domingo, 13 de dezembro de 2020

O Tempo Passa - os Amigos Permanecem

Aeroclube de Montenegro


        Durante um bom tempo, entre 1997 e 2008 o blogueiro hangarava suas garças em Montenegro.

        Lá ficou, em primeiro lugar o "Marimbondo", apelido dado ao meu Netuno pelo Ricardo, por causa da cor, parecida com a do marimbondo caboclo, aquele da picada doída uma barbaridade e, para os alérgicos, podendo ser fatal. 



      Andei ganhando uma causa como advogado e os pilas permitiram comprar um Kitfox, o PP-ZXP, amarelo, o "Piu-Piu". Esse foi devidamente detonado aqui na chácara, num passeio de final de ano,  31 de dezembro de 1999, em São Vicente do Sul, onde estou morando agora. Houve um desacerto entre o avião e as estroncas duma porteira de lavoura de arroz. Voltei com ele desmontado para Montenegro. 

        

Essa é a foto que eles localizaram nos arquivos do Aeroclube.
                    
Em Montenegro, numa das tantas festas. No primeiro plano, um Tucano e lá no fundo o Kitfox do "Lambe-Lambe". A marca dágua é porque a foto foi feita num conjunto de amostras para clientes. 

Com o pai do "Louro José - Angelo Viegas" - o Ricardo, numa navegação a Bagé.

        Aí os pilas andavam curtos e o jeito foi comprar  o Pober Pixie, de cujo prefixo não me lembro agora. Fiquei com ele hangarado no SSNG até 2002, quando o motor Continental 65 entregou a rapadura, por idoso ...

        Pilas curtos de novo, sabem o que fiz? Recomprei o Netuno "Marimbondo", que ficou comigo até 2004, quando um paulista o levou. 

        Tive a sorte de, com uma pequena quantia além da recebida pelo "Marimbondo" comprar o famoso "15 BIS", construído pelo saudoso Marcos Ramão Ledur. Era um projeto curioso, resultante dum cruzamento de lagartixa com porco-espinho, na realidade dum Netuno com  Kitfox, mas que deu certo uma barbaridade. Tanto é que com seu valente motorzinho VW 1600, um carburadorzinho original, voou comigo até 2010. Neste ano o manicaca aqui, escolheu o dia mais quente, 10 de fevereiro, com temperatura de 40°, para voar. Deu a lógica: o motor superaqueceu, fui pousar numa lavoura de melancia, mas os plantadores agora usam munchões e, sem saber da novidade, achando que era terra plana, fiz o pouso de emergência justo na perpendicular dos tais munchões. 

        

                            15 BIS decolando em Montenegro.

Depois do voo a 40°. 


      Esse foi o último tequinho que hangarei em Montenegro, até 2008. 

        Foram dez anos de convívio com o pessoal, muita festa, muitas cervejadas aos finais dos sábados de voo.

        E as festas de final de ano? Teve uma em que me programei para não retornar a Porto Alegre e dormir no sofá da secretaria. 

        Fi-lo e quem gostou, mesmo, foram os mosquitos, pois eu estava anestesiado ... Acordei com picadura (de mosquito) até embaixo das unhas ...

        Pois dia desses o "Louro José", que é o Ângelo Viegas, filho do Ricardo, me mandou uma mensagem no Face, com uma foto do Kitfox "Piu-Piu". Diz que encontraram remexendo nos arquivos do Aeroclube.

        Para retribuir a gentileza, posto aqui as fotos duma camiseta que adquiri, acho que nos 60 anos do Aeroclube e que, acredito eu, talvez seja a única daquelas que ainda existe. 

            


Aqui, junto com os seguranças, defronte ao luxuoso hangar do "Lambe-Lambe", cujas portas ainda são de lona plástica, por escassez de trocos. 



Junto ao Kitfox atual, que está à venda, o PU-FVC. Dá para ler no logo do Aeroclube: Desde 1949.



Essa é a prova de que a gente não esquece os verdadeiros amigos, tanto que mantenho essa camiseta com cuidados especiais e só a uso em momentos realmente importantes. 

        Meu abraço a todos os amigos de Montenegro e votos de que possamos comemorar a festa impedida deste ano, por causa da Covid, logo, logo. Se não me convidarem, pego os seguranças, o tresoitão, visto a camiseta, monto no Kitfox e vou aí deixar esses hangares virados numa peneira de tanta bala ...
 

sábado, 12 de dezembro de 2020

Primeiro e Único "Looping"


 

            Lá pelos mil novecentos e oitenta e dois anos da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, andava este escrevinhador metido com  fotografanças e revelaçõeos coloridas no Balneário de Camboriú, no tempo em que lá ainda cabia gente ...

