfrentando problemas de umidade (uma idade avançada) e uma dobradiça, a principal do dedão do pé esquerdo,  teve que sofrer umas esmerilhadas, recortes, parafusações, etc. Estou no solo por uns dias.
   Se o Diego ou alguém quiser enviar fotos ou noitícias, publicarei imediatamente no blog.
   Um abraço e votos de sucesso no evento e que ninguém "fique entanguido" com esse baita frio, como diria o peão Deoclécio.



O Rato e o Moinho

Era ainda criança e ouvia os antigos falando muito sobre o rato que tanto ia ao moinho que um dia deixava o focinho...

Em aviação a coisa é meio parecida. O fato de uma, duas, algumas ou muitas vezes, algo dar certo não é garantia de que sempre vá dar certo.

Acontece com os afoitos: vão aprontando, aprontando, cada vez mais querendo maior emoção e despertar mais admiração e respeito. Vão se aproximando da linha do limite. Cada vez mais perto, mais perto, até que conseguem andar exatamente sobre a linha.

É a realização suprema. Saber que dali ninguém passou. Ser admirado pela coragem e competência.

"Se ontem deu certo, hoje dará e amanhã, mais ainda, porque já tenho experiência" , pensa o corajoso.

Dê-lhe repetir as proezas.

Infelizmente não preciso terminar, pois todos sabem o que acaba acontecendo.

Se a escolha é: decolo com segurança ou decolo com 99% de segurança, acho bom não provocar o 1%. Bichinho desgraçado de vingativo. Normalmente acaba derrotando os outros 99. E solito ...

Todos conhecem a Lei de Murphy: Se pode dar errado, vai dar errado.

É pior do que a Lei da Gravidade: nunca falha.

Já fiz cagada de todo o tipo e qualidade e, felizmente, escapei. Agora, até por uma questão de mera estatística, meço as consequências. Em termos de pane que me levou ao solo, já tive seis e saí na vertical em todas e com a ossamenta nos encaixes. Sortudo, dirão alguns. É, concordo. Mas pergunto: alguém sabe qual a minha cota de sorte. Será que já não entrei na cota da próxima encarnação? Como não tenho a resposta, acho melhor não provocar a coatiara com varinha curta ...

Aplicando isso ao caso dos Motores Rotax voando em temperaturas baixas, fico na dúvida. Já enfrentei umas tossezinhas no Kitfox, em pleno vôo de cruzeiro.

Sei que teve gente que sobrevoou os Andes e nada ocorreu, mesmo sem ar quente para o carburador. Que bom. Mas, e quem garante que a configuração de tomadas de ar, posição do carburador, etc., seja idêntica à de outras aeronaves. E as condições de clima. Gelo em ar seco ou com pouca umidade é muito difícil de ocorrer. Frio e umidade alta: ai, ai, ai ...

Um amigo meu, oficial da Aeronáutica, certa ocasião voando em avião pequeno, a pistão, lá pelas bandas de Cascavel, com frio de rachar, conta que entre tantos problemas enfrentados, houve até o rompimento da bateria, cujo líquido congelou, dilatando-se. Parece que não houve congelamento do carburador, mas ele tinha ar quente.

Mas, analisemos, mesmo em situação de temperatura elevada, o pé do carburador e a admissão, sempre estão "geladinhos", por causa da velocidade com que o ar/mistura passa por ali. Transportemos o ar já em temperatura baixíssima (negativa) diminuindo ainda mais com o fluxo acelerado. Só não congela se a umidade for muito baixa ou houver alguma forma de neutralizar essa queda violenta de temperatura (pode ser o próprio calor do motor, ar da mufla, etc.). Mas, se não houver algum mecanismo de compensação, mesmo que não projetado, vai dar cacaca.

Já falei de minhas experiências. Enfrentei gelo em motor Volkswagen e Rotax, sem aquecimento. Consegui solucionar, improvisando com tecnologia de ponta ... Ponta de mangueira, ponta de arame, ponta de tubo de cola ...

Estou quase na idade sex.

Mais um ano e viro sex ... agenário. Como velho (e não me venham com chorumelas de melhor idade, eu, que sempre fui friorento, cada vez sinto mais frio. Assim, velho friorento voando a baixas temperaturas, com risco de congelar carburador, pé, mão, etc. ..., o melhor é ficar no bem-bom dum foguinho de galpão, fogo na lareira das casas, ao redor da china velha, tomando um vinho marca diabo ou só esquentando as mãos, as juntas duras e as partes moles ...

