domingo, 28 de março de 2021

O Ultraleve Kamikase do Pacheco

         

                        


O ultraleve da aventura era desse tipo. Aqui, numa aproximação. Notar que vem quase na mesma altura dos pinus. Normalmente a gente colocava o nariz do "aparelho" entre os dois pinus e as asas passavam roçando ou realmente roçavam nas folhas mais altas. Não se sabe porque nunca houve um acidente gravíssimo nessas loucas aproximações. Ah, até pode ser que esse fosse o ultraleve kamikaze, mas não tenho certeza, pois estas fotos são de 1990.


Essas fotos comprovam a loucura que era um pouso naquela pistinha de apenas 280 m, com uma rede de alta tensão na cabeceira oposta e esse malditos pinus na aproximação.
        


    
    Pois o Pacheco gostava muito de furungar nos seus “aparelhos”.
 Se estivesse ruim, tinha que melhorar, se bom, tinha que revisar, se  estivesse excelente, tinha que abrir para ver como é que se fazia para deixar daquele jeito ...

 

         E mais futricava do que voava.

 

         Num belo dia encasquetou que o seu ML 200, 300, 400, 401, sei lá, estava com algum problema de carburação. E mãos à  obra.

 

         Desmontou o carburador, limpou, assoprou, regulou e tudo o mais  que uma furungação de respeito exige...

 

         Veio a hora da montagem que, para mim, é a pior de todas: como mecânico desmontador, até quebro o galho, mas como montador, sempre enfrento a famosa sobra de peças ...

 

         Pois o Pacheco era um futricador mais preparado: montou o  carburador e não sobrou peça. Infelizmente.

 

         Após montado, nada restava, senão colocar o carburador no ultraleve. Colocado, havia que testar o funcionamento.

 

         Como o aviãozinho ficara um bom tempo sem funcionar, a bateria se fora e o jeito era fazer pegar na manivela. O improvisado mecânico aeronáutico passou à categoria de relojoeiro:  dê-lhe corda ...

 

         O ML estava meio temperamental naquele dia e não queria pegar. Ou queria preservar o dono.

 

         Finalmente, quando o homem já estava com o braço que nem o do Popeye de tanto dar hélice, o ML pegou.

 

         Como todos sabem, neste tipo de avião, ao se dar hélice, fica-se numa posição bastante perigosa, entre a dita e o conjunto leme/profundor.  Pois foi nessa posição perigosa que o motor pegou a pleno, pois o novel especialista em carburação montara alguma coisa errada.

 

         Veio, então, a luta por segurar a cavalaria do motor, que, no caso tinha comido muito milho e estava com energia de sobra. Não deu outra: o avião foi mais forte e a traseira do ultraleve passou por cima do apavorado mecânico que, por pouco não foi arremessado contra a hélice girando a mil.

 

         Avião é feito para voar e foi o que aconteceu com o recém-consertado ultraleve. Horas e horas decolando, pousando, cruzando pelos céus, que, no subconsciente da máquina, ficam gravadas todas as dicas do piloto ou instrutor, e ninguém ignora que avião tem alma, vontade, temperamento ...

 

         Ganhou os céus de Gravataí o avião do Pacheco.

 

Mas não pensem que decolou de uma pista em meio a grande área deserta. O aeródromo além de curto, cercado de redes elétricas e árvores, ainda tinha a “vantagem” de estar rodeado por vilas na maior parte dos lados e,  num outro, pela obra da GM.

 

         Todos nós, pilotos, não resistíamos à tentação de ver o progresso da primeira fábrica de automóveis a se instalar no RS. Por isso o aviãozinho já sobrevoara várias vezes tal obra e, como ultraleve também é bicho curioso, mesmo sem piloto, o ML encasquetou de ver a montadora.

 

         Quando o Pacheco viu o avião rumando para aquelas bandas, dizem que foi um tal de pegar-se com todos os santos conhecidos e os que estão por ser canonizados. Se caísse nas instalações da multinacional, mesmo vendendo tudo o que tinha, o homem teria de reencarnar um montão de vezes, para pagar o prejuízo.

 

         Dê-lhe rezar.

 

         Ou por serem fortes as rezas, ou por ter quase todo o avião alguma tendência, o aeromodelo criado a Toddy começou a fazer uma curva.

 

         Vendo as preces atendidas, o Pacheco, homem reconhecido, começou a rezar pela graça alcançada.