            Pois tirava retrato de crianças na praia, pelo método analógico, ia correndo para casa, revelava em laboratório manual colorido, e, no mesmo dia, antes da noite, lá estava o "Lambe-Lambe" com uns trocados no bolso para pagar aluguel, peixinhos, camarões, etc. ...

            Não deu para ficar rico, mas que veraneei de dezembro a primeiros de abril, ah, isso veraneei ...

            Como já tinha cancha com fotos esportivas, pois durante a temporada automobilística cobria corridas no Rio Grande do Sul, especialmente nos Autódromos de Guaporé e do Tarumã, na Grande Porto Alegre, ao ver o pessoal do voo livre pousando na Praia das Laranjeiras, fui prosear com a rapaziada e oferecer meus serviços.

            Conversa vai, conversa vem, acabamos fechando um acordo onde eles teriam excelentes fotos de seus voos e pagariam com o Curso de Piloto de Voo Livre ou Asa Delta.

            Fechado dito acordo entre partes, lá se foi o futuro homem-voador para a Praia dos Amores, em Itajaí, para iniciar a parte prática do curso, que consistia, inicialmente, em correr na praia, contra o vento, dominando a asa.

            Como fala-se no jargão juridiquês, cumpre salientar que o novel aluno-fotógrafo até aquele momento só tinha como experiência de voo duas viagens a São Paulo, em aviões de carreira. Nunca entrara num teco-teco, ultraleve ou coisa parecida. De aviação pequena e desportiva entendia tanto quanto de capação de touro ...

            Passou-se a primeira etapa das corridas na praia sem maiores surpresas tanto para mim, quanto para os demais alunos e instrutor.  Tanto não houve novidade que, confirmando a fama dos praticantes de muitos esportes radicais, naquela turma, o único que não fumava um baseado era o fotógrafo ... Mas, a bem da verdade, diga-se que o instrutor era severíssimo no zelo pela segurança sua e dos aprendizes. Se pegasse alguém tomando um gole de cerveja ou dando uma única tragada, antes e/ou durante as aulas  pronto, gancho de vários dias sem poder voar.

            Passamos para a etapa dos voos rasantes em descida. A gente decolava e voava a um, dois metros do solo, pousando em frente. Aí tive um pequeno incidente que poderia ter custado caro: lá pelas tantas perdi o controle da asa e, em velocidade, bati com o joelho direito numa pedra. Não quebrei ou desloquei nenhum osso, mas a coisa incomodou durante meses.

            Esse pessoal do voo livre não é de desperdiçar muito tempo. Acho que foram uns dois ou três dias de voos rasantes. Logo a seguir, a hora da onça beber água: voo a partir dum morro de trezentos pés de altura, mais ou menos, na mesma Praia Brava, de Itajaí. Dito morro tinha uma rampa de decolagem improvisada, com mera limpeza de arbustos e outros vegetais parecidos, com um carreirinho por onde a gente devia dar a corrida inicial e partir para o abraço.

            Dia nublado, vento Lestão pegando forte. Os outros colegas de turma já haviam feito o seu primeiro voo e naquele dia o único estreante era o fotógrafo. Um ou dois decolaram na minha frente, pousando sem maiores novidades, na praia, lá embaixo, num campinho de pouso bastante estreito, margeado por uns arbustóides de mais ou menos meio metro de altura, em cuja base  crescia uma dessas ramagens rasteiras cheias de espinho.

            Como era uma única asa tipo "bacalhau" para todos, entre o aluno fazer seu voo, desmontar a asa lá na praia, subir o morro, montar novamente, lá se ia uma hora ou mais. Assim, quando chegou minha vez, era bem à tardinha e o Lestão aumentara.

            - Acho que o vento tá muito forte. Quem sabe deixamos pra outro dia - falei.

            - De jeito nehum, respondeu o instrutor. Ou voa agora ou ficas encagaçado para sempre e não apareces mais. É o que mais acontece. Arrepiou do voo no primeiro dia, quase certo que é um voador a menos. Podes confiar que dá tranquilo.

            Confiei, mas sem tranquilidade ...

            Pois bem, vesti o equipamento, prenderam o "mosquetão" à asa e lá fiquei eu, segurando a "bacalhau" contra aquele baita vento, aguardando o "Vai!"

            E o "Vai" veio, mesmo.

            Dei uns dois ou três passos e em fração de segundo estava eu, sem saber como, em pé, em cima da asa, no mesmo lugar do início da curtíssima decolagem e execução do mais fechado "looping" pós-decolagem de todos os tempos, tudo feito num "cubo" de cinco ou seis metros ...