Realmente, até porque não sou obrigado a voar - em dias muito frios, arrumo outra coisa para fazer. Se não consigo distração, me tapo até as orelhas, até o frio passar.
E mais não escrevo, porque estou com os dedos endurecidos ...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Congelamento de Carburador

   O Medeiros falou no Forum da ABUL que pretende fazer um vôo onde as temperaturas estarão abaixo de zero e gostaria de saber dos riscos de congelamento. Respondo: grandes, grandes. Ainda mais se tratando de carburador à frente do motor. Há pouco tempo contei o "causo" de um vôo no Kitfox, com motor Rotax 912, carburador atrás do motor e, adivinhem: lá pelas tantas o motor deu uma tossida. E a temperatura era algo ao redor de 5 graus. Dei um jeito de descer com muita suavidade para pegar o ar mais  quente em menor altitude,   e voei mais quarenta minutos com o coração na boca. Lembre-se: não é apenas a temperatura que forma o gelo, mas a combinação de baixa temperatura com umidade.

   O meu palpite é de que instale uma mufla e teste muito bem nos arredores de uma pista, por um longo tempo. Somente depois arrisque. Sem aquecimento, eu, pessoalmente, não enfrentaria temperaturas negativas. Aliás, temperatura ao redor de cinco, quatro graus já é arriscada. Lembre-se de que a água tem temperatura específica menor do que o ar. E o fluxo passando com velocidade na "goela" do carburador, também diminui a tal temperatura. Andei escrevinhando no blog sobre isto. Acho que o título da matéria é "Sinuca de Bico", pois já detonei o 15 BIS por super-aquecimento e quase fui para o chão por congelamento, uma legítima "sinuca de bico". Coisas de quem mora em zona de clima louco, como o nosso, no RS, onde, no verão a temperatura supera 40 graus e no inverno vira negativa.

   Também enfrentei congelamento no Netuno, com motor Volks. Neste eu improvisei uma mufla e nunca mais tive problemas. Foi assim: coloquei uma mangueira metálica flexível na parte traseira do motor, captando o ar quente que ia diretamente para o carburador. Não tinha abertura e fechamento em vôo. Já decolava com ar quente nos dias frios. Perdia um pouco de potência, mas não toda a potência ...

   No 15 BIS, com motor Volks, a mangueira de óleo passava por dentro do cano da admissão, com dupla utilidade: resfriar o óleo e aquecer a admissão e o pé do carburador.

   Resumindo: minha opinião é pelo não voar em baixas temperatura sem aquecimento do ar.

   Em questões de segurança, nos casos de dúvida, não arrisque.



  

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Deoclécio, o Peão Voador - No Rumo do Banco






   De fato: na sexta-feira, ainda escuro, com uma geada que branqueava mesmo naquele breu, de tão forte, lá se iam Corredor dos Correia a fora, o Ventania, troteando em três patas por causa do geadão, a égua Xuxa, com o cavaleiro e futuro piloto de aparelho Deoclécio, até com as mãos cobertas por um poncho dos bons, fabricação antiga, dos que aguentam chuva e mais chuva, sem passar uma gota dágua.

   O Ventania continuava encafifado com aquele enloucamento de sair no escuro, sem destino de campo, mas pela estrada, numa friagem de renguear cusco e até cachorro de serventia que nem ele próprio. " Hay que ser cosa da maior importância" pensou o guaipeca, entreverando português com espanhol, que naquela região até os bichos são poliglotas, mesmo em pensamento.

   E prosseguiu dando tratos à bola: "Carência de china no hay de ser pero que desde que conquistou aquela finória do povo, lá nas aulas de Aparelho, pelo menos uma vez por semana o peão descarrega as ansiedades ... Que havera de ser, então?"

   "Bueno, ele é humano e eu sou bicho. Cada um no seu cada qual. Ele que se ajeite com os seus assuntos que eu vou para os meus. Bem que poderia aparecer um sorro comedor de borrego para eu dar uma treinadinha nas caçadas. Mas com esse frio, acho meio dificultoso o acontecimento. O jeito é continuar troteando em cima desta geada que congela as patas e as pernas de qualquer vivente. Ele no bem-bom, com um poncho e eu, de em pelo, cara para o frio. Depois a gente inventa de refugar as jornadas e eles não sabem porque ..."

