sexta-feira, 22 de abril de 2011

Pouso em temporal

   Trike em pouso no temporal


Olhem o que um trike bem pilotado é capaz de enfrentar!

http://www.youtube.com/watch?v=YLcvQYnDLX4

Idéia do Deoclécio para solucionar a problemática das bombas-de-gasolina dos Rotax 912

  O Deoclécio diz que está mais do que acostumado a pelear com esses problemas de bomba, que é assunto que está dominando o Forum  da ABUL. Dizem que tem uma bomba-de-gasolina chinesa equipando os Rotax 912 e, parece, os 918 também, que é uma bosta. Está dando problema no mundo inteiro. Viram no que dá globalizar. Os defeitos também são globalizados ...
   O peão do Alegrete, enquanto chimarreava sentado num cepo em roda do fogo-de-chão e acendia um palheiro com a brasa de um tição de angico teve uma baita idéia:

   "Que tal levar sempre a bordo duas bombas-de-chimarrão conectadas ao circuito de combustível? Assim que o motor der uma tossida, o índio chupa um gol de avgas na primeira bomba, que vem do tanque e assopra na segunda, que leva o material salvador direto pro carburador. O gaudério vai queimar a boca toda com a gasosa, mas é bem provável que dê para ir até uma pista agrícola, um campo plano, um lugar em que possa pousar o aparelho sem destruir tudo."

   Esse índio sabe das "cosas"!

  

Carta do Deoclécio

Tchê, Lambe-Lambe:

   Dia 24 de abril tem Fumaça em Erechim. Adespoi de uns tempo tem Fumaça em Dourados.

   Grande cosa! ...
  
   Aqui no Alegrete nóis temo Fumaça quagi todo o dia. É fumaça no galpão do fogo, é fumaça na hora de esquentá as marca dos ternero, é fumaça na hora de assá oveia, assá carne de rês. Aqui, o que não falta é fumaça. Só não tem mais fumaça porque o Ibama proibiu as queima de campo quando entra agosto ...
  
   Entendeu o espírito da última frase?

   Já tô com o pé que é um leque prá reempeçá as aula no Curso de Apareio.

   Um abraço, índio véio.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

70 Anos do Aeroclube de Cachoeira do Sul

70 Anos do Aeroclube de Cachoeira do Sul

   O Aeroclube de Cachoeira está em festa! São setenta anos de muitos vôos, muita gente formada por lá.
   Hoje, quinta, 21, haverá um almoço de confraternização.
   Todos convidados.
   Minhas desculpas ao Ademir, o presidente e a todos os demais da diretoria,  por não chegar até lá.
   Vinda de filha do RJ, possível chegada de neta por estes dias, me atrapalharam todo e fiquei impossibilitado de rever velhos e bons amigos.
   Um abração parabenizando a todos e votos de que venham outros SETENTA ANOS, com o dobro de vôos!

Notícia Urgente

NOTÍCIA URGENTE

Piloto novato entra acidentalmente em parafuso e acaba afrouxando a rosca ....

sábado, 16 de abril de 2011

Atendendo ao pedido da grande maioria dos meus três leitores ...

    Como a maioria é quem manda, atendo e republico o "causo".


Ponto Imbatível

A gauchada que joga bocha sabe que, ao se pôr a bocha bem perto do balinho, quase colada, o adversário dificilmente consegue bater.

Pois em termos de vôo, outro dia, fiz um ponto destes.

O 15 Bis estava fechando exatamente um mês sem desgrudar do chão e, pior, sem girar o motor.

Era o sábado do II Mocotó do Lambe-Lambe e, como a maioria dos pilotos havia se bandeado para o lado das moçoilas, ficando em casa por causa dum friozinho de nada, depois do meio-dia, como aparecera um Sol meio tímido, na falta do que fazer, resolvi dar uma avoada.

Havia um vento Sul, mas piloto macho não se entrega nem pro frio, nem pra ventinho ... E às vezes é bom não ser tão “macho” ...

Preparado o “apareio”, como diz o Deoclécio, combinei com a patroa Sandra, a heroína do Mocotó, pois 99,9% por cento da trabalheira é dela, que faria um turninho de pista. Depois, estando tudo dentro dos conformes, sinalizaria para que ela viesse ocupar o lugar de co-pila, para um panorâmico. Que ela merecia.