            - Viram, eu disse que não dava. Taí a prova. O Lestão tá demais. Desisto por hoje.

            - Na, na, ni, na, no. Vais voar, sim, e hoje.

            E o instrutor era categórico.

            - És gaúcho ou o quê?

            Quase que respondo:

            - Sou o "quê", mesmo. E não vou voar.

            Mas tinham mexido com os brios do guri de Santa Maria. Resolvi encarar.

            E lá estava o sujeito pronto para novo "primeiro voo".

            E se veio o temido "Vai".

            Fui, não fiz outro "looping", mas em um segundo o forte "lift" me erguera a alturas estratosféricas, pois vi o instrutor e demais alunos pequeninos lá embaixo, gritando e gesticulando furiosamente:

            - Pica ela! Pica!

            Pelo tom de voz estavam apavorados.

            Encomendei minha alma e tratei de picar o "aparelho".

            Acontece que sou baixinho, braço curto e, para levar o trapézio para trás, a fim de picar,  tive que espichar braços, mãos, dedos, até as unhas. Felizmente a coisa funcionou e a asa começou a andar para a frente.

            "Acho que vou conseguir pousar. Como e onde, não sei".

            A estas alturas estava desalinhado com a pistinha de pouso. Lembrei-me do espinharedo e tratei de corrigir.

            Não é que a asa respondeu? Como não possuía experência com aproximações e pousos, tive a impressão de estar dentro dum grande videogame, onde em vez de sentir a asa se deslocando, via apenas a pistinha mudando de lugar, lá embaixo, muito lá embaixo...

            Mas gaúcho não se afrouxa e, passado o cagaço, deu até para curtir um pouco o voo.

            Tudo correndo nas normalidades, a pistinha aproada, quase chegando, aguardando o "Cabra" do instrutor-auxiliar, lá na prainha.

            Quando ele deu a ordem, empurrei o trapézio para a frente, ao mesmo tempo em que veio uma rajada meio forte, a quarenta e cinco graus pela direita.

            Pronto, lá se foram as pernas e a bunda do voador para o meio do espinharedo. Nada grave, apenas o equivalente a tomar umas quinze ou vinte injeções dessas bem doídas no sentante.

            Um detalhe: foi também meu primeiro e único voo completo numa asa delta. E tão encagaçante e/ou emocionante que, passado muito tempo, toda a vez que ia falar sobre ele, por milagre, vertia suor na palma das mãos ...

            Quase quarenta anos depois, ainda não ouvi falar de quem tenha quebrado o meu recorde "loopístico".

            E foi uma manobra tão exclusiva, perigosa e exigente, que, sabedor da impossibilidade de superá-la, assumi o compromisso de nunca mais fazer um "looping", essa acrobacia "elementar demais".

            Acredite quem quiser, inclusive eu ...

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

E não nos Deixeis Cair em Tentação

 

       

 

       A oração do Pai Nosso, em seu finalzinho, pede para que fiquemos livres dessas quedas.

       E uma classe que sofre muitas tentações é a dos pilotos. Vamos citar algumas das maiores, quando o diabinho tentador fica cochichando no ouvido da gente:

       - Dá um raso a "fu"! Ela tá te olhando! Pode ser que, vendo tua coragem, esqueça tua feiúra!

       - Com essa gasolina dá para ir e sobra!

       - É só uma quedinha de magneto! Se falhar, tem o outro!

       - O vento tá fraco! E vai amainar!

       - Pra que checar de novo, se voaste ontem?

       - Vai só tirar um fino!

       Nessas e noutras tentações muitos caíram! Literalmente.

       Pois hoje vou falar duma tentação especial, em que o manicaca aqui já caiu duas vezes, a de demonstrar o "aparelho" para interessado comprador.

       Já contei o caso em que fui demonstrar um Netuno, lá por 2003 para o Luques e quase nos matamos.

       Cachorro comedor de ovelha e piloto cabeçudo, só matando! O sujeito não aprende!

       Senão, vejamos:

       Estou com meu Kitfox Americano, motor Rotax 912, 1996 (olha o merchandising!) à venda. Além de aparecerem os curiosos que só contatam para encher o saco, tem os que são do ramo e, realmente, querem adquirir um excelente teco (merchandising de novo ...).

       Foi o caso de dois uruguaios que moram em Rivera. Ligaram, marcamos e numa bela manhã de domingo, apareceram para avaliar o aviãozinho, que tem uma das mais rápidas e melhores reações de comando que conheço (dê-lhe merchandising).