   "A que horas será que abre o banco? Quero ser o primeiro a entrar. Se o gerente for turco, vai ser obrigado a me dar financiamento. Dizem que essa gente não pode perder o primeiro negócio de jeito nenhum. Chego sem rodeios e lasco: - Careço de trinta mil para o Curso de Apareio. De garantia le dou minha palavra, a Xuxa e os meus rendimento como capataz na Fazenda do seu Ponciano, que o senhor muito bem conhece. Numa volta, ele próprio até pode avalizar. E não me venha com essas frescura de estar acima do limite, de não ter competência para essa operação. Bamo pará com esse negócio de banco só dá pila pra quem não carece. Ou financiam meu Curso de Apareio ou espaio por toda a frontera aquela história do financiamento da lavora do castelhano aquele, que pegou os troco e sumiu no mundo. Dizem que a D. Dilma tá querendo fazê uma limpeza nas maracutaia. É meu Curso financiado contra sua continuação como gerente. E le adianto, não me paro assustado pra macho nenhum. Adonde é que eu assino o contrato?"

   Essa era a prosa costurada para o seu pedido de empréstimo. Estava tudo gravado na mente. Nem era preciso ir pensando nisso.

   Agarrou, então, a assobiar "Querência Amada".

   Num tapa e as três léguas até a cidade estavam vencidas.

   Nem bem clareara o dia o peão estava justo confrontando com o bolicho do Anacleto. Este ainda não abrira o estabelecimento. Sequer a folha superior da porta, que era usada para os atendimentos de emergência, tal como palha, fumo em corda, açúcar, café, etc., fora destrancada. A parte inferior só era aberta lá pelas dez da manhã, quando, aí, sim, era permitida a entrada de fregueses de mantimentos e os de líquidos, especialmente canha, daquela que matou o guarda.

   Uma fumacinha saía pelas frestas do galpão, sinal de que o Anacleto já estava, como de costume, chimarreando e organizando as ideias para arrumar um jeito de pôr mais água na cachaça, sem que os mamaus se dessem conta.

   Como era amigo do homem, gritou "Ô de casa, sou eu, o Deoclécio" e foi abrindo a porta de folha de zinco.

   - Buenos dias! Como le vão as cosa? E os de casa? Mas que baita geadão!

   - Se levando, se levando. Ainda que mal pergunte, que bicho le mordeu pra já estar por aqui, nestas hora e com essa baita friagem? E a fazenda, o seu Ponciano? Tudo em ordem.

   Cumprimentaram-se ao jeito fronteiriço, tocando as mãos, depois o antebraço e, finalmente apertando levemente aquelas.

   - Bueno, careço de arrumá financiamento pro meu Curso de Apareio e vim falá com o gerente do banco. Sem pilotá é que não fico.

   - Será que esses loco liberam o capim prá esse tipo de cosa? Eles gostam, mesmo é de emprestá pros rico. Pobre que nem nós, veve apertado e de teimoso.

   Ao que o Deoclécio retrucou:

   - Tenho meus argumento. Le garanto que no final do dia passo aqui de guaiaca estufada de patacão.

   O Anacleto, bolicheiro velho, sabedor de tudo e sobre todos, conhecia o quanto era teimoso aquele índio e sua fama de não entregar a rapadura assim, no más.

   - Se o amigo tá dizendo, até aceito umas sobrinhas ...

   E riram, enquanto este alcançava ao recém-chegado o mate de erva da Palmeira, amarga que nem beijo de despedida.

   - Mas me conta, morreu muito borreguinho com essas geada encordoada uma na otra? Faiz anos que não temo um inverno brabo que nem este! Ando até com umas dor nas cadera, que não me apareciam faiz tempo. De o vivente entanguir de frio só botá o nariz pra fora das casa, de madrugada. Nem sei como o Ventania não refugô a vinda.

   - E ele é bobo de deixá de vi pra bombeá as cadela reinando ... Quantoo aos borrego, temo um trabalhão graúdo, mas recolhemo a bicharada todas as noite. Perdemo uns dois ou três, por meio flaquito e pesteado. E o patrão mandou vi uns reforço de bóia. Ração especial, que recupera as energia das mãe. Com elas dando bom leite e em quantia, os bichinho vão guapeando.

