sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sem Cavalo, de Novo

Foi falar em campanha, etc., vejam o que se sucedeu. Procurem a roda do trem esquerdo. Nunca ouvi falar em eixo quebrando, mas o meu, se foi. Acho que consegui me sair bem, pousando com um trem só, com vento de través e sem saber que a roda tinha fugido do avião ...
Pilonei quase parado, mas não havia o que fazer. Tô "de a pé de novo". Agora, é correr atrás do prejuízo.
O pior é que o Kitfox estava fazendo o maior sucesso na cidade. A criançada e os próprios adultos aguardavam o avião da buzina com ansiedade.

Mas ele cumpriu muito bem o seu papel de criar a expectativa em roda do nome do candidato Vilsom Barbosa. E que vou me eleger, podem anotar. Com quantos votos? Como é que vou saber?
 

domingo, 19 de agosto de 2012

Comunicação

Meus três leitores:

   Como devem ter notado, tenho postado poucas matérias. Acho que já falei, mas falo de novo, sobre o que inventei de fazer.
    Não é que sou candidato a vereador aqui? Apesar de São Vicente ser pequena, o trabalho para um sujeito, que morou quarenta anos fora, se eleger é quase igual ao do candidato a presidente da república. Não tenho tempo nem de me coçar.
   Depois de 7 de outubro, prometo que volto a torrar a paciência de todos.
   O Deoclécio manda dizer que se eu perder, vai me dar uma surra de relho oito tentos e salgar meu lombo, só para aprender a fazer uma campanha bem-feita ...
   Se tudo correr bem, chego lá, mas urna é a legítima caixa de surpresa ...
   Um abraço e boa eleição para  mim próprio!!!!!!!!!!

domingo, 12 de agosto de 2012

Falta Um



Vilsom Jair Barbosa

Um homem meio calado;
Índio meio introvertido;
Sem estudo, mas sabido,
Pois foi na vida escolado,
Na Bíblia alfabetizado.
De memória prodigiosa,
Embora curto de prosa,
Com burrice, impaciente
No retruco, inteligente.
Seu nome: Hilário Barbosa.

Dizem que sou o espelho,
Quase igual na aparência.
Tomara que na consciência,
Eu seja igual ao meu velho.
Sempre um sábio conselho:
"Só se levanta quem cai."
O tempo passa e se vai,
A gente ganha experiência;
Como é doída esta ausência;
Que falta me faz meu pai!

Palma 12 de agosto de 2012.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Largas Horas



Largas Horas

E todo o velho será chorão, decretou-se em tempos imemoriais.
E todo o verdadeiro pai sentirá o peso da saudade e da ausência.

Muitas vezes o poeta plagia nossas emoções, dores e alegrias. Quantas e quantas vezes o artista diz exatamente o que diríamos. Todos somos artistas, mas quase todos temos vergonha de ser.

Volmir Coelho com seu "Poema Rabiscado" consegue expressar com exatidão o que um pai sente pelo filho ou filha.

Cada vez que ouço, não tem como escapar: as lágrimas rolam, rolam, rolam.

E me prende a imensa vontade de voltar quase trinta anos no tempo.

Andava este artista, fotógrafo e chorão pelos distantes campos do Rio Grande, quando em Porto Alegre uma guriazinha esperava com ansiedade o dia de seu quarto aniversário.

Chegado o tão esperado aniversário, ainda andava seu pai envolvido com fotos e vendas.

Diz a mãe que desde cedo, quando havia barulho de elevador parando no andar ou passos no corredor, lá ia o toquinho de gente abrir a porta para abraçar o pai.

E o pai vendendo, viajando, fazendo das tripas coração, para poder chegar o mais cedo possível.

Na capital a alemoazinha plantada junto à porta, sem desistir da espera.

- Manhê, agora acho que é ele! - exclamava feliz.

E os passos não paravam diante da porta e iam rumo a outro apartamento.

A mãe, prevendo a possibilidade da não chegada por imprevistos, quem sabe até por eventual irresponsabilidade do pai - coisa que não era do feitio dele - mas, sempre tem uma primeira vez, alertava:

- Minha filha, o papai está viajando lá longe. Pode estragar o carro, acontecer qualquer coisa que não deixe ele vir. Não precisa ficar o tempo todo perto da porta.

A resposta era incisiva:

- Eu sei que ele vem. Eu conheço meu pai! Hoje é meu aniversário e eu tenho certeza de que ele vem!

Na porta continuava.

E o cantor repete "Largas horas junto à porta a me esperar!"

A Loirinha de plantão, certa de que conhecia o pai e que ele viria.

Meio-dia - nada.

A menininha esperando.

Três horas - nem sinal do pai.

"Largas horas junto à porta ..."

Seis horas, o dia terminando e o pai ausente.

A ansiedade acelerando um coraçãozinho confiante.

- Eu conheço meu pai!