Já falara sobre a sinalização, pois, do jeito que soprava o vento não era totalmente certo que desse para fazer o vôo duplo.

Também ficara combinado que ela fotografaria o 15 Bis em vôo, e, por isso dei um quase raso sobre a pista.

Mesmo passando na “sombra” do arvoredo “das casas” a turbulência não chegou a impressionar. Fui, então para o pouso.

O vento era de través, levemente de cauda. Nesses causos, sempre é bom vir com uma certa velocidade, para garantir a sustentação e eficiência dos comandos.

Fiz o que manda o manual e vim aproximando pouca coisa abaixo da velocidade de cruzeiro, para passar da “sombra” duns eucaliptos em velocidade segura. Depois cortaria motor e partiria para o abraço.

Corrijo: o manual manda, mesmo, é não voar num dia assim.

Quando já estava sobre a cabeceira uma rajada forte e lateral obrigou-me a priorizar a estabilização e não o toque na pista.

Com o tequinho estabilizado, e por ter engolido um bom pedaço da pista, meio forcei o toque e fui devolvido ao ar com uma certa força, obrigando a dar um motorzinho. Lá se foi outro eito de pista.

O toque seguinte demorou e ainda não consegui ficar colado ao solo, por causa da turbulência e da velocidade. Não dei motor, mas demorou mais um pouco para as rodinhas fazerem amizade com a grama.

Dois terços da pista haviam ficado para trás.

À frente, na cabeceira, uma cerca, depois um açude sobre o qual passa uma rede elétrica desativada, mas muito eficiente na hora de pôr um aviãozinho no chão.

Não sou boi roceiro para pular cerca, o 15 Bis não é anfíbio, tampouco pandorga de guri, para se enroscar em fio.

Assim, só restavam duas alternativas: parar ou parar.

Pelos meus cálculos feitos friamente, não pararia em linha reta,

O jeito era frear com tudo e, com a velocidade diminuída, curvar à esquerda, tentando pegar a pistinha de acesso, rumo às casas e ao “hangar”.

Mas o pingo vinha ligeirito. Assim que deu, pedalei o esquerdo, evitando exagero para que a asa direita não batesse no chão. Quando vejo estou alinhado com umas toras de eucalipto, que aguardam desdobre em moirões e tramas de cerca.

Somente a bequilha não garantia a curva necessária. Tive que dar outro motorzinho para que o torque, aliado ao ventinho extra no leme, dessem direção ao 15 Bis. Deu certo e, finalmente, estava na pistinha em linha reta, só que em velocidade exagerada.

Que vontade de ter 120 kg para largar em cima dos calcanhares e fazer as rodinhas arrastarem na frenagem...

Como peso a metade, o freio não estava me garantindo a parada antes da cerca e já me via ampliando o tamanho do hangar, na marra.

Cortei magnetos, tentando diminuir o prejuízo ao preservar a hélice.

O 15 Bis ainda correu mais um pouquinho e a dois metros da porteira finalmente parou.

Ilesos, piloto e avião.

A patroa, na maior inocência, ainda veio perguntar se o seu panorâmico sairia.

Para ela, tudo aquilo era brincadeira minha.

Não falou, mas deve ter pensado: “Exibicionista!”

Quando estiquei a mão, mostrando os dedos pulando mais do que os de um pianista, de nervosos, é que se deu conta do enrosco.

Imediatamente perguntou:

- Vamos guardar?

Não preciso dizer que a resposta afirmativa foi enfática.

E voltando ao caso das bochas, se o hangar fosse o balinho, o aviãozinho uma bocha, duvido que outro fizesse um pouso com corrida em curva, parando assim, tão pertinho.

Portanto: ponto imbatível.

Se desmancho a aeronave, ia ser um “II Mocotó” e tanto: uma trabalheira para fazer o grude, a meteoro dando contra, com frio e garoa, impedindo a vinda em vôo, a bichice dos pilotos que não vieram de carro por causa do frio e, finalmente o grande parceiro 15 Bis todo detonado ...

Mas vamos ressalvar que o Guidotti e o seu irmão, o Nédio e o Kat (é assim que se escreve?) compareceram.