   Prosseguiram a prosa, sem se darem conta do passar do tempo.

   - A la fresca, Anacleto, pela altura do Sol, o banco já deve tá aberto e eu ainda aqui. Tinha que ser o premero a entrá, pois diz que esses turco nunca podem perdê o primeiro negócio. Careço de me mandá a la cria. Continuamo a prosa pelo escurecê, quando tivé voltando.

   Montou na Xuxa, assobiou pro Ventania que já andava rusgando com os rivais da cidade e saiu num trote forçado.

sábado, 13 de agosto de 2011

Mais uma do Piá



Continuando com as histórias dos "Lembranças de Guri", livrinho que pode ser adquirido por R$20,00 mais o correio. Encomende pelo e-mail vilsombarbosa@terra.com.br  São 47 causos como este. Teve gente que voltou tanto à infância, que chegou a mijar na cama depois de ler o livro ...
GURI DE RECADOS

Esta mania de correr que pegou todo o mundo, o Vô Donato já tinha há muito tempo, não por moda, mas para conservar a saúde.

Levantava às quatro da manhã, em cuecas e camisa de física (hoje regata), indo correr na grama da frente. Além da corrida, também fazia a sua ginástica. Depois, uma banho de água fria e vinha acordar o piazedo, para o culto matutino "que um bom dia começa com a Bíblia". Desses cultos às vezes eu era poupado, por ser mui novo. Noutras, não, e lá nos íamos testavilhando de sono para a sala, lugar da devoção doméstica, a fim de cantar até cansar a goela "Bem de manhã, enquanto o Céu, sereno ..." , "Fé é a vitória ..." e "Cristo, Comandante, sempre nos será ...".

Ser o miúdo mais miúdo tem lá suas vantagens. Após o culto minha humilde pessoa era autorizada a retornar à cama. Os pobres do outros - Dileu e Roberto - não, mesmo: café reforçado e lá se iam para a lavoura carpir. Nalgumas vezes ainda era tão cedo e escuro, que tinham de levar o velho farol a querosene e a vizinhança até andava fuxicando que ele estava era ficando caduco.

Bem depois, de Sol alto, também me levantava, tomava o meu apojo na mangueira, dava de mão na minha enxadinha e me mandava para a lavoura, mais para atrapalhar do que para ajudar.

Levantando poeira, dê-lhe enxada, o Vô, o Dileu e o Roberto. Pendurado em algum moirão ou pé de milho já crescido, o farol apagado.

Como minha enxada não rendesse lá essas coisas, ficava encarregado do apoio logístico: buscar água, dar recados e assim por diante. Ah, e perguntar as horas. E aí estava a mais importante das funções por dois motivos: primeiramente porque o Vô era muito rigoroso nessas coisas de horário e depois porque eu me enchia de grau nessa missão, estando justo na época em que me amansava com ponteiros de horas, minutos, segundos.

- Vai lá buscá água e pede pra Velha vê que horas são.

Pedi a água e deixei o relógio por minha conta, que já não era mais um burro que nem as horas sabia olhar. Lá estavam os ponteiros: onze horas.

Entreguei a água, dei as horas e fui dispensado porque estava esquentando muito e sol muito quente num miolo mole, o melhor era não arriscar ...

Ao chegar, estranhei que o almoço já estivesse pronto, mas nada deles voltarem.

Bem depois, lá pela uma hora da tarde, quando já esfriara a comida, apareceram, mais atrasados do que bola-de-porco. Indagado pela causa do atraso, a resposta do Vovô foi:

- Pelos meus cálculos, agora é que é meio-dia.

Aí é que a Vó me entregou contando que eu não pedira para ela ver as horas.

Meus primos queriam o meu escalpo por trabalharem mais uma hora num solaço escaldante daqueles.

Sem grandes motivos, pois não se vai exigir que um aprendiz de olhador de relógio jamais confunda onze com doze horas ...