 

         O solitário brinquedo voador curvando, curvando.

 

         Quando o fervoroso cristão abre os olhos, eis que um ultraleve kamikaze vinha na final dum mergulho certeiro e mortal.

 

         Que rezar, que nada. O Pacheco, mais o seu Oly, seu guarda-campo e guarda-sítio, correram para trás das colunas do hangar, na esperança de não serem atingidos diretamente pela mortífera aeronave.

 

         O guerreiro invisível sabia muito bem o que queria e prosseguia com os dois na alça de mira.

 

         Foi um tal de pedir perdão dos pecados, que os céus, donde vinha o perigo, tivessem piedade e acolhessem duas almas cristãs no paraíso.

 

         O Céu ou o Inferno deviam estar com problemas de superlotação e, uma providencial rajada de vento bateu no leme da máquina exterminadora.

 

         O ultraleve recém-regulado, com motor afinadíssimo, rendendo todos os hps possíveis foi, incrivelmente,  estatelar-se numa lavoura de cana a apenas 100 metros da pista, mas ainda dentro do sítio de seu piloto, sem causar qualquer dano a terceiros. Nem destruíra a GM, nem matara ou ferira os dezoito ocupantes de cada uma das casinhas ou barracos das vilas próximas.

 

         Dizem que, depois desse susto o Pacheco furungava, mas, em carburador, nunquinhas.

 

         O referido é a mais pura verdade e dou fé.

 

        

sábado, 20 de março de 2021

Dope

 Dope

Fone (41)3252-1032/whats (41)99671-1185

Modéstia à Parte ...

Ilustre Visita

Quando  jogava bola,
Eu sempre ouvia falar
Que ela vinha procurar
O jogador mui pachola.
Que perto dele ela rola 
Com maior facilidade.
E acho que isso é verdade
Pro meio da aviação,
Onde o bom pé-e-mão
Acaba fazendo fã,
E o casal de tarrã
Veio bombear este peão!



 


 

        A espécie, infelizmente,

     A cada dia rareia.

     A cosa se para feia

     Por causa de maula gente,

    Que vendo alado vivente,

    Já em sua mente passa

    "Isso é bom para a caça".

    Só quer o filho da treva

    Se afogar numa ceva

    E encher o c .. de cachaça!


        Se aqui nesta pistinha

        Um maula me aparecer

        E quiser se arrepender,

        Invente uma caçadinha,

        Que não sou de ladainha,

        Tampouco sou de ameaça.

        Peço, favor me faça:

        Procure outro rincão,

        Que o tresoito e o facão

        Tão loucos pra fazer graça ... !!!

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        Do Fundo do Baú


        Foto de 3 de abril de 1997. Para quem não conhece, este é um Netuno, motor VW 2.2, avião com que fiz muita aventura. Sua velocidade de cruzeiro era de 60 mph e estolava a 30 mph. Excelente amplitude entre as duas velocidades ... 

        Atentar para os calços: nada mais são do que os ossos de uma vaca que havia morrido nas proximidades ...

           Com essa aeronave de estupendo desempenho, vim de Gravataí a São Vicente do Sul em quatro horas e meia de voo ...

        Noutra aventura, saí de Gravataí, de novo e me mandei para Araranguá - SC, onde levei 3 horas e quarenta minutos para fazer 220 km, na fantástica velocidade de 73 km/h ... Tinha trechos em que só as carroças dos pescadores no litoral não me ultrapassavam, pois o vento de proa era fortezito ...

        Mas agora o pessoal só pensa em voar a mais de 300 km/h. Com todo o respeito, vocês querem um avião para curtir o voo ou para quebrar recordes de velocidade? Lá nas grimpas do Céu, correndo - só o risco e o fedor, qual a graça do voo? 

        Nada contra, mas sou do tempo do J3, CAP 4, Paulistinha.

        E não é que me divertia??? ...

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Comunicado importante:

   Podemos transformar esse blog no ponto de encontro dos aviadores gaúchos.

      Pretendo disponibilizar espaço para informações de utilidade, dicas, etc. 

        Por exemplo, você sabe onde encontrar um elástico para Sundown? Pode divulgar aqui. Tem muita gente que precisa.

        Por exemplo, vou divulgar em "dope" o fone de um dos fabricantes. Basta ir nos marcadores, clicar em "dopper" e pronto.