Os demais, mesmo que tenham emboiolado, se assustando com um friozinho de dois graus negativos, continuam sendo amigos e não precisam esperar convite para fazer uma visitinha. É só avisar, que nessa época tem muita vaca atolando nos banhados e dá para conseguir alguma carninha ...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quase Peão

Prosseguindo com as histórias do piá arteiro que fui, mais uma das aventuras contadas no livrim "Lembranças de Guri", cuja milionésima edição esgotou-se. Excepcionalmente, mediante pagamento de U$ 1.000,00, podemos providenciar cópia  de volume histórico e remeter via Varig ...
Quase Peão

Minha sina como cavaleiro era triste. Sempre me sobrava a égua Caturra, embora reconheça que o pessoal tinha lá suas razões. Afinal, não se vai largar um toco de gente, com pouco mais de quatro anos, em cima dum animal ligeiros de cascos.

Assim, lá me ia, contando passo, botar as vacas, jogando carreira com alguma lesma que, porventura, aparecesse. Entretanto, apesar da moloideza da égua, seguidito, pimba: lá voltava eu com a montaria a cabresto, pois quando caía, não conseguia montar de novo.

Os sonhos, no entanto, eram altos. Neles me via em cima do Brilhante, o único colhudo da fazenda, montaria exclusiva do Vô Donato. Se não desse para ser no Brilhante, pelo menos no Gato, o segundo colocado na hierarquia eqüina da "Bom Retiro".

Buscando chegar mais perto do meu sonho impossível, tratei de ver se diminuía minhas quedas e, quando se deram conta, fazia mais de semana que botava as vacas sem cair. Minto, caí uma vez, mas tive a sorte de achar um cupim por perto. Estacionei a Caturra do lado, subi no cocuruto e me vi montado de novo, sem que ninguém ficasse sabendo do tombo.

Meu currículo de cavaleiro melhorava.

A confirmação de que estava sendo observado não demorou. Num dia modorrento de verão, quando a peonada estava parando rodeio, fui convocado para dar água ao Gato.

O nome já esclarecia que era um cavalo muito ágil. Além do mais, bonito: pêlo branco, sempre lustroso, crinas parelhas, cascos em ordem, sempre um orgulho para quem o montava - o Vovô, nas lidas, ou pessoa muito estimada por ele, a passeio.

A distância entre a sede da fazenda e o açude era de uns quatrocentos metros lançante abaixo.

Fui erguido para o lombo do flete, em pêlo.

Antes da porteira, segurando as rédeas, o Vô foi passando as instruções: para evitar disparada do cavalo, evitar movimentos bruscos, não cantar nem assobiar, ficar muito atento às orelhas do animal - as duas erguidas, levemente inclinadas para a frente, sinal verde, tudo bem; movimento desencontrado, uma para a frente, outra para trás, amarelo, cuidado, disparada em cogitação; duas orelhas murchas para trás, não há muita coisa a fazer, tragédia iniciando, a disparada já começou, o jeito é se agarrar às crinas com unhas e dentes, encurtar as rédeas e torcer para que o animal obedeça.

Instruções recebidas, lá me fui, o coração saindo pela boca, de emoção, faceirice e medo. Coxilha abaixo, pedia a Deus para não permitir que uma perdiz levantasse seu barulhento vôo, um lagarto saísse correndo ou qualquer outra coisa viesse a assustar meu bagual.

Como o mormaço empreguiçava tudo, nenhum bicho se mexeu e percorremos em paz o trajeto. Chegamos ao açude, o Gato saciou a sua sede e agradecido pela minha bondade em encher a sua pança d'água, voltou tranqüilo para o seu piquete.

Fui apeado com ares muito importantes. Já montara o Gato, o cavalo do patrão.

E mais: em pêlo.

Provara que era cavaleiro. E corajoso, para arrematar!

Esse êxito inicial me abriu as portas para coisas maiores.

De novo estavam todos no campo e era hora de buscar as vacas. No piquete, só o Gato. Resolvi arriscar.

- O que é que tem? Eu já levei ele no açude. As vaca tão logo ali, antes da Restinga. Eu não vô caí!

Meio sestroso o Vô concordou, repetiu os conselhos, achou melhor botar em enxergão e um pelego sobre o lombo e me liberou campo a fora.

Conhecendo de sobra a agilidade e a obediência do cavalo, eu fora proibido de usar qualquer coisa parecida com relho ou mango, só comandos de voz e rédea.

Outra coisa, nada de galope.