6 de janeiro de 1984.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ML Cabinho à venda

ML do Adriano, de S. Gabriel está à venda. Foi do Eduardo, tb. de S. Gabriel. Diz que está todo reformado. Interessados, contatar com Barbosa, que encaminha ao Adriano.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

IV Mocotó



IV Mocotó do Barbosa

Tem índio que fica velho;
Outro faz aniversário;
Eu, muito pelo contrário,
Fico mais novo no espelho;
Ainda guio aparelho
E sou feliz de dar dó.
Vou me tapando de pó.
E por comemoração
Pra manter a tradição
Fiz o Quarto Mocotó.




Convidei miles de gente.
A Sandra fez com fartura.
Porém onda de frescura
Se espalhou de repente.
E sem motivo aparente
Pouca gente apareceu.
Tá certo, houve o pneu
Que o Leomar estourou.
O resto se aboiolou,
Se assustou ou esqueceu.

Mesmo assim tive alegria.
Com o tempo especial;
No sábado um pessoal,
S. Pedro e Santa Maria,
Passou boa parte do dia
Proseando e se divertindo;
Em parapente subindo.
Para decolar teve truque:
Puxar de carro ou no muque
Brinquedo louco de lindo.

Estavam meio com pressa
E sem mocotó saborear
Foram, dizendo voltar.
Mas ficaram na promessa.
Porém, o que interessa
É que o ponto assinaram.
O encontro prestigiaram.
Deixo meu muito obrigado
O rancho fica franqueado
A todos que aqui passaram.

Domingo o S. Pedro estava
Muito do bem-humorado.
O dia ensolarado
Para voar convidava.
E o Felipe confirmava
Também viria este ano,
Trazendo de vaqueano,
Pilotando o "apareio"
Quem, finalmente veio
O amigo Adriano.




E aqui de São Vicente,
O Augusto, que é meu vizinho,
Na chácara deu um pulinho.
Até me trouxe um presente.
Um vinho, prá num repente
Eu tomar com a Patroa.
A ela o coro entoa
Elogio de todo o jeito.
É doceira de respeito
E "mocoteira" da boa.



Chegando pros finalmente:
Assim fazendo um balanço,
De agradecer não me canso
A quem pôde estar presente.
E ao amigo ausente
Porque algo aconteceu,
Peço ao Patrão do Céu
Para o teco abençoar
E possa "pro ano" voar
Ao Quinto Mocotó meu. ...


 




sábado, 6 de agosto de 2011

IV Mocotó

   O tempo está excelente, um ventinho mui "flaquito", mal mexendo a biruta.
   Quem não vier não sabe o que está perdendo.
   Detalhes, coordenadas, etc., ver na matéria após o caso do Vôo Noturno.

Voando Noturno com Avião Agrícola - De Arrepiar!

    Os que lêem o blog, sabem que sou fã dos pilotos agrícolas. Piloto ruim ali não vinga. Passar doze ou mais horas por dia voando a um metro do chão, desviando de redes, cercas, árvores, etc. é para quem  sabe.  Leiam a experiência do Luques. Competência, sorte e a mão do Grande Piloto ajudando.