       Era bela a manhã e só não perdia a beleza porque vento não se enxerga. Se desse para ver, seria horrorosa ... Mas estava fortezito!

       Os compradores chegaram, vi que gostaram do teco, pois é um convencional, com carenagem imitando a de motor radial, realmente um aviãozinho que agrada à primeira, segunda e muitas vistas.



       Senti que estavam gostando e que havia boas possibilidades de negócio.

       Examinaram o que puderam, mas, claro, ninguém compra avião usado sem vê-lo voando.

       Liguei o Rotax 912, que não me decepcionou  e pegou de primeira. Demonstrei o que deu, com o tequinho parado, mas tinha o tal diabinho cochichando: "Se não voar, é difícil de sair a venda!"

       - Com esse vento, acho arriscado até uma corrida na pista!

       Concordaram:

       - Sim, não te preocupa, não vamos nos arriscar a quebrar a aeronave. Podemos voltar outro dia!

       Mas o tentador replicou baixinho no meu ouvido:

       - Mas não voltam! Dá pelo menos uma corridinha na pista, para mostrar a potência e o torque do Rotax 912, para os 300 kg do "aparelho". Vão ficar impressionados!

       Perguntei se algum deles gostaria de fazer a tal corridinha na pista, e, felizmente, um aceitou, o que tornou o avião um pouco mais pesado para enfrentar o "ventinho", segundo o cochichante.

       Pois o ventinho era de dobrar as taquareiras e as pontas das árvores da chácara. Não tenho anemômetro, mas no medidor crioulo da inclinação dos galhos e ângulo reto da biruta, menos do que 25 km por hora é que não havia de ser a velocidade. Nas previsões, para a região, o mínimo era de 26, chegando aos 36 km/h.

       E a recomendação é de que não se deve enfrentar ventos de través, na decolagem ou pouso, superiores a 17 km/h. Isso para aviões mais pesados, como Paulistinha, Aero Boeiro, etc.

       A vontade de vender era grande, os homens estavam interessados, tanto que um teve o peito de vir de saco.

       - É só uma corridinha na pista! Ele vai se deslumbrar com a potência! - me cochichou a vozinha.

       Cheque de cabeceira, aceleração da manete, lá nos fomos com o vento bem de través, a noventa graus pela direita.

       A cabeceira em uso inicia com a "sombra"  das  frutíferas e outras árvores vindo justamente deste lado. Por isso dou-lhe aileron direito, para baixar a asa e, assim,estar prevenido para o vento real.

       Tudo ia bem senão quando termina a "sombra" e tomamos uma senhora rajada pela direita,  levemente de frente, o que aumentou bruscamente a sustentação.

       Deu a lógica: o teco "despegou-se" como dizem os castelhanos.

       Despegou-se, tentou aproar o vento e, talvez por um efeito lift da coxilha onde fica a pista, a asa direita ergueu-se, nem ligando pro meu comando de aileron, pois estava a baixa velocidade.

       Sempre tive comigo uma ideia bem gravada na caixa de adubo: se a coisa está preta, a menos de metro do solo, tenta não aumentar a chance do agente funerário e procura voltar à pista. É melhor uma queda de asa com o trem quase tocando, do que entrar em faca numa altura maior.

       Cortei motor, tive sorte que a rajada deu uma folga, o Kitfox voltou a tocar a pista, felizmente sem violência, com a asa esquerda lambendo a grama e já saindo campo a fora, literalmente.

       A ventania que empurrava o estabilizador vertical era mais forte do que os comandos que eu dava: pedal esquerdo, freio esquerdo arrastando roda e eu no rumo das capoeiras. E a torcida para que os tatus e zorrilhos não tivessem trabalhado durante a noite, abrindo alguma toca na lateral do "aeródromo".

       Já contava como certa uma pilonagem, com o trem caindo numa toca ou trancando nalgum cupim ou macegão.

       Acho que a rajada deve ter diminuído bastante, pois o valente tequinho começou a obedecer ao pedalaço e freio esquerdo, rumando, aos poucos, para dentro da pista.

       Sorte ou perícia, vou lá eu saber? Ocorreu que dominei o bichinho, levei-o para a cabeceira oposta e, aí, completei a cagada.

       Falei para o uruguaio:

       - Agora, sim, tu vais ver o que é potência, pois dessa cabeceira a pista é a subir!

       Afundei a mão e, como estava prevenido, não havendo saída de sombra de árvores, iniciei a corrida oposta que, por sorte ou mão do Piloto Maior, terminou sem maiores danos, a não ser eventual troca de cuecas de piloto e saco.

       Não sei por que a tal vozinha cochichante sumiu.