Pois o flete estava a fim de colaborar comigo.

Saiu devagar, contando passo, "que não estava a fim de derrubar o potrilho-de-gente, tão bom, que lhe dera água naquele desgraçado meio-dia em que a sede quase o deixara louco".

Mas eu pensei diferente:

"Se é para andar assim, qual diferença que tem para a égua Caturra?"

Aí cometi um dos maiores erros da minha curta vida de peão. Para aligeirar o trote, inventei de colher um pedaço de vara de alecrim, que naquela época estavam altas e podiam ser alcançadas mesmo do lombo dum cavalo.

Pois foi eu me curvar, o Gato ouvir o estalo da vara se quebrando e, pronto, lá estava o terrível sinal: as duas orelhas murchas, deitadas para trás.

Transido de pavor segui as instruções o melhor que pude. Agarrei-me às crinas com todas as mãos e dedos que tinha, entreverando com as rédeas, que não larguei, mas também não puxei, encurtando, para frear a disparada - e eu era bobo de largar as crinas?

Só sabia dizer:

- Piiiicho! Piiiiiiiiiiiiiiiiíiiiiiiiiiicho!

Quanto mais piciiho, tanto mais corria o Gato.

A peonada voltava da Invernada da Várzea quando viu a coisa: o gato numa disparada de louco e, o pior, montado pro algum miúdo. "Só pode dar muito osso quebrado ou morte, que parece a coisa mais certa, que Deus nos livre e guarde!"

E arrancaram num galope desesperado a ver se conseguiam cortar a disparada.

"Acho que esse potrilhinho-de-gente agora toma jeito. Onde já se viu um meio-quilo desses atiçar um bagual de minha qualidade? E ainda com vara de alecrim. Sou cavalo que merece comandos com relho de cabo com detalhes em prata-e-ouro, mango trançado no maior capricho, como os de meu dono. Havéra de se vê - vara de alecrim ... Cada uma! Mas acho que já deve ter aprendido a lição. Além do mais, sou cavalo e não burro, para me atirar correndo nesse macegal aí. Sabe-se lá que buraco ou atolador pode ter."

E parou.
Foi o quanto estacou e já estou cercado de excelentes cavaleiros, alguns até domadores, que não acreditavam no que viam. Tinham pensado que era um miúdo. Mas não tão miúdo assim.

- O quê? O Pançudo montado no Gato? Só pode tê fugido!

Em cima do cavalo branco, um ginete mais branco ainda, de cagaço. Que falou:

- Não fugi coisa nenhuma. Ia era botá as vaca e foi o Vô quem me montô. Até botô o enxergão e o seu pelegão vermelho.

Que eu perdera na disparada ...

Alguém falou:

- Acho que o véio tá ficando caduco.

O susto passara. Acharam os perdidos, me ajeitaram de novo na montaria e fomos, todos juntos, buscar as vacas.

É claro que, disfarçadamente, sempre tinha um do meu lado. Nunca se podia saber o que inventaria de novo.

Na Bom Retiro, em final de tarde de verão, um piazito de quatro anos desmontou do cavalo do patrão, voltando duma campereada com a peonada toda, tendo seu causo para a roda do mate.

Durante meses ninguém agüentou tanta repetição da disparada do Gato, com o infalível final, perna cruzada em cima do joelho, que nem gente grande, e depois de dar uma cuspida para o lado de montar:

- E de em pêlo, viu?

Florianópolis, 13/02/1983

quarta-feira, 13 de abril de 2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

Vôo Solo

   Nada se compara à emoção do primeiro vôo solo.

   Só quem já viveu a experiência sabe o quanto é marcante, maravilhosa e indescritível.

   Duma hora para outra viramos pássaros. Já não dependemos de terceiros para ganhar os céus!

   Pena que eu não tenha o nome do felizardo que solou no dia 1º de abril, em Montenegro.

   Acho que de bobo ele nada tem ...

   Parabéns, comandante!

sábado, 9 de abril de 2011

Indo para a terra do Deoclécio, Alegrete

   O rio Ibicuí, bastante assoreado, mas, mesmo assim, lindo, majestoso, cortando boa parte do Rio Grande, antes de desaguar no rio Uruguai.
  

Relembrando


Relembrando os Velhos Tempos

Pois um passageiro que tinha pavor de avião foi obrigado a embarcar, em razão do falecimento dum parente.