AVIAÇÃO AGRÍCOLA

RIO BRILHANTE – MS


MARÇO DE 2000


Era praticamente de noite, um pequeno clarão do sol no horizonte, falei para o gaúcho, meu ajudante, encher os tanques de combustíveis, que iria aplicar a última carga de inseticida sobre a lavoura, e iria pousar na pista da base a noite, já que era permitido pela empresa fazer pouso noturno. A pista era boa , 30 mt largura x 1200 mt comprimento , com vários pontos de referência.
Estávamos neste dia pousando e decolando de uma estrada de asfalto secundária, de pouco movimento, de um lado ficava a equipe de terra e do outro um carro onde uma pessoa segurava ou liberava o trânsito de carros,etc...
Eu estava um pouco tenso, pois tinha pouca experiência em vôo noturno, disparei o cronômetro, cintos de segurança ajustados, examinei tudo, decolei fui até lavoura, apliquei o produto já um pouco alto, pois ficava há cada minuto mais escuro ,o pessoal da fazenda e o gaúcho recolherão os equipamentos e foram embora,era um avião de fabricação Americana,”PAWNEE”. Sabia que deveria seguir por esta estrada secundária que estávamos trabalhando,por uns 20 km, até chegar a uma estrada principal e seguir pela mesma por uns 100 km.
Só que não lembrei que era noite sem lua, e para encontrar a estrada secundária que era uns 2 km da lavoura já foi difícil, mais 5 min voando não identificava o que era estrada ou lavoura, estava muito escuro, só as luzes das estrelas e das fazendas e longe duas ou três cidades, senti um frio na espinha e acordei para uma realidade horrível, reduzi a potência do motor para economizar combustível, e segui o rumo que pensava ser o correto, não dava mais para voltar. Não queria acreditar que aquela situação era real, parecia um pesadelo, senti a boca seca e a garganta amarga durante todo o vôo, tentei manter a calma, pois já tinha passado certas situações de risco nas 2000 horas de vôo que tinha na época, mas aquela situação era bem diferente, as outras foram resolvidas em poucos segundos ou minutos, esta ia ser bem mais demorada, com a mesma adrenalina.
MEU DEUS,ME AJUDE, Disse em voz alta, a primeira reação é querer sair logo da situação ruim que se encontra, manter o sangue frio não é fácil, tomar uma decisão precipitada pode ser fatal.
Peguei papel e caneta e fiz um mapa(croki) improvisado para melhor orientar-me e segui para as luzes da cidade que julgava ser aquela que deveria ir. Não chegava nunca, os pensamentos ferviam, não conseguia raciocinar direito, queria sair daquele pesadelo, mas era real, como fui me meter numa situação dessas?
Pela primeira vez senti o desespero de perto, pensava na família, e na morte.
Passando pela primeira cidade, tinha passado uns 40 minutos, não reconheci o lugar e segui para a próxima, já identificava a estrada pelo movimento dos carros, resolvi seguir em frente, mais uns 20 minutos e estava sobre a outra cidade, que também não reconheci, a terceira cidade era bem mais longe, resolvi ir até lá, o desespero aumentando, o meu corpo tremia involuntariamente.
Depois de mais uns 35 minutos cheguei a terceira cidade, parecia ser uma cidade próxima ao meu destino, perto dela vi as luzes de outra cidade, pensei é lá.
Chegando lá me entristeci muito. pois não era, havia uma avenida, pensei em pousar ali, mas haviam crianças.
Próximo a cidade ,vi uma moto vindo em uma estrada que era bem estreita e cheia de buracos, mal passava dois carros, vai aqui mesmo, pensei, usarei a moto como referência.
Girei por cima dele e vim para pouso. Vai arrancar as asas, o trem de pouso, mas o motoqueiro vai ver e me ajudar.
Quando estava na altura de uma árvore (eucalipto), o motoqueiro dobrou uma curva de 90º, aí perdi a referência, acelerei todo motor e subi uns 150 mt, olhei o cronômetro e tinha passado 01:52 minutos, os tanques não marcavam mais nada o Pawnee tem autonomia 02:20 minutos, ali perdi todas as esperanças, olhava as luzes das fazendas, pensei em jogar o avião próximo a uma destas luzes, quando o motor parar, pois tudo o que eu podia fazer fiz.
No outro minuto olhei e vi luzes de carros , vinha um na frente e uns 2 ou 3 km atrás, outros dois, eram caminhões, girei em cima do primeiro e fui descendo, usando as luzes traseiras como referência, a escuridão era tanta que tinha a impressão que a estrada era no meio de árvores altas, mantive uma rampa de descida suave, o caminhão estava a uns 100 km/hora, a mesma velocidade de pouso do avião, próximo ao chão, no momento do toque do avião no asfalto, a turbulência do vento provocada pelo caminhão, quase me jogou fora da estrada, fui um susto, quando o avião tocou no asfalto, tive que frear muito pois era uma descida,quando parou, comecei a mexer nas alavancas de alinhamento,mexia em instrumentos, não sabia o que estava fazendo, parei, me concentrei, aí desliguei o avião, e lembrei de tirar o avião rápido de cima do asfalto pois os caminhões que vinham atrás poderiam atropelar o avião, como já aconteceu com um colega, passaram os outros caminhões a mais de 100 km/hora, eu olhei o avião, olhei para mim, e não acreditava que estava vivo, e o avião inteiro.
Agradeci a Deus, foram 02:14 minutos, até pousar, logo parou um carro e outro, tinha vontade de abraçar aquelas pessoas que nunca tinha visto.
Informaram-me que estava a mais de 130 km da base, mesmo assim, Graças a Deus!
Na mesma noite, um avião também perdido bateu e morreram duas pessoas, foi no oeste do estado do Paraná, num avião Bonanza.


