sábado, 28 de outubro de 2023

É Proibido Fumar

 

         É Proibido Fumar

 

Até uma criança de dois anos de idade sabe que é proibido fumar em locais onde haja manuseio ou estoque  de combustível.

Em área aeroportuária, hangares, bombas de gasolina e similares, então, placas e mais placas chamam a atenção de pilotos, mecânicos e os demais frequentadores para a expressa proibição de fumar.

Pois o blogueiro-escrevinhador é fotógrafo que se especializou em fotos aéreas, estando, desde o início deste tipo de atividade, em constante circulação por aeroportos, aeroclubes, pistas agrícolas e outros lugares onde se possa conseguir um avião para fazer os voos panorâmicos. Claro que isso, neste ano da graça de 2023 mudou muito, pois os drones estão tomando conta desta prestação de serviço.

Mas lá pelo final da década de oitenta, início dos anos noventa, foto aérea era feita de avião, helicóptero ou satélite, o que me obrigava a andar alugando avião por todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e até no Uruguai.

Claro que por uma questão de boa vizinhança, educação e necessidade de manter a boa recepção por onde andasse, sempre procurava cumprir rigorosamente as leis, regulamentos, restrições e medidas de segurança normais ao meio aeronáutico.

E lá estava o humilde “retratista” como diz o Jader Dutra – decano dos pilotos gaúchos – às voltas com o preparo dum avião para mais um voo de documentação fotográfica numa determinada entidade, cujo nome não vou publicar, para preservar os “interésses” como diria o Brizola.

Eis, senão quando aparece um cidadão muito seguro de si, fumando bem próximo ao avião em abastecimento. Querendo fazer uma certa média com os administradores da entidade, educadamente aproximei-me de dito fumante pedindo-lhe que apagasse o cigarro, em obediência às placas de aviso.

Claro que fiz isto também com receio de que o imprudente fumante pudesse ser confundido com alguém que estivesse comigo para o tal voo fotográfico.

Pois o sujeito nem aí para o meu polido requerimento de preservação da saúde e segurança dos aeronautas próximos ...

- Cidadão, insisti, por favor, apague o cigarro. Aqui é expressamente proibido fumar. O combustível dos aviões é gasolina de alta octanagem e uma fagulha aqui representa uma ameaça muito grande de explosão.

Aí mesmo que o sujeito deu uma tragada de fazer a brasa da ponta quase virar labareda.

Não me contive:

- Meu amigo, parece que com jeito o senhor não quer entender a situação: se continuar desrespeitando as normas de segurança, vou ser obrigado a pedir que o senhor se retire daqui.

Ao que ele retrucou:

-Mas e quem é o senhor para me tirar daqui?

- Eu sou um piloto visitante, que irá voar em minutos nesse avião e não quero ser confundido com gente que causa problemas, desrespeitando as regras aeronáuticas, o que pode fazer com que eu seja penalizado  com proibição de novos voos aqui.

- E se eu te garantir que não vai haver punição alguma para ti ou para qualquer outro?  - retrucou o sujeito num tom atrevido e de provocação.

Prossegui já meio saindo do normal, como diz a música aquela:

- Isso não está em discussão. O que o senhor tem que fazer é apagar o cigarro e ponto final. Se noutras situações há tolerância quanto ao descumprimento das regras de segurança, aqui no aeroporto a coisa muda de figura.

- Por gentileza, apague o seu cigarro.

- Não apago! É só o que me faltava: um qualquer, vindo não se sabe de onde, querendo me dar ordens.

- Sou um qualquer, mas tenho treinamento e mentalidade aeronáutica: o que lhe peço é para o bem de todos. Se o senhor não colaborar, vou ter que levar o caso adiante.

- Adiante como? Retrucou o fumante.

Comunicar o pessoal do aeroporto, o DAC (faz tempo), a direção do Aeroclube, por exemplo.

- Olha aqui, rapaz, vou continuar meu cigarrinho e não vai ser uma baixinho magrela que vai me mandar  apagar.

Aí, tive quer partir para a queima de etapas:

- O senhor está numa área particular, fiscalizada pela União Federal e se eu levar o caso ao conhecimento do Presidente deste aeroclube o senhor vai se complicar bastante.

Salientando que estávamos nos tempos da Ditadura Militar, quando os membros das forças armadas realmente mandavam. Podia até sair umas feriazinhas com despesas pagas em hotel zero estrelas e com direito a uns “carinhos” como cigarro aceso na sola dos pés, pau-de-arara, esses mimos ...

Mas o homem era durão e não se intimidava mesmo.

Não apagou o cigarro.

- Bom, falei, vou ter que levar o caso adiante, antes que sobre pra mim.

