sábado, 16 de dezembro de 2023

Semana de 10 a 16 de dezembro de 2023


 

       Nossa homenagem aos pilotos agrícolas veteranos !!!

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   "Lambe-Lambe" fazendo seu PP ... kkk

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   Alguém fazendo arte em Uruguaiana ...

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Publicidade

   Isso foi  publicado lá por 2011 e, como se vê, o Lambe-Lambe é quase um Nostradamus como poderoso vidente ...

                  NOVA EMPRESA DE CONSULTORIA

Acabamos de terminar ... (sic) (hi, ih, hic ...) (conforme os apresentadores da Globo) a abertura de nova empresa de consultoria. Trata-se da Balocci e Beoccio (coligada das organizações Lambe-Lambe), empresa especializada em descobrir o caminho das índias (com minúscula, mesmo), o carreiro das formigas, o jeito de chegar lá, essas coisas.

 

Trata-se de empresa totalmente desvinculada do mundo político. Apenas facilitamos onde nossos amigos antes criaram dificuldades.

 

Também não cobramos honorários exorbitantes. Aceitamos contribuições módicas, tipo cobertura de seis milhões e dez centavos, iates, ultraleves a jato, helicópteros experimentais Jet Ranger, Esquilo, etc.

 

Nossas relações com o poder são pudorosas. Por isso não podemos podar a vontade da maioria, que deseja que os representantes do povo vivam como todo o povo sonha em viver, isto é, no fausto e esplendor ...

 

Se a imprensa tendenciosa fala mal de nossa empresa é por absoluta falta de notícias. Pena que o Brasil não tenha um inimigo número 1, apesar dos inúmeros inimigos internos que cruzam certos corredores do Planalto Central, zona do cerrado, e que, se presos, fogem com Serra nas grades ...

 

Nossos sócios são pessoas do mundo dos negócios, um é médico-veterinário, acostumado a tratar com burros, portanto. Outro foi dentista Por isso sabe lidar com a dor alheia, quando os pilas somem.

 

Aos pilotos em dificuldades para documentar suas aeronaves, comprar suas aeronaves, multiplicar suas aeronaves, prestamos serviços indispensáveis (isto é, se não formos contratados, seu processo será encaminhado ao Triângulo das Bermudas) e, facilitamos facilidades difíceis de encontrar no conturbado mundo das consultorias, que são entidades que te ensinam a fazer o que não sabem e de que não tens a mínima necessidade.

 

Se, porventura formos pegos com a mão na massa ou a boca na botija, garantimos que morremos, mas não entregamos o ouro para o bandido. Nossas cláusulas de confidencialidade são confidenciais, mesmo. Nem que a vaca tussa, soltamos a língua presa (ops).

Ninguém ficará sabendo quem doou, contribuiu, depositou, entregou carrão, patrocinou festas de arromba e o sigilo de nossos contratantes jamais será quebrado, a menos que seja caseiro do Piauí ...

 

Caso a pressão, a opressão, a impressão, a opinião, tudo se junte e nos cerque te forma irresistível, e o processo de fritura seja inexorável, renunciaremos ao cargo de sócio da empresa, sairemos de mansinho, com o peito estufado de orgulho pela certeza dos inestimáveis serviços prestados. E o bolso também..

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Pajada da Semana


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domingo, 10 de dezembro de 2023

A Primeira Experiência

                    O Freddy Wenzel, que comprou um motor Rotax e ganhou um Kitfox americano de brinde em negócio que fez comigo, dia desses postou erradamente uma foto de entelamento de seu May, ultraleve acrobático, creio que do aileron ou flaperon, não lembro mais, erradamente no Grupo Kitfox Brasil. 

                    Depois corrigiu e esclareceu o engano. 

                    Tal engano trouxe-me à memória minha aventura com o tal May, por isso republico no blog a tal encagaçante aventura.


 

                   Já era piloto privado, com bastante horas de vôo, muito convívio com aeronaves e aeroclubes, por causa do trabalho com fotos aéreas, mas em matéria de ultraleve, era um analfabeto de pai e mãe.