Cleber Ricardo Luques


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Reafirmando o Convite


IV Mocotó do Barbosa "Lambe-Lambe"

Dou "buenas" e prendo o grito
Neste meu jeitão gaudério.
O que vou falar é sério:
O meu convite repito;
Não gosto de andar solito.
Solidão é de dar dó.
E para não ficar só,
A porteira aqui se abre
E vira mulher do padre
Quem não vier ao Mocotó.

Ver detalhes no post abaixo.



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

IV MOCOTO DO BARBOSA LAMBE-LAMBE


IV MOCOTÓ DO LAMBE-LAMBE

Considerando que o Barbosa "Lambe-Lambe" fica mais velho no mês dos
cachorros-loucos;

Considerando que Mocotó é um prato especial, caríssimo, com ingredientes de todas as partes do mundo (e do boi);

Considerando que tem gente mal-acostumada e que fica o ano inteiro esperando o tal Mocotó;

Considerando que dito prato e encontro, na realidade, não é Mocotó do Lambe-Lambe, mas da Sandra, a Patroa, que faz tudo, uma vez que o traste do Barbosa nem ovo frito sabe fazer ...;

Considerando que os convites feitos com muita antecedência acabam trazendo menos gente do que o convite da semana;

Barbosa Lambe-Lambe e Patroa Sandra

convidam V. Sa. e excelentíssima família para saborear o IV Mocotó, em solenidades que serão realizada nos dias seis e sete de agosto do ano da Graça de dois mil e onze, com tempo bom e, sabe-se lá quando, com tempo ruim.

Traje: passeio completo, meio, pilcha, meio fraque, fraque inteiro, smoking, black-tie, quase social, social, de gala, de banho, de dormir, etc.

Após a comilança, os convidados serão convidados a afastarem-se uns dos outros, por motivo de preservação das boas sensações olfativas ...

Quem se achar e não quiser Mocotó, por ser comida de pobre, pode comer comida de rico, galinha com arroz ...

Refrigerante e vinho marca diabo por conta da casa. Quem quiser trazer outros bebes, fique à vontade (aprecie com moderação e beba com vontade ...).

Ainda dispomos de três quartos de casal.

Posição da pista: S 29º 38' 26.1" W 054º 31' 45.3"
Comprimento da pista: 380m

Largura: 15 m com ampla área de escape, especialmente nos 200m finais.

Boa notícia: a pista não tem mais a rede de alta (nem baixa) tensão na cabeceira da 23. Dá para arremeter por cima do açude ..., o que antes não era muito aconselhável por causa do fio. A pista 23 é em aclive (da serra para o campo).

Confirme sua presença pelo fone (55)9997-6269/(55)9677-6060 - pode ser por torpedo. E-mail <vilsombarbosa@terra.com.br>

Será uma diarréia de prazer receber a pilotalhada e quem gosta da aviação.

Ficamos no aguardo e esperamos que o S. Pedro ajude.

Com mau tempo, o Mocotó será adiado e fiquem acompanhando o blog para saber qual será a nova data.





Encontro dos JurassIACS

   Cumprindo com o prometido, aqui os detalhes do nprimeiro encontro do JURASSIACS:

   Mas meu amigo voador,tenha a satisfação de te comunicar que o I
JURASSIACS,sera realizado aqui na Capital de todos os Gaúchos,no dia 10 de
setembro à partir das 18 hs e 30 min.a indiada ja pode se aprochegar ali
no Restaurante GARCIAS Zona Norte(não é na zona...é familiar)Av. do
Forte,1231,esquina Av. Brasilia(tu que habitaste o bairro ,deves ter
levado umas quantas "piguanchas" para jantar por la...).Ha
estacionamento,inclusive no outro lado da Rua e com segurança ostensiva de
um "peão de a cavalo,& 3 listras na mão...
O Bufett,fica nos 18 "pilas" para não sacrificar os colegas que são
professores,e não arder no bolso da indiada em geral !
Se tiveres oportunidade ,publica no Blog do Barbosa lambe-lambe,que eu ja
toco no meu orkut,frase de perfil,pra indiada "sintonizá" o teu Blog.
    Quem está organizando é o César Ludwig - de acordo com as preliminares explicativas "anteriormentes" publicadas ...