A noite chega, o dia para uma criança quase terminando. O aniversário e o bolo esperando. O pai bem longe.

Naquele tempo não havia celular e as ligações eram difíceis.

As primeira lágrimas rolando pelo rostinho já não tão confiante.

A mãe tentando consolar: "deve ter furado um pneu, estragado o motor do carro, mas ele está vindo." Ela também já não acreditando.

O elevador para no andar.

Passos no corredor.

"Largas horas na porta a me esperar !"

A campanhia toca.

- É ele, mãe! É ele!

"E o troféu maior é o teu sorriso!" - canta Volmir.

A arte sempre imita a vida.

As largas horas junto a porta e o sorriso. ..

Juliana, Juliana:

Perdoa esta crônica atrasada,
Que há muito me acompanha sem eu saber.

Mas que no fundo, lá no fundo de minha alma

Esperava eu voltar a ser menino.

E esperava a menininha crescer ...

São Vicente do Sul, 09 de agosto de 2012.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Balanço de um Fracasso



Vilsom Jair Barbosa

Nesta sexta-feira, 03 de agosto do ano da Graça de 2012, o escrevinhador está tornando-se um homem verdadeiramente sex.

Sexagenário!

O que fazer é que não falta. Estou em plena campanha eleitoral, disputando voto a voto uma vaga na Câmara de Vereadores, num município onde há pouquíssimo tempo, um candidato teve que ceder a vaga, pelo critério da maior idade para desempate. Diferença de um, dois votos é coisa corriqueira. E, num cenário assim, parar tudo para reflexões, pode significar a perda da eleição.

Mas, assumo, consciente e refletidamente o risco, para fazer um balanço dos meus sessenta anos de vida.

Cheguei à conclusão que sou um baita fracassado.

E provo.

Comecei cometendo o erro de nascer numa família pobre. Não me permitiram escolher pais milionários, ricos, sequer remediados. Nunca passei fome, mas que vendi revistas em rodoviária, aos sete anos, isso vendi.

Também não tive o privilégio de ter um pai com estudo. O seu Hilário Barbosa aprendeu a ler na Bíblia. Mas, por algum mecanismo de compensação, o homem sabia capítulos e mais capítulos do Livro Sagrado, de cor e salteado ...

Minha mãe empacou lá pela quarta série; portanto, além de pobres, ambos sem preparo intelectual.

O cenário do fracasso estava preparado desde o início.

Para não decepcionar minhas origens caprichei nas escolhas rumo à mediocridade.

Pulando no tempo, para não ser, também, um fracasso como cronista, depois de estudar com muito sacrifício, concluí o curso de Direito e fui ser fotógrafo. Assim, como advogado, nunca consegui pôr nenhum marginal, ladrão, assassino, estuprador ou pedófilo de novo nas ruas. Como esta clientela é a que costuma pagar bem, na minha atuação judicial, pouco troco embolsei e continuei firme no rumo traçado de não ser um homem de sucesso.
Em quase tudo o que fiz, sempre deixei passar as oportunidades de acumular bens.

E o tempo passando, passando.

E quando vi, virei um velho de sessenta anos, como diria a música do Belchior, "latino-americano, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior" .

O espelho do fracasso.

Ou não é fracassado um homem que aos sessenta, mal e mal tem onde morar, uns troquinhos ganhos suadamente para a comida, um carrinho básico, um aviãozinho teco-teco e quase nada mais?

Onde já se viu um velho correr quarenta e dois quilômetros no ano da entrada na terceira idade? Só um fracassado pode ter tempo para treinar, correr, suar tanto.

Não é um fracasso ter uma filha linda, chamada Juliana, que, mesmo havendo completado um curso superior, está comendo o pão que o diabo amassou na luta pela sobrevivência, mas não vendeu o bem mais precioso, a dignidade e a perseverança na luta pelo rumo traçado para sua vida?

É um baita fracasso, com sessenta invernos no lombo, um homem que em vez de trabalhar, brinca de fotógrafo e piloto, porque, quando a gente faz o de que gosta, não está trabalhando.

Com sessenta anos, pela primeira vez disputar uma eleição nunca foi ou será marca de êxito na vida.

Mas esta disputa está mostrando o quanto os filhos da Dona "Lurde"e do seu Hilário - o digníssimo aqui, o Paulo Rui e a Maria Cândida são unidos, atendendo ao que pediu a matriarca Ana Cândida: "Nunca se deixem dividir. Esta chácara tem que ficar nas mãos da família enquanto um membro dela ainda for vivo."

E atendendo a este chamado é que vim completar minha derrocada - morando na campanha, depois de cinquenta anos correndo mundo e morando na capital.

Vim, deliberadamente buscar o retrocesso. Vim, estudadamente, buscar a falta de ambição. Vim, por livre e espontânea vontade perseguir a falta de perspectivas de ganhos materiais.

Em minha estratégia de busca ao marasmo, à estagnação, acho que sou um sucesso ...

