sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Peso Excessivo, Conflito de Cabine e Inexperiência




   Segundo o que se conseguiu apurar, o fato ocorreu no Aeroporto Carlos Prates, Belo Horizonte, com um Sertanejo, full tanques, seis passageiros e muita bagagem. A decolagem estaria sob o comando do copila, inexperiente no avião. 
   A coisa não terminou em tragédia porque os anjos-da-guarda estavam todos de plantão e atentos. O comandante reassumiu e teve que brigar com o copila para que o infeliz descristalizasse e largasse os comandos. Apavorado, queria porque queria manter o avião com o nariz erguido, o que certamente acabaria em estol ou choque com os prédios.
   Todos erramos, mas num aeroporto em altitude, tanques cheios, lotação plena, bagagem, mesmo assim arriscar uma decolagem, é fazer um pacto com o comandante dos infernos. 
   O mesmo comandante que errou ao permitir o comando ao copila, felizmente soube o que fazer e o caso não virou estatística trágica por pouquíssimo, como se viu. 
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Caso Parecido

   Este escrevinhador frequentou muitos aeroclubes por este Sul do Brasil e conheceu todo o tipo de pilotos, desde os bons e humildes, até os ruins e petulantes.
   Estava num determinado aeroclube, eis senão quando, um construtor de aeronave experimental entra a fazer corridas de pista com o aviãozinho recém-acabado. 
   Não é preciso dizer que num avião desse tipo tudo pode acontecer nos voos de teste, inclusive sair voando perfeitamente já na primeira  decolagem.
   Todo aeroporto tem sua pista mais favorável e segura. Ou pela direção do vento predominante, ou pela configuração do terreno, turbulências, redes elétricas, etc. 
   E este não era diferente.
   Acontece que naquele dia o vento era Norte, o que obrigava a se usar a pista inversa à favorita de todos os  pilotos. 
   Começa que com o vento Norte sempre vem junto a temperatura alta e a pressão baixa. Aí temos pouca sustentação. Para ajudar, naquela proa a rampa de decolagem passava por uns eucaliptos já na cabeceira e uma elevação logo a seguir. Junte-se a isso um avião em teste e temos todos os ingredientes para uma cacaca das boas. 
    E o cidadão construtor dê-lhe a fazer corridas de pista. Logo depois entusiasmou-se e passou a tirar o avião do chão para pousar em frente.
   Todos sabem que guri que ganha brinquedo novo não quer que ele fique no pacote. Quer desembalar e mostrar pros amigos a novidade.
   Estava preparando-se a coisa. 
   Deu a lógica: o homenzinho foi pra cabeceira, empurrou a manete, soltou os freios e se veio. 
   Tirou o avião do solo e, como não queria pousar em frente mas decolar mesmo, manteve o nariz erguido, na tentativa de ganhar altitude antes dos eucaliptos e da elevação topográfica. 
   E se foi com o aviãozinho pendurado na hélice, embarrigado, num arrasto brutal, brigando com a falta de sustentação e a péssima razão de subida. 
   Já percorrera tanta pista que agora era voar ou voar, que não havia como pousar em frente. 
   Que ceder o manche, para a tentativa de trocar  altitude por mais velocidade, que nada. Prosseguiu com aquele enorme ângulo de ataque, aproado com os eucaliptos e baixa altitude. Os assistentes de cabelo em pé, sem nada poder fazer. 
   A gente sabia que, bem pertinho dos eucaliptos, com aquele vento, havia uma descendente. Se o piloto não conseguisse uns pezinhos a mais de altitude, arborização na certa.
   E prosseguia o embarrigado aviãozinho em sua atitude paralela ao solo, nivelado com dois terços da altura dos eucaliptos.
   Contávamos como certo o enrosco com o mato, quando o Patrão lá de cima deve ter enviado uma rajada de vento de proa que deu um ganhozinho de altura e, lambendo a grimpa das árvores lá se foram o recém-construído avião e recém-cagado piloto rumo à coxilha logo a seguir, também escapando por pouco. 
   Como certa vez um colega  me chamou num canto para pedir que  parasse com as valentias de enfrentar ventões com um precário Netuno e  sua advertência possivelmente permitiu que eu continue vivo, achei que era meu dever retribuir e ajudar um colega.
   Pois na maior da boas intenções fui prosear com o assustado comandante e sugerir que ele terminasse a fase de testes em uma pista maior, de cabeceiras desimpedidas.
    Para que? O sujeitinho ficou brabo comigo e até hoje quando me vê, fala para os circunstantes que eu tive "a capacidade de sugerir que ele pusesse a aeronave num caminhão e fosse fazer a experiências iniciais noutra pista".  
   Ao que sempre respondo: se porventura te vir outra vez, à beira duma zebra das grandes, em vez de tentar preservar tua vida, vou é falar com dono duma funerária e pedir uma comissão para não me importar com a vida de colega que, como todos nós, comete erros. Com a diferença de que quase todos aprendemos com eles ...
   Pois bem rapaziada, velharada e demais da aviação: se apenas puxar o manche garantisse altitude, voar seria moleza. Tem horas em que a única saída é não se assustar, ceder o comando, ganhar velocidade e, somente no último instante chamar para saltar o obstáculo, mesmo sem vara...
   Se o avião está embarrigado e não sobe, ao picar o manche para ganhar velocidade ainda há uma chance. Chegando no obstáculo lento e embarrigado - situação pra lá de encardida. Só resta optar pelo único procedimento que pode dar certo. 
   E mais não digo, porque não sei. 
   Ou, sei lá, entende?
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 Possibilidades de Melhorias para Aviação Leve
encaminhada
**Pessoal, boas notícias para nossa aviação**
Desde março a Anac convidou todos os fabricantes de LSA a nos reunirmos semanalmente para ouvir nossas demandas e estudar as normas ASTM para expansão do LSA!!!
Ontem tivemos uma reunião e ela nos trouxe muitas notícias boas!
A primeira delas: as S-LSA agora podem sair com marcas de nacionalidade diferentes de PU! Ou seja, agora podemos escolher PP, PT, PR e PS como os homologados!
Elas também poderão efetuar voos noturnos (desde que saiam com as luzes TSO) e poderão ser IFR (somente VMC)! Neste caso ainda estamos estudando a questão da habilitação do piloto!