 

                   Andava por Novo Hamburgo, tentando vender minhas fotos  para algumas empresas da região e, como todo apaixonado por vôo, sempre que possível, dava uma bisbilhotada no céu. E o que vejo? Um inseto voador todo diferente, biplano, aberto, voando no circuito de tráfego do Aeroclube de São Leopoldo, meu ninho de “águia”, mas não tão “águia”, assim ...

 

                   Que vender foto, que nada. Parei tudo e me mandei para lá, a fim de conhecer o “aparelho”, como dizia o saudoso Ivan Azambuja.

 

                   Ao chegar, vejo alguém levando uma surra da aeronave, pois não conseguia pousar. Todo o mundo no maior pavor, pois já era a segunda tentativa e o “comandante” comia toda a pista flutuando e nada de tocar. A gurizada fazendo sinal para que cedesse o manche, mas o dito, por cacoete de instrutor no Aeroclube, insistia em chamar mais ainda, só que o avião não entrava no famoso “estol controlado ao nível de  toque”.

 

                   E lá se foi para mais uma arremetida.

 

                   Enquanto fazia novo circuito de tráfego, fui especular o que estava acontecendo. “É que o Cel. Albrecht trouxe o May (nome do ultraleve), para demonstração e os instrutores e pilotos de mais experiência estão fazendo um “test drive” - foi o que me disseram.

 

-         E quem autoriza ou escolhe os que podem voar? – perguntei.

 

-         Ah, isto é com o Marcos.

 

                   Era ele o instrutor-chefe à época.

 

-         Marcos, põe meu nome aí na lista, que eu quero voar.

 

                   - Nem pensar – foi a resposta categórica.

                   - Como “nem pensar”, se tenho muito mais horas de vôo do que qualquer um desses instrutores aí. Se eles conseguem, por que é que eu não vou conseguir?

 

                   - Tu não tás vendo que o cara não tá conseguindo pousar? Para tu teres uma idéia, até eu não vou voar – complementou – como se isso fosse um argumento definitivo.

 

                   Retruquei:

 

                   - Tu não voas porque é cagão. Mas eu não sou. Marcos, em nome de nossa amizade e do monte de horas que ganhaste nas navegações pagas por mim, fala com o Albrecht e diz que eu tenho condições de fazer um circuitozinho.

 

-         Tá bom, mas algo me diz que tô buscando encrenca.

 

                   Falou com o homem e ele autorizou minha humilde pessoa a voar.

 

                   Passou-se então ao ‘briefing”. Acho que o mais curto que já fiz até agora, tanto que dezesseis  anos depois ainda lembro perfeitamente de todo ele:

 

                   - Dá-lhe manete, chama com setenta, sobe a setenta, cruza a noventa e pousa a setenta. Não esquece que o freio é na mão, para as duas rodas e que esse avião flutua muito. Para tocar na pista tens que ceder o manche. Podes decolar daqui da intersecção, mesmo, que não há necessidade de aproveitar toda a pista, que ele sobe que é um louco.

 

                   Falou isso enquanto ajustava os pedais, que ficavam muito longe, para as pernas curtas do baixinho aqui.

 

                   Assim, me fui, todo cheio de razão, achando que já era um ás.

 

                   Pelo pouco que andei no solo – somente a distância entre o pátio e o intersecção - não tive tempo para maiores avaliações. Chegando à pista, alinhei e dei-lhe manete.

 

                   E aí a coisa encrespou de vez. Eu, que era acostumado com aviões lentos, que aceleravam devagar, tipo Paulistinha, Piper 140, Tupi, quando me dou por mim estou grudado no encosto por causa do torque, vendo o velocímetro disparar, no maior pavor (controlado), que decido abortar a decolagem, pôr o rabo no meio das pernas e admitir que ainda não estava pronto para aquele tipo de vôo. Só que a potência do motor, combinada com a leveza do avião, combustível no mínimo de segurança e o pouco peso do piloto magrela, andaram mais rápido do que o neurônio em funcionamento naquele dia.