Um velhote de sessenta anos receber a visita de sobrinho que andava lá do outro lado do mundo e que, apesar da longa viagem de retorno da Ásia, pega um avião e vem dar um abraço no ermitão, só pode ser um desses que a vida relegou.

Receber outros sobrinhos que mal acabaram de retornar dos Estados Unidos, de longas viagens pelo Brasil, também deve ser sinal de que o dito, de tão mal na foto, merece uma última demonstração de apreço.

Ter uma esposa que renuncia a muitas coisas pessoais, para ajudar o marido prova mais uma vez o quanto o homenzinho deixou de ir para a frente, pois o normal o homem ajudar e proteger a mulher e não o contrário.

Retornar para viver no lugar onde se passou a infância e boa parte da adolescência, é outra prova cabal de que a vida foi desperdiçada.

Onde já se viu, levantar de manhã, olhar para a frente e lembrar de que naquela coxilha o cavalo "Gato" desceu em disparada, com um toco de gente, de quatro anos agarrado nas crinas, perdendo pelego, enxergão, mas não desgrudando do flete, até que ele, o cavalo, resolveu parar no banhado, lá adiante. Banhado onde alguns anos depois, um bando de piás, com os respectivos companheiros cuscos caçavam preás a coice, bodocaço, etc.?

Qual é a graça de olhar para um pé de figueira à frente de uma tapera e lembrar dum velhinho relativamente franzino, careca, meio maniático, mas que só pelo olhar conseguia impor respeito e consideração? Um velhinho meio caduco na cabeça de alguns, mas terno e emotivo o suficiente para fazer uma "patente" especial para o tamanho do piazinho de três anos. Que aturava o gurizinho fazendo mil perguntas, no escritório da Fazenda Bom Retiro, enquanto o adulto furungava no rádio Telefunken a válvula, perseguindo as ondas, para ouvir as notícias até que um dia veia a fatídica nova do suicídio de Getúlio Vargas, o ídolo político da fazenda e redondezas.

Tem que ser fracassado para viver num lugar de horizontes largos, de gado berrando, de bugios com seu ronco na Restinga, de tarrã gritando num final de tarde, chamando a companheira.

Não eu não fui à Europa. Tampouco à América do Norte.

Somente andei pelo Brasil, pelo Rio Grande.

Só um fracassado pode ter andado por sua terra natal a pé, vendendo livros, indo duma cidade à outra, aos treze anos.

Os privilégios que a vida me outorgou, permitiram conhecer os mesmos lugares, depois, dirigindo e pilotando avião.

Este velho Rio Grande eu tenho o privilégio de conhecer quase que como a palma da mão. Dá para saber, em alguns lugares onde está o carreiro das formigas.

E, se existe algum lugar para ser feliz, é este, que não troco por nenhuma Paris, Nova Iorque ou algo parecido.

Sessenta anos!

Pobre de pilas! Nem vereador consegui ser até agora. Não sou famoso. A minha mulher não é modelo, atriz rica ou socialite.

Que baita azarão de cancha reta é que fui sair.

Ah, mas agora me lembrei que daqui a pouco vou dar uma corridinha básica, para manter a forma, que a maratona de 2013, com seu desafio de 42 km me espera.

Ia esquecendo que meus irmãos, antes de viajarem, passaram o tempo todo me dando dicas sobre estratégias de campanha e, colocando a mão no bolso, para ajudar.

Também ia esquecendo que as mulheres que amei antes da que amo agora, seguiram rumos diferentes, mas são minhas amigas. Sinal de que não devo ser assim, uma pessoa de todo má.

Sessenta anos e a conta bancária meio magra.

Sessenta anos de modestas roupas, carros e aviões.

É um fracasso, mesmo. Onde já se viu passar no vestibular para Direito numa Universidade Federal e depois deixar o diploma pendurado só porque o desafio tão ou mais difícil, à época, de conseguir o brevê de Piloto Privado me atraiu?

A gente vê cada uma ...

Bem, passaria uma semana comprovando o quanto fracassei.

Mas, no frigir dos ovos, cheguei a conclusão de que quando for desta para outra, o Céu vai ter que ser muito, mas muito bom, porque, se não for, peço demissão do cargo de anjo compro uma passagem de volta para a Chácara e quero ver me atraírem lá para cima de novo ...

Os meus sessenta foram comemorados com uns dias de antecedência e, por ironia da vida, exatamente no meu aniversário estou sozinho na Chácara, fazendo um balanço do quanto fracassei.

Mas me perguntem quem eu gostaria de ser na próxima encarnação:

A resposta pronta, curta, enfática, sempre será:
- Vilsom Jair Barbosa!

"Ah, e ainda por cima bom escrevinhador ..."

Por isso, altruisticamente, deixo o sucesso a quem interessar possa.

Palma - São Vicente do Sul, 03 de agosto de 2012.