Também poderão efetuar voos panorâmicos! 

Nossas experimentais poderão ter seus CVAs emitidos pelos responsáveis técnicos previstos na IS 21.191-001A!!

A outra ótimo notícia é que semana passada terminamos o estudo das normas ASTM para expansão dos LSAs para aeronaves até 4 ou 5 lugares!!! Nossa proposta deverá ir para consulta pública e breve!!! Mas estamos muito confiantes que irá passar, e para isso contaremos com a participação de todos vocês, e será excelente para nossa aviação brasileira, que voltará a crescer se Deus quiser!!! 
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domingo, 15 de agosto de 2021

 


Pobre e Pobrice ...

 

Fiz baita planejamento.

Uma enorme economia,

Pois uma viagem queria,

Cabendo no orçamento.

E desde aquele momento

Guardei moeda a moeda,

Mas nosso real em queda

Por pouco bota pro chão

A viagem de avião

E a cosa quase se enreda.

 

Não tá morto quem peleia.

Não entrego a rapadura.

Mesmo na maior lisura,

Sem medo de cara feia,

Por pouco ninguém me apeia,

Que sou quera de coragem.

Co' a prenda me fui pra viagem

Pra ver a filha no Rio.

E também fugir do frio,

Presente cá na paragem.


 

Até parecia um sinal

Ou um aviso e conselho,

Quase que o aparelho

Decola sem o casal.

Chegamos já no final;

 No tal "Embarque Encerrado";

Felizmente ajudados

Por prestativa guria,

Que vendo tanta agonia

Foi nos mostrando o traçado.

 

Tavam a cancela fechando

E o mal sempre se agrupa:

Nossa mala de garupa

Lugar não mais encontrando.

Falaram: só despachando.

Que situação mal parada,

Pois se nem encruzilhada

Tinha pro tal despacho.

Me afrouxou o barbicacho

Com mais essa trapalhada.

 

O  despacho então foi feito,

Sem cachaça, sem galinha.

Na casinha o comandante

Falou: "Tá tudo a preceito.

Com calma e com muito jeito

São Paulo vem num instante

Tem cerração bastante

Mas já tô acostumado

E sempre tenho encontrado

O campo da aviação

Les garanto que este avião

Hoje não vai ser quebrado."

 

Lá na terra da garoa

Houve a tal baldeação.

Montamos noutro avião,

Bagagem, eu e a patroa.

E uma notícia boa

Do comando então nos veio,

Quem mandava no apareio

Dessa vez era mulher,

Que fez o voo correr

Bem no rumo do rodeio.

 

E o Santos Dumont era

O destino do aparelho.

O mar tava um espelho

E a comandante, mui fera

Pros pintos então deu quirera,

Na tal aproximação

Não é que passa co o avião

Abaixo do Redentor?

E completando o favor

Lambeu o Açúcar do Pão!



 Prum panorâmico fazer

A cosa se para hosca,

Pois um avião de rosca

Mil pilas nos vai morder.

Só nos resta agradecer

Para essa comandante,

Parece que adivinhante

Da guaiaca na magreza;

Do Rio nos mostra a beleza

Em cortesia marcante.

 

 Pois no início falava

Em aliviar a friagem.

Por isso a tal viagem

Pronde o calor estava.

E quando a gente chegava,

Sabem quem tomou  assento?

A confirmar o azarento

Dito: se pra praia o pobre sai,

Chuva ou frio também lá vai

E quase sempre com  vento ...

 

 


  Aqui, Niterói, com um vento gelado e até uns pingos ...