       E esclareço: a venda também foi pro brejo.

      

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Politicagem e Ciência

         Como se sabe, tudo evolui com o passar do tempo. Às vezes essa evolução é positiva, acrescentadora e trás consigo o progresso.

         A ciência tem evoluído e transformado o mundo, ainda que essa transformação não traga, obrigatoriamente,  grandes desenvolvimentos ou, pior, em algumas oportunidades faz a humanidade engatar  marcha a ré.

         Por causa da constante melhoria da qualidade de vida que a evolução científica nos permite é que muitos  endeusam essa evolução. Há os que o fazem de forma bem intencionada. Acham que, se a ciência fala, todos devem calar-se e aceitar o dito como lei a ser rigorosamente seguida.

         Mas nem sempre é assim: primeiramente porque nem toda a evolução científica é realmente benéfica. Segundo: mesmo sendo útil, muita gente a usa de forma mal intencionada. Vamos pegar o caso da aviação: se os aviões fossem usados apenas para transporte civil, socorro em catástrofes e tantas outras aplicações benéficas, quantas vidas se teriam poupado nas guerras?       

         Com a Covid-19 houve um endeusamento dos ditames alegadamente  científicos a serem observados, como se estes fossem, realmente, a única saída possível.

         Baseados nisso muitos políticos espertinhos justificaram suas atitudes, que nada tinham de científicas e, muitos menos,  de sérias e bem-intencionadas.

         Em raros casos era realmente a ciência que ditava as decisões. Ou, até seria, mas uma ciência barata, venal, interesseira e de variáveis critérios de acordo com o vento soprante. A ciência do venha a mim o Vosso Reino.

         Se não, vejamos: o tal Dráuzio Varella, médico a serviço duma determinada mídia, inicialmente afirmava que o uso de máscaras era inútil e, até, perigoso. Semanas depois, miraculosamente, a máscara era indispensável, segura, eficiente, eficaz, etc. E, em ambos os casos apresentava alegações, supostamente científicas.

         Aqui no Rio Grande do Sul o piá governador, alardeava aos quatro ventos que todas as medidas tomadas e por tomar era guiadas por critérios rigorosamente científicos.

         E aí, cientificamente enviou caminhões-frigoríficos, para receber os inumeráveis cadáveres de mortos pela Covid-19, em Bagé, quando o surto iniciou-se naquela cidade. Científicamente as carretas ficaram semanas por lá, sem nunca serem usadas, pois as poucas mortes por Covid verificadas na cidade,  surgiram bem depois e abaixo das assustadoras previsões.

         Restou  aos motoristas das carretas voltaram, agora empiricamente, para suas empresas. Claro, depois de estas, faturarem cientificamente um bom troco.

         Ainda seguindo os critérios rigorosamente científicos, o jovem governador contratou empresa para a produção e fornecimento de testes rápidos para detectar o contato humano com o letalíssimo vírus. E, por ser uma decisão científica, a empresa escolhida foi uma agropecuária, parece que de Pelotas, coincidentemente, terra do rapaz governante e do proprietário da agropecuária.

         Fique bem claro que os testes eram para humanos. Fique claro, ainda, que dita agropecuária alterou seu ramo de  atividade,  em contrato ou registro comercial,  apenas quinze dias antes de ser escolhida como a feliz beneficiária duma compra envolvendo grandes somas.

         Parece que depois, cientificamente, para não se ver com a Justiça a agropecuária, agora Laboratório Biomédico desistitiu de tal empreitada e , também obedecendo às normas científicas, evaporou-se, saiu do ar e nunca mais se ouviu falar dela. Ou teria ressurgido, cientificamente alaranjada, com outra razão social?

         O pior é que o desperdício do dinheiro suado do contribuinte,  nem de forma científica, nem empiricamente foi reposto pela irresponsável atitude dos governantes interessados em criar um clima de pavor entre a população.

         E a gente se foi dando conta de que a apregoada e salvadora ciência pretensamente aplicada no enfrentamento do Coronavírus, pouco ou nada tinha de científica...

         O  mais lamentável é que essa é uma ciência nova, flexível, moldável. Varia ao sabor dos ventos e dos interesses. A regra científica que vale hoje, na semana que vem já perdeu a validade.

         Não sou infectologista, virologista ou  entendido no assunto. Mas não nasci ontem,  tenho dentes, dois olhos e dois ouvidos. E, assim, por não ser tão burro como os governantes gostariam que eu e a grande maioria da população fosse, acho estranha, muito estranha essa flexibilização científica.