 

                   A decisão de abortagem já me pegou no ar.

 

                   Então me bateu uma repentina vontade de visitar clientes, oferecer fotos, mesmo aos mal-educados, aos unhas-de-fome, qualquer espécie de gente ruim, desde que estivessem conversando comigo no solo.

 

                   Como falei, o pavor era controlado. Se um problema não tem solução, solucionado está.

 

                   “Se quero rever a Ju e o resto da família tenho que me manter voando”, pensei enquanto cravava os olhos no velocímetro, seguindo as instruções do longo “briefing”: sobe a setenta milhas.

 

                   Mas tinha um sério problema: a setenta milhas, a impressão que tinha era de que estava subindo na vertical e que a qualquer momento iria entrar num estol de badalo, ou coisa parecida. “Se tiro o motor para diminuir o ângulo de subida sei lá que atitude ele pode tomar. Vou fazer o seguinte: mantenho a aceleração e subo num ângulo mais suave.”

 

                   E lá me fui, subindo a noventa milhas, que era só o risco e o fedor. Completada a subida reduzi a manete, para manter as noventa de cruzeiro.

 

                   Aí tive uma folguinha para olhar para baixo e quase me borrei todo: estava montado num banquinho mais estreito do que meu sentante, o que  dava a sensação de estar pendurado num par de asas veloz e sensível, nada tendo que passasse por baixo do meu corpo. De novo o pavor controlado ...

 

                   Mas aí já eram horas das manobras de pouso. Reduzo um pouco a velocidade, mas não para os setenta, giro a base, pego a final e, como estava um pouco mais veloz do que o aconselhado, o ângulo de descida foi maior e permitiu que estivesse em altitude quase de toque bem no início da pista.

 

                   Se entrando a setenta o avião flutuava toda a pista, imaginem a oitenta ...

 

                   Só que eles “não contavam com minhas astúcia”. É claro que eu não iria bancar o bocó de ficar chamando o avião para tentar um toque convencional e comer toda a pista, tendo que me submeter a todo aquele pavor de novo, se fosse necessária uma nova arremetida. “Ele falou que tem que ceder o manche do contrário o avião não pousa.” Dei uma olhada para baixo e vi o pneu do trem  a mais de um metro do solo. “Tô alto. Dá para ceder bastante”.

 

                   E cedi.

 

                   Mas a cedida foi uma espetada.

 

                   Para quem olhava à distância, pilonagem certa.

 

                   O Albrecht contava o avião perdido, o instrutor-chefe já se via expulso do aeroclube por haver autorizado a experiência.

 

                   Repito: “não contavam com minha astúcia”.

 

                   Quando vi o trem quase tocando, arredondei e toquei “manteiguinha”, de acordo com “todos os meus movimentos friamente calculados”.

 

                   Mas, e alguém acreditou que eu fizera aquilo de  forma consciente e sob controle?

 

                   Cheguei ao estacionamento achando que mereceria cumprimentos pelo curtíssimo pouso. O que recebi foi uma baita mijada:

 

                   - Barbosa, se tu queres te matar, escolhe outro jeito, não o Aeroclube. Como é que tu me dás uma espetada a tão baixa altura? Tiveste muita sorte!

 

                   - Ué, vocês não disseram que tinha que ceder o manche. Eu cedi.

 

                   Não sei porque, de repente apareceu um problema no “aparelho” e ninguém mais voou naquele dia....

 

                   Eu, no entanto, voltei para casa todo bobo. Entrara pela primeira vez num ultraleve, não fizera duplo algum nem em aeronave levemente semelhante, não “quebrara a garça”, pousara manteiga e ainda dera um cagaço na rapaziada.

 

                   Sentia-me um verdadeiro ás.

 

                   Ou seria asno?...