E para o piloto que iria fazer o voo avisei:

- Me aguarda um pouquinho, que vou na secretaria conseguir o contato do  presidente do aeroclube e já volto.

O sujeito deu  mais uma tragada e, irônico, falou:

- É desperdício de tempo.

Respondi:

- Não é!

Replicou:

- É, sim. E te provo que estou com a razão.

- Então prove.

- É perda de tempo procurar o telefone, pois o presidente do Aeroclube sou eu.

Aí a coisa ficou complicada: eu precisava continuar voando na região. Os únicos aviões disponíveis eram os de tal aeroclube. Que pepino!

- Bem, o senhor há de me compreender, não fiz por  mal. Apenas quis colaborar com a disciplina aviatória, mas se o senhor acha que dá para fumar aqui, sabe que até me deu vontade de acender um cigarrinho antes do voo?

Só então me lembrei de que nunca fumei ...

Acontece cada uma ...

E é pura verdade, hein, Neco?


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Hospitalidade Pura

 

         Nunca é demais repetir a grande hospitalidade da Terra dos Marechais – São Gabriel,   para com os pilotos que comparecem ao EPAER – Encontro de Pilotos e Aeronaves.

         Também é  de amplo conhecimento da comunidade aeronáutica que este blogueiro é uma exceção em termos de potencial econômico-financeiro neste meio, isto é, o próprio é um duro com certidão emitida e autenticada pelas autoridades competentes...

         Talvez por isto mesmo seja contemplado com uma deferência especial pelo pessoal de São Gabriel. Como há uma casinha do antigo Clube de Aerodesportistas que fica quase todo o tempo sem uso e, sabendo que a guaiaca do fotógrafo anda meio vazia, o “Lambe-Lambe”, que não é de luxos, nem poderia ser, quase sempre fica hospedado ali.

         Neste ano não foi diferente: liguei, me confirmaram a acomodação e se fumo ...

         Chegando lá o Felipe me advertiu:

-  “Lambe-Lambe” tu dá uma varrida. Isso tá sem movimento há tempo.

Mas vocês sabem como é: quem numa festa vai trocar um bom papo com amigos, mate, cerveja por uma varrição a capricho?

Como a camada de poeira não ultrapassava meio milímetro de altitude, relevei, calculando que como não chovia dentro da casa, com certeza não haveria risco de aquaplanagem num pouso de comandante um tanto quanto “Choppado”.

Eu disse choppado, não chapado ...

Fiz uma vistoria superficial, estendi os lençois, ajeitei o resto das traquitanas e me mandei pro hangar do festerê.

E dê-lhe prosa, mentira, verdade, chopp, churrasco.

“Porementes” tem a hora de ir pra pouso e hangarar.

Mas isto depois dum churrasco primoroso, com uma costela bovina macia barbaridade, finalizando com outra costela, agora de ovelha, claro que com a famosa gordurinha.

Aproveitei.

Lá pelas duas e meia da manhã, me acordo com as tripas na maior rebordosa e foi o quanto deu para chegar ao banheiro.

Cá comigo:

“Quem manda um velho de setenta e um anos se atracar a comer carne gorda de noite? E ainda refrigerada a chopp?”

Amanhã vou maneirar – pensei.

E voltei pros pelegos.

Mal deitei já tive que pular e ser ligeiro que nem gato no charque. Foi o quanto cheguei no vaso e deu-se o empuxo da turbina ...

Acho que fui umas oito vezes à “patente” antes do nascer do Sol.

E dê-lhe a xingar os  criadores de bichos tão irresistíveis e os assadores que faziam aquela carne derrubar as barreiras salutares de qualquer cristão.

Isso foi na sexta à noite.

No sábado o dia amanheceu lindo, maneirei nas carnes e no chopp.

Tudo parecia dentro dos conformes.

Felizmente à noite foi um coquetel bem mais leve do que a churrascada da sexta.

O domingo, ainda que com chuva a partir das 10 da manhã, foi outro de muita convivência, alegria e, para variar churrasco de primeiríssima. Peguei leve na carne e não bebi álcool, pois tinha a estrada de regresso a fazer.

Só que sentia um certo mal-estar, cansaço, sonolência.

“Deve ser pelo muito tempo em pé, forçando a coluna, a  churrascada, o choppinho, etc. (especialmente o etc.)”

Cheguei em casa bem, só que cansado além da conta.

De novo pros pelegos.

De manhã, na segunda, o cansaço e o mal-estar continuavam: DNA – Data de Nascimento Antiga,  pensei...

Não era.

Olhando a mão esquerda, notei que na base do polegar esquerdo havia uma bolha em formação.

Meu diagnóstico certeiro: uma aranha me picou. Mas achei que fosse coisa sem consequência.

Compressa caseira e a certeza de que nada mais sério acontecera.