         Primeiro era para ficar em casa a todo o custo. E isso levou muita gente à falência, ao desespero, ao suicídio. Mas o tempo foi passando e, junto, as variações científicas. O que valia numa semana, não valia noutra porque um bando de burocratas ficava somando números, desenhando gráficos, elaborando planilhas que decretavam o que se podia fazer nesta ou naquela região. E as coisas preteavam, avermelhavam, alaranjavam-se, amarelavam.

         Quem ia duma cidade a outra nunca sabia  ao certo o que iria encontrar, em termos de restrições, pois cada prefeito tem o superpoder de, ele também, ordenar maior ou menor restrição.

         Mas 2020 é ano de eleição e o Corona sempre soube disso. Assim, planejou seus ataques mais, desculpem o trocadilho, virulentos, para os meses iniciais do ano, diminuindo, à medida que se aproxima o dia 15 de novembro.

         Pois nessa semana de dois a seis de novembro, não é que, o Rio Grande do Sul, que chegou a ter, se não estou enganado, em algumas semanas, todo o território sob bandeira vermelha, agora só tem uma, a de Santa Rosa.

         Vírus estranho esse. Tomado dum sentimento cívico extraordinário. Tanto que, a continuar desse jeito, até o dia 15 de novembro, pega suas trouxas e vai cantar em outra freguesia.

         Acredito, cientificamente, que já está descoberta a vacina contra o Corona: a mera realização de eleições.

         Toda a vez em que os casos aumentarem, a realização dum simples plebiscito, referendum, eleição para síndico, governador, deputado, etc., vai fazer com que os casos, miraculosa e cientificamente diminuam ou desapareçam para todo o sempre, amém.

         Critérios da Ciência ...

         Quanta vergonha devem estar sentindo os verdadeiros cientistas ao verem a cafajestice usando esse ramo do conhecimento como justificativa de inescrupulosas politicagens.

         Para finalizar, uma pergunta: por que o idoso ou participante de grupo de risco não é dispensado de votar e é impedido de tantas outras atividades? Por que não pode frequentar um restaurante, mas pode entrar em filas, assinar em planilha que muitos outros contaminaram antes, tocar em botões muitas vezes tocados?

         Se o passar álcool gel é tão seguro assim, então que se volte à normalidade. Basta lavar as mãos ou passar o miraculoso líquido e o Corona embarca no primeiro avião e volta para a China, donde não deveria ter saído.

         Agora sim, finalizo alertando: preparem-se para a "segunda onda", que retornará, por critérios científicos, após as eleições, com endurecimento da liberação de atividades.

         E não digam que não avisei.

domingo, 25 de outubro de 2020

Pista Seletiva para Automobilismo

    A Fórmula 1 destes últimos tempos está ficando ruim de se assistir. É um tal de Lewis Hamilton abrir na frente, ni guém passar e estamos conversados. Quase não se via ultrapassagens, nem na ponta, nem no pelotão intermediário nem no batalhão da merda, lá atrás. 

                     Quando tudo parecia perdido, aparece o Grande Prêmio de Portugal, no circuito de Portimão. E suge a luz no fim do túnel: pelo menos uma vez por ano teremos um GP com emoções.

    E tudo graças ao excelente projeto dum arquiteto ou engenheiro português, que bolou um traçado, tipo tobogã, montanha-russa, liga asfáltica diferente, só pra desafiar a moçada. E botou no chinelo um outro "expert" que vive projetando pistas, todas até seguras, mas monótonas. 

    Mas o "Munuel Juaquim" foi de uma inteligência incontestável. Projetou u a pista segura, mas de um traçado difícil e desafiador.

    Só que há trinta e dois anos, um brasileiro, que não é engenheiro, arquiteto ou algo parecido, mas mero escrevinhador metido a humorista, já tinha em mente um projeto audacioso, como se vê, pelo que foi publicado na edição de 14 de julho de 1988, no jornal "Esportemotor", onde o Vilsom "Lamb-Lambe" Barbosa enchia linguiça e aporrinhava seus cinco leitores.

    E a prova aí está, na Publicidade. No caso, parte do projeto, apenas uma curva, a chamada "Curva Fácil". Imaginem como seriam as outras ...




 Quando minha mãe me chamava de gênio, não é que ela tinha razão? Uma visão futurista que nem Leonardo Da Vinci (e dizem que dava, mesmo) conseguiria superar ... 

São Gabriel - Dia do Aviador

 


Tapado de cerração

Amanheceu por aqui,

Na costa do Toropi.

Primeiro,  meu chimarrão

Depois me fui pro galpão

Adonde guardo o aparelho,

Sempre atendendo ao conselho,

Pra quem a voar começa:

No preparar vá sem pressa

Pra poder morrer de velho!