 

      Esse é o Inseto ....







sábado, 18 de novembro de 2023

Pajada da Semana

 


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INFALÍVEL SIMPATIA PARA NÃO SOFRER PANE

 

 

Embora a maior parte dos acidentes, incidentes e similares sejam causados por falha do equipamento que fica entre o painel e o encosto do banco, lá de vez em quando surge uma pane de motor, que pode causar sérios inconvenientes, inclusive pesada conta na lavanderia para tirar manchas amarelo-amarronzadas das roupas, razão por que a Lambe-Lambe Assessoria Esotérica e Mística divulga a seguinte simpatia:

 

"Desmonte sua aeronave e coloque sobre um caminhão numa sexta-feira 13, à meia-noite. Leve o equipamento a uma encruzilhada, enfie uma vela de sete dias e sete centímetros de diâmetro no castiçal. A seguir acenda a vela e volte para casa com o caminhão e a aeronave. Importante: não utilize o seu brinquedo caríssimo durante o período da simpatia.

 

Volte durante treze sextas-feiras. Enfie de novo a vela. Acenda e volte para casa.

 

A partir da primeira semana você já sentirá aquela maravilhosa sensação de segurança que um motor confiável lhe transmite. A cada sexta, com uma nova vela enfiada, você estará chegando mais perto da segurança absoluta.

 

Garantimos que durante todo o período a única pane poderá ser a do caminhão e a de seu equipamento de uso com a patroa.

 

Passadas as treze sextas, remonte seu avião e volte a voar com absoluta tranquilidade.

 

Ah, importante: nunca deixe de fazer uma revisão completa com um mecânico competente. Se a simpatia não funcionar, a culpa será da vela ... do mecânico, do fabricante, nunca de nosso "trabalho".

 

Para garantir o efeito, sugerimos que envie módica contribuição à ONG, APSP (Associação dos Pilotos Sem Pila), que ainda não tem conta-corrente e por isso, em deferência especial, está autorizada a utilizar a conta do Lambe-Lambe.

 

Satisfação garantida ou seu dinheiro com as "tias" ...

 

Teve um piloto que não enviou sua contribuição. Ao contrário daquelas famosas corrente da internet, nada de ruim aconteceu com ele.

E de bom, também nada aconteceu ...

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   Este é o famoso 15 Bis, cruzamento de porco-espinho com jacaré (Netuno e Kitfox), projeto e construção do saudoso Marcos Ledur. 

   Com esse tequinho cruzei muito este Rio Grande.

   Motorzinho VW 1600, original, um carburadorzinho de 30 mm.

   Quem mais voou com ele fui eu. 

   Até que um dia inventei de voar no dia mais quente do ano de 2010. 40° e o Lambe-Lambe voando. 

   Não deu outra: o superaquecimento foi tal que chegou a derreter um cabo de vela. Lá me fui pruma lavoura de melancia, onde quebrei todo o tequinho ...

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domingo, 12 de novembro de 2023

Procura-se Um Aviador

 PROCURA-SE UM AVIADOR

(Autor desconhecido)


Procura-se um aviador. Nem jovem nem velho, apenas antigo. Que tenha sensibilidade para lidar comigo e compreenda minhas manias, pois já estive à beira do desaparecimento e fui ressuscitado - ou restaurado - como dizem por aí... Cada novo pedaço de tela, cada nervura, representa cicatrizes dos lanhos de uma vida de voos e pousos, mais rangidos, estalidos e tendências deste meu corpo - ou fuselagem...

Meu piloto poderá falar quando quiser, mas, sobretudo, terá que saber escutar, ouvir e entender os sons que sou capaz de emitir: como o assobio do vento relativo nos meus montantes e estais: o ronco do meu fiel motor que, as vezes, espouca e tosse, com um bafo de fumo azulado.

Procura-se um humano que compreenda os meus códigos, que talvez sejam mensagens diluidas pelo tempo e remanescentes de

aviadores antigos que me conduziram, ou a outros iguais a mim.

Procura-se um aviador que não se importe com meu cheiro de dope, graxa e gasolina, também não se melindre quando eu o espir-

rar óleo. Deverá ainda saber usar a bússola e ler uma carta seccional, reconhecendo referências no terreno, compensando o vento e mantendo a rota, sem precisar de mostradores eléctricos. Este piloto decerto apreciará as pistas de erva e cascalho.