Antigamente serviam-se as mais variadas bebidas, comidas, etc., uma baita mordomia.

A aeromoça, naquela época o nome se adequava e ela era realmente moça (na idade ...), notando os olhos arregalados do novel viajante, foi até sua poltrona e, gentilmente, ofereceu-lhe uma bebidinha, para relaxar.

- Por favor, um uísque - pediu o apavorado.

Veio o uísque dos bons (Drurys, dois meses e meio ...).

Mal ela virara as costas e o assustado pediu outra dose.

A terceira, a quarta e nada de se acalmar.

Vendo as possibilidades de o homem ficar bebum e aprontar, dado o estado emocional a moça sugeriu:

- Quem sabe o senhor come alguma coisa. Uísque no estômago vazio, pega mais do que pereba em perna de guri.

- Obrigado, mas prefiro beber, para ver se ferro no sono de vereda e não vejo nem a decolagem.

- Amigo, mas a empresa tem por norma não oferecer a quinta dose sem que o passageiro haja comido alguma coisa. Razões de segurança. O senhor pode pedir para comer o que preferir.

- Posso, mesmo, pedir o que quiser para comer?

- Sim, claro. Aqui o passageiro é quem comanda.

- Se é assim, quero comer a bunda do comissário! - falou bem alto, já meio enrolando a língua.

Fechou o tempo.

- Agora o senhor foi longe demais. É no que dá não saber a hora de parar com a bebida. Vou chamar o chefe dos comissários.

Foi lá, contou o sucedido e voltou acompanhada dum gaúcho de 1,90m, quase um metro de ombros, braços fortes, bigode de impor autoridade.

- Cidadão, por gentileza, sem escândalo, vim conversar sobre o incidente. Queira me acompanhar.

E conduziu o intimidado passageiro ao reservado.

Este, que não era bobo, vendo a estrutura física do comissário-chefe, não tugiu nem mugiu. Foi, pensando que iria levar uma sova, para aprender a não botar o nariz onde não era chamado.

Já onde os demais não viam nem ouviam, começou o interrogatório:

- O senhor pode confirmar o que falou para a comissária?

O homem era menor do que o grandalhão, em visível desvantagem, mas palavra de gaúcho é um tiro. Sem alternativa, repetiu:

- Eu quero comer o c. do comissário. Disse, repito e sustento.

- Se é assim, que se há de fazer.

O gauchão macho, bigodudo, de quase dois metros arriou as calças.

Mas fez um esclarecimento preliminar:

- Olha aqui, meu amigo, não hay gaúcho veado, e eu não sou gay.

E finalizou:

- Isto é apenas mais uma cortesia da VARIG!

sábado, 2 de abril de 2011

Leve Turbulência



O dia tava lindaço:
O ar bem limpo e parado.
Matutei "tá adequado"
Pro índio ganhar o espaço;
Pé-e-mão, a perna, o braço
Coordenando em sintonia.
Como o Deoclécio diria:
"É hoje que lavo a égua!
Vou voar prá mais de légua!
E bater fotografia!........."

Sou índio privilegiado.
Tenho baita companheira,
Que bota a mão na sujeira
E me ajuda um bocado.
Se o causo tá mal-parado,
Se tá tudo numa boa,
Sempre conto c'oa patroa.
É dessas que não se acha.
Não se assusta com graxa
E, num aperto, até voa!

Decolamos suavemente,
Dando rédea ao Kitfox,
E deixamos que ele fosse
Subindo e sempre pra frente.
Num trote firme e valente
S. Pedro do Sul aproamos.
O ar liso aproveitamos.
Eu dizia para mim:
Por que é que dia assim
Poucos por ano ganhamos?

Nuvem, nem pra remédio.
Só um ventinho fracote,
O teco sem um pinote:
Tão bom que até dava tédio.
Até um piloto médio,
Ali voaria bem.
Tudo como convém
Ao vôo pelo prazer
De ver o avião responder
Comandos, feliz, também!

O vôo era compridote.
O vento foi aumentando.
Aos poucos fui trabalhando
Mais, mantendo o trote.
É importante que se note
O tempo e sua mudança.
A natureza alcança
A gente, o braço é comprido
E o qüera desprevenido
Se embreta na lambança.