 

Na semana do Aviador

Se repete, sempre fiel,

Na grande São Gabriel,

A festa que é um primor.

E não é nenhum favor,

Que é das melhores, falar,

Vale a pena o índio voar,

Mesmo de pago distante.

É muito gratificante

Os amigos encontrar!



 

Consultei a "segurança"

"Será que dá pra voar?"

"Tu para de incomodar

E vai logo pra festança.

Te prepara pra lambança

Na hora da tua volta.

A sós, a gente se solta.

Coisa boa é fazer arte.

E tu faz a tua parte:

Aceita e não te revolta!"

 

Fui seguindo minha sina

De piloto, aviador,

Num trote de marchador,

Me fui comprar gasolina

Lá na venda da esquina.

Trouxe, então, pro meu box.

E não há quem não remoce

Conquistando a amplidão,

Inda mais se o avião,

É "crioulo", Kitfox!

 


Foi mermando a cerração.

O céu aos poucos se abrindo.

Aí eu me peguei rindo,

Faceiro de coração.

O voo sai e, então,

Solto o freio, sem barbela

Por que o Céu não tem cancela.

Vou no rumo do churrasco;

Que são bons, não fazem fiasco.

Sempre tá cheia a gamela!

 


Como era meio dia

Na hora da decolagem,

Chacoalhei durante a viagem

E isto ao velho judia.

O esqueleto pedia

Pouso imediato, de pronto.

Quase me paro tonto,

Mas o esforço  não foi  vão:

Pois mal pousei o avião,

A carne ficou no ponto!

 


Boa carne, boia boa,

Chopp e, também, cerveja.

Acho que até carqueja,

Pra não se ficar à toa,

Quando na tripa ecoa

O pedido de banheiro.

E o quera vai mui ligeiro

Se esconder lá nas macegas.

Se limpa e preserva  as pregas

No velho estilo campeiro!

 

Mas nessas horas, lhes digo:

O importante do ritual

É o convívio fraternal;

É o abraço do amigo,

Que nos oferece abrigo

E muita hospitalidade.

E que a grande amizade

Da Terra dos Marechais,

Cresça sempre, mais e mais,

Dure pela eternidade!





O blogueiro Lambe-Lambe, também conhecido como Barbosa, com seus 68 é um guri, perto do seu amigo Jader Dutra, o da direita, possivelmente o piloto mais "experiente" do Brasil, com seus 84 anos, muita vitalidade e amor à aviação.

À esquerda, outro ícone da aviação, Paulo Machado, piloto e construtor de aviões. Esse foi o tal que construiu um avião na garagem de casa e, somente quando ficou pronto, foi que se deu conta de que não tinha porta suficiente. Solução: derrubar parte da parede ... E ele não nega ... 



sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Parodiando Rudyard Kipling - Poema Se

 

Aproveitando o Dia do Aviador, e atendendo à solicitação dos meus cinco leitores, republico a postagem da paródia que fiz do poema "Se" . Pois não é que ficou boa? Até eu me emocionei o relê-la. Nem acreditei que fosse minha, de tão boa.


Se

          Paródia de Vilsom Jair Barbosa (Lambe-Lambe)


Se és capaz de manter a calma em decolagem,

Quando o motor tosse ou simplesmente apaga ,
A Morte chamando pra tua última viagem,
Pela vida lutas,  pra continuar a saga.
Se crês em ti, com todo o mundo  duvidando,
Se és capaz de esperar sem desespero,
Sem pretensão, sabes, vais continuar voando.
Saberás como manter o avião inteiro.

Se és capaz de voar,  sem que só a isso te atires,
De sonhar  com horizontes, céus e amplidões,
De ver CBs e também o Arco-íris,
Viver, sem ser escravo das  emoções.
Se és capaz, de com  a perda de companheiros,
Seguir teus  voos , que a vida também trás morte.
De reviver  o gosto dos solos primeiros,
A dor te fará a cada dia mais forte.

Se és capaz de  tudo para ter  um avião,
Pondo ali tudo o que ganhaste na tua vida,
E uma pane destruir tudo no chão,
Se,  corajoso,  voltas ao ponto de partida
E te dedicas, coração, músculos, tudo,
A perseguir o  sonho de ao voo voltar.
Pode ser  que demore muito, contudo,
Ninguém duvide que ao destino hás de chegar.



Se és capaz de aos manicacas dar valor,
E não se intimidar mesmo quando  junto dos ases,
E a quem precise de ajuda estar ao dispor,
Tu és feliz em tudo o quanto tu fazes.
Se és capaz de no voo, segundo a segundo,
Aproveitar, viver com todo o amor e brilho,
Teu é o Céu e tudo o que existe no mundo
E o que mais importa: és um aviador, meu filho!