O aviador que procuro deverá saber extasiar-se com minhas antiquadas chandelles, turneaux e loopings, apenas alegres e espontâneos bailados, sem pretensão a aplausos ou troféus.

Procura-se um aviador que tenha prazer de voar a qualquer hora, mas preferindo decolar ao nascer do sol, ou conduzir-me nas luzes mágicas do sol poente. Meu piloto será um saudosista por certo, sobrevivente do tempo em que um avião era um aviăo, e não um foguete com asas, recheado de automatismos.

Este piloto será tido como esquisito, pois será reservado e escondido, numa surrada jaqueta manchada de óleo. Será encontrado, junto com poucos iguais a ele, numa boa conversa de hangar.

O aviador que vier por este anúncio será aquele que procure poesia na aviação.

Procura-se este aviador raro, que tenha carinho por mim, a despeito da minha idade, e que, principalmente, não permita que

Ihe arranquem o romantismo.

Interessados dirigirem-se ao Hangar da Saudade, no Campo dos Sonhos, procurar pelo velho, porém majestoso, North Ameri-

can Texan T-6, mais conhecido por "Temeia".

sábado, 28 de outubro de 2023

É Proibido Fumar

 

         É Proibido Fumar

 

Até uma criança de dois anos de idade sabe que é proibido fumar em locais onde haja manuseio ou estoque  de combustível.

Em área aeroportuária, hangares, bombas de gasolina e similares, então, placas e mais placas chamam a atenção de pilotos, mecânicos e os demais frequentadores para a expressa proibição de fumar.

Pois o blogueiro-escrevinhador é fotógrafo que se especializou em fotos aéreas, estando, desde o início deste tipo de atividade, em constante circulação por aeroportos, aeroclubes, pistas agrícolas e outros lugares onde se possa conseguir um avião para fazer os voos panorâmicos. Claro que isso, neste ano da graça de 2023 mudou muito, pois os drones estão tomando conta desta prestação de serviço.

Mas lá pelo final da década de oitenta, início dos anos noventa, foto aérea era feita de avião, helicóptero ou satélite, o que me obrigava a andar alugando avião por todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e até no Uruguai.

Claro que por uma questão de boa vizinhança, educação e necessidade de manter a boa recepção por onde andasse, sempre procurava cumprir rigorosamente as leis, regulamentos, restrições e medidas de segurança normais ao meio aeronáutico.

E lá estava o humilde “retratista” como diz o Jader Dutra – decano dos pilotos gaúchos – às voltas com o preparo dum avião para mais um voo de documentação fotográfica numa determinada entidade, cujo nome não vou publicar, para preservar os “interésses” como diria o Brizola.

Eis, senão quando aparece um cidadão muito seguro de si, fumando bem próximo ao avião em abastecimento. Querendo fazer uma certa média com os administradores da entidade, educadamente aproximei-me de dito fumante pedindo-lhe que apagasse o cigarro, em obediência às placas de aviso.

Claro que fiz isto também com receio de que o imprudente fumante pudesse ser confundido com alguém que estivesse comigo para o tal voo fotográfico.

Pois o sujeito nem aí para o meu polido requerimento de preservação da saúde e segurança dos aeronautas próximos ...

- Cidadão, insisti, por favor, apague o cigarro. Aqui é expressamente proibido fumar. O combustível dos aviões é gasolina de alta octanagem e uma fagulha aqui representa uma ameaça muito grande de explosão.

Aí mesmo que o sujeito deu uma tragada de fazer a brasa da ponta quase virar labareda.

Não me contive:

- Meu amigo, parece que com jeito o senhor não quer entender a situação: se continuar desrespeitando as normas de segurança, vou ser obrigado a pedir que o senhor se retire daqui.

Ao que ele retrucou:

-Mas e quem é o senhor para me tirar daqui?

- Eu sou um piloto visitante, que irá voar em minutos nesse avião e não quero ser confundido com gente que causa problemas, desrespeitando as regras aeronáuticas, o que pode fazer com que eu seja penalizado