Mas não: a bolha crescendo.

Decisão: amanhã cedo me mando para Santa Maria. E me fui.

Encurtando a prosa:

A picada da aranha marrom, uma das mais perigosas me escolhera. Ela é perigosa, porque a picada é indolor, não incha, não avermelha e  a gente só vai se dar conta da realidade quando o estrago está bem grande, pois ela já pode ter causado  um monte de problemas aos órgãos internos, especialmente rins.  A partir do terceiro dia é que aparecem as bolhas, necrose local, etc., como fora o caso.

O médico me falou:

- Tiveste sorte. Ela inoculou uma quantia mínima de veneno. Mas a sintomatologia é da marrom.

Fiz o tratamento e, parece, está tudo dominado.

Agora vejam vocês: lá a hospitalidade é tanta que até os insetos (?) vêm cumprimentar a gente ...

Como não sou de me entregar pros home, nem pras “marrom” vai um versinho:

 

Bem como tinha que ser

Eu me larguei do meu pago;

Chimarrão, carne e bom trago,

Tudo tinha no EPAER.

Muito avião pra gente ver.

E demonstrando seu dom

Muito ás, piloto bom,

Em aula de acrobacia.

Assim, como é que eu iria

Ligar pra tal de “marrom”?


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terça-feira, 24 de outubro de 2023

Semana do Aviador - 2023 - Paródia/Intertexto do poema Se, de Rudyard Kipling

 

 SE

 

Paródia/Intertexto  de Vilsom “Lambe-Lambe” Barbosa



Se és capaz de manter a calma em decolagem,

Quando o motor tosse ou simplesmente apaga ,

A Morte chamando pra tua última viagem,

Pela vida lutas,  pra continuar a saga.




Se crês em ti, com todo o mundo  duvidando,

Se és capaz de esperar sem desespero,

Sem pretensão, sabes, vais continuar voando.

Saberás como manter o avião inteiro.



Se és capaz de voar,  sem que só a isso te atires,

De sonhar  com horizontes, céus e amplidões,

De ver CBs e também o Arco-íris,

Viver, sem ser escravo das  emoções.




Se és capaz, de com  a perda de companheiros,

Seguir teus  voos , que a vida também trás morte.

De reviver  o gosto dos solos primeiros.

A dor te fará a cada dia mais forte.

 

Se és capaz de  tudo para ter  um avião,

Pondo ali tudo o que ganhaste na tua vida,

E uma pane destruir tudo no chão,

Se,  corajoso,  voltas ao ponto de partida


E te dedicas, coração, músculos, tudo,

A perseguir o  sonho de ao voo voltar.

Pode ser  que demore muito, contudo,

Ninguém duvide que ao destino hás de chegar.



 Se és capaz de aos manicacas dar valor,

E não se intimidar mesmo quando  junto aos ases,

E ajudar a quem precise se  dispor,

Tu és feliz em tudo o quanto tu fazes.


Se és capaz de no voo, segundo a segundo,

Aproveitar, viver com todo o amor e brilho,

Teu é o Céu e tudo o que existe no mundo

E o que mais importa: és um piloto, meu filho!





 


segunda-feira, 23 de outubro de 2023

EPAER - Encontro de Pilotos e Aeronaves - Dia do Aviador - São Gabriel - 2023


 

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Pajadinha Sobre o Valor da Amizade

   Como todos sabem, em S. Gabriel, o coordenador dos Encontros do Dia do Aviador é o Leonardo Kaczmarck, com o qual  tive o privilégio fazer  meu primeiro  voo de foto aérea, em julho de 1984. 

   Nunca eu subira em avião pequeno, muito menos fizera qualquer coisa parecida com foto aérea. Tinha tudo para dar errado.

   Só que não deu. Ele com aquela sua calma e segurança contagiante me transmitiu tranquilidade para trabalhar corretamente. Era no tempo do filme, quando não se podia errar.

    Pois não é que aproveitei todas as tomadas e ganhei um troco bom com aquele voo. Naquele tempo foto aérea era rentável ....

   Voltando aos Encontros do Dia do Aviador, a gente sempre agradece a ele, no particular. No domingo, querendo ampliar o alcance de nossa gratidão, inventei de usar o verbo para expressar nossos agradeccimentos por todos os momentos de alegria, vida e amizade que ele e sua equipe sempre nos proporcionam, em público, pedindo uma salva de palmas a ele e sua equipe.

   Ao dar-me conta da longevidade de nossa amizade, não deu outra: O gozador Lambe-Lambe se engasgou e quase não conseguiu falar, pois o choro pela emoção de tanto tempo como amigos eu não pude controlar. 

   Por isso vai mais um versinho:


Coragem de Chorar
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