Paródia de Vilsom “Lambe-Lambe” Barbosa

domingo, 18 de outubro de 2020

Quase Defunto na Geladeira

 

        

 

         Conforme compromisso firmado entre partes, três leitores e o escrevinhador, fiquei de contar uma outra aprontação do mesmo voo em que fiz o primeiro é único parafuso de minha vida.

         Pois bem, recuperados do cagaço do tal parafuso acidental em que o instrutor nos metera, lá seguimos nós no rumo a Pelotas e Rio Grande.

         Paramos da Princesa do Sul, para uma mijadinha básica e reabastecimento, pois ainda teríamos que ir à região do superporto de Rio Grande fazer  fotos de topo de uma área mais ou menos extensa, isto é, deveríamos ir o mais alto possível.

         No solo tínhamos trinta graus de temperatura, pois era verão. Isso por volta dumas onze horas da manhã.

         Para fazer as tais fotos de topo, o manicaca e retratista bolara um plano infalível: abrir a porta do bagageiro, isto depois de bem amarrado aos cintos da bagagem e uma corda extra, que levara. Aí, era só colocar a cabeça para fora e fazer as tais fotos.

         Só que esquecera do estribo de embarque. O tal ficava bem embaixo da área de visão da câmara. Assim, para fazer as fotos, tinha que estar com a cabeça e a câmara abaixo do estribo desgraçado.

         Confiado na excelente amarração que fizera, não me assustei e dentro do avião ficaram apenas as pernas e um pouco mais, até a região da cintura.

         Todos os ingredientes  para a cacaca.

         Tínhamos subido para doze mil e quinhentos pés. Assim, a temperatura lá estava vinte e cinco graus mais baixa do que no solo. Trinta graus menos vinte e cinco, igual a cinco graus. Acresça-se que o oxigênio lá era bem mais escasso.

         Agora imaginem um sujeito praticamente pendurado pela pernas, com a circulação prejudicada, tomando um vento gelado de 170 km/h no focinho e com pouco oxigênio. Não deu outra: comecei a passar mal.

         Imediatamente tratei de recolher a parte responsável por estes escritos para o conforto da cabine do avião. Mas, quem disse que conseguia me içar de volta para o compartimento da bagagem?

         Ou pelo peso maior do lado externo ou pela fraqueza que começava a dominar-me, já próximo ao desmaio, dei-me conta da realidade: o piloto lá na frente, tendo os assentos traseiros entre nós,comigo fora da cabine, ele nada ouviria se eu pedisse socorro, por certo  o voo ia continuar na maior tranquilidade.

         Até dar-se conta de que algo errado acontecera com o "Lambe-Lambe" Retratista, preciosos minutos ter-se-iam passado.

         E lá estaria o fotógrafo desmaiado e pendurado, com quase todo o sangue na cabeça, tomando um ventão geladíssimo nas ventas.

         Depois dele flagrar-se do acontecido, até perder os doze mil e quinhentos pés e pousarmos em Rio Grande, lá se iriam uns vinte minutos.

         Pensei: "Ou tu dá um jeito de te içar de volta pro avião ou deu pra tua bolinha!"

         Foi como chegar alguém com meio litro de adrenalina pura e  injetar na veia: arranjei forças não sei de onde e, tonto e tudo, consegui ver-me dentro do Tupizinho bendito.

         Não era o dia para a troca de querência: primeiramente por ter-me saído bem dum parafuso acidental sem a mínima experiência com a manobra, apenas papos de hangar e bar; segundamente, por não ter congelado lá em cima, com pouco oxigênio, a uma temperatura enregelante.

         Para terem uma ideia do quanto estava frio, depois de devidamente sentado e amarrado, havendo recobrado o sangue-frio, lembrei-me das fotos a baixa altitude e quis fazê-las.

         E de que jeito, se as lentes estavam tão geladas, que embaçaram externa e internamente? Não adiantava passar um pano macio para limpar o vapor por fora: o problema era interno.

         Tivemos que ficar uns dez minutos voando a uns quinhentos pés, com as câmaras no painel, tomando Sol direto, até se aquecerem e poder fazer as fotos.

         Dez minutos de voo em que via o dinheiro literalmente saindo do meu bolso ...

         E lá estava eu preocupado com o prejuízo?

         Depois das duas aprontações do voo não estava vivinho da Silva?

         Nunca acertei em Mega Sena, Loto, essas coisas. Mas que sou sortudo, isto sou.