        Contamos com a colaboração de todos:

Aviões à venda, pneus, rodas, câmaras, peças, filtros, acessórios, locais com avgas, peças e assim por diante. Tem muita gente que sonega estas informações, na tentativa de ganhar com o sobrepreço. Nada contra, mas podemos baratear nossos custos com um local onde tenhamos essas informações disponíveis. 

    Envie sua dica por e-mail: vilsombarbosa@hotmail.com ou

whats (55)99997-6269.

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domingo, 14 de março de 2021

Enfrenando o Kitfox





Sou gaúcho, isso não nego.
Sou taura na gineteada
E gosto duma montada
De bom arreio e pelego.
E este orgulho carrego:
Embora não tenha posse,
Mesmo que rico fosse,
Pra mim o que tem valia
É um avião de serventia, 
Igualzinho ao Kitfox.


Mas mesmo bem de cavalo
"Hay que tener" cuidado,
É o que diz o ditado, 
Se não quiser levar pealo.
Escute bem o que falo:
Use da inteligência.
Boa  canja e paciência
Faz muito bem à saúde.
Deste alerta não desgrude
Não brigue co'a  turbulência.

E foi bem isso o que fiz,

Pra encurtar o relato.

Não quis mais fazer retrato,

Humilde, como aprendiz.

Sou gaúcho de raiz;

Conheço jujo e remédio.

E se me veio o assédio

De térmica e turbulência,

Eu não perdi a paciência

E  fui pra pista do Nedio.


O homem tem cofre forte

Para as "cosa" de valor.

Para o bom apreciador

Pousar lá sempre trás sorte:

Beba pouco, não se entorte.

E, nada, se for voar.

Que pro índio preservar

O desempenho no sexo, 

Quero dizer, o reflexo,

É "perciso" se cuidar.






   No caminho pra piscina,

Pra não levar pra água a grama,

Eis a calçada da fama

Como a ecologia ensina.

Se o líquido termina,

Não polua o ambiente,

Para a natureza atente

E não faça porcaria.

Bêbado até ser, podia,

Mas borracho consciente! ...





Mas não se vive só de trago.

Hay que ganhar a sustança

Pra prosseguir na voança

Pelos céus de nosso pago.

A boa carne é um afago

Para a barriga roncante.

Não adianta avião possante

Se o piloto está fraco.

Tem que confiar no taco.

Não dá pra ser descuidado.

Quanto mal alimentado

Acabou indo pro saco. 


Aqui terminou o estoque de rimas ...






Este é o logo da Sítio Catanduva






Acima, à direita, apenas o nariz de avião pra piloto raiz, o Kitfox: convencional, não muito veloz, o típico tequinho.
O Paradise do Nedio, da esquerda,  é para quem esqueceu as origens e não quer mais passar trabalho ou fazer força ...
Acho que não vai me deixar mais pousar no Catanduva ...
Esse tá certo. Só voou no final da tarde, quando as térmicas diminuíram. 
A pista agora foi alargada em todo o comprimento. Qualquer dia até Boeing vai pousar ...



Meandros do rio Toropi, na volta pra casa, depois das turbulências terem se acalmado um pouco. Isso no sábado.





   Como as turbulências fizeram o "velhinho" amarelar, o jeito foi voar de novo no domingo. Mas elas não "contavam com minha astúcia". Levantei bem cedo para voar antes das oito da manhã.


    Sete e quarenta e nove minutos já estava no ar.


Como todos meus movimentos são friamente calculados, foi como previsto. Atmosfera lisinha, lisinha.



Mas alegria de pobre dura pouco: onde tinha que fazer uns "retratos", olhem o que me apareceu. Aí os meus cálculos falharam...

   A solucionática foi botar o rabo no meio das pernas e voltar pra casa.


    Aproveitei para tirar uma fotos dos campos e lavouras da região, nesta época, já colhendo arroz e alguma soja. 
   Aqui se produz a boia de que o mundo carece!

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   Ah, mesmo tendo que voltar antes do previsto, o dia foi realmente ganho pela realização pilotística: fazia muito tempo que não conseguia voar com tanta tranquilidade. Se soltasse os comandos, o tequinho voava solito, numa boa. 
   E, para completar, mesmo na pistinha curta, com calombo, leve ventinho de sujperfície pela esquerda e cauda, o pouso foi tão bom que nem parecia eu o piloto ...
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E mais não escrevo porque sei lá, entende?!