Nas terras de S. Sepé
Parei pruma desaguada
E dar uma completada
Nos tanques, que nunca é
Demais gasolina e a pé
Não planejava ficar.
Ainda tinha que voar
Pras bandas da Vila Nova
E aí começou a prova
Que nem gosto de lembrar.

Assim, no mais, de repente,
Como saída do nada,
Turbulência inesperada
Incomodava o vivente.
Peleando incessantemente
Em mexeção de schimia;
De aparência, lindo o dia,
Mas ascendente aqui,
Descendente logo ali
Roubaram minha alegria.

E depois da Vila Nova
Encardumou-se o retoço.
Eu que já não sou tão moço
Vi minha experiência à prova.
Tava levando uma sova
Pra dominar o aparelho:
"Ou tô por demais de velho,
Ou tá feia a turbulência
Pra tudo é preciso ciência
Mas tô apanhando de relho."

Vendo o causo mal-parado
Resolvi subir um pouco.
E quase que acabo louco
Com o tal vento cruzado.
Não sabia de que lado
Iria vir a paulada.
Na situação delicada
Optei mais baixo voar
Lá sabia o que esperar
E me negar da pealada.

Baixei a velocidade
Quase de nada adiantou.
O pingo corcoveou
Uma barbaridade.
Até me dava vontade
De pousar numa coxilha.
Temendo quebrar a encilha
Fui brigando a soco e tapa:
Do lombilho não escapa
Quem tem sangue Farroupilha.

E não mais que de repente
Fomos chamados pro Céu.
Subimos um escarcéu,
Um pensamento presente
"Sempre após a ascendente
Vem a corrente oposta".
Tudo o de que não se gosta
Acaba nos acontecendo
E veio um soco tremendo
Que nos afrouxou até a bosta!

Pra baixo fomos jogados
Com enorme violência.
Foi a maior turbulência
Em tantos anos voados.
Se não estamos amarrados,
O teto a gente furava
E eu ainda estragava
Esta minha linda estampa
deixando parte das guampa
No teto que atravessava ...


Nem faltava meia hora
Para na pista chegar.
E manicaca a suar
Dando-lhe relho e espora.
Pensando "Será que é agora
Que vou mudar de querência?
Mas gosto desta existência.
Tá certo que a coisa é feia:
Mas me entregar sem peleia
É contra minha consciência."

O céu azul continuava,
O Kitfox agüentando,
O piloto se borrando,
O GPS bombeava.
O tempo nunca passava.
Parecia pesadelo.
Era peão montado em pêlo,
Num redomão encruado.
Pra cima e baixo jogado
Mas se agüentando com zelo.

Confesso não entendia
Porque tanta turbulência.
O céu numa transparência ...
Nenhuma nuvem se via.
Era um baita dia
O jeito era agüentar.
Pensava em como pousar:
"Se aqui já tá desse jeito
Nem quero pouso bem-feito
Só o teco não quebrar."

Trezentos metros de pista
Com vento de atravessado.
O domador assustado
Se obriga a baixar a crista.
E só querer por conquista
O prêmio mais valioso:
Nada de grandioso.
Como sempre se diz:
"Um vôo só é feliz
Se ele termina em pouso."

No tráfego, dando espora
A biruta a noventa.
A coisa que se apresenta
Não me era animadora,
Mas era chegada a hora
Da onça água beber.
Não tinha muito a escolher:
Era pousar ou pousar
E tentando não quebrar
Avião, piloto e mulher.

Com medo e com coragem
Que é este o segredo:
Coragem é vencer o medo,
Buscava o fim da viagem
Sem fazer uma bobagem,
Que naquela situação
Quebraria o avião.
E isso não combinaria
Com o azul daquele dia
Nem com os pilas do peão.

Indo pra reta final
Esperava uma pauleira,
Mas foi baixando a poeira
E subindo meu astral.
Talvez eu não pouse mal.
Talvez a coisa dê certo.
E eu me saia deste aperto
E não se vá tudo à breca.
Talvez eu não suje a cueca.
Do final feliz tô perto.

Não foi uma Brastemp o pouso,
Mas também não foi placaço.
O avião tava inteiraço,
Mas foi um vôo tinhoso.
Deu pra ficar  orgulhoso.
Então, ficamos assim:
O avião é bom, pra mim
A Sandra é corajosa
E o Lambe-Lambe Barbosa
Até nem é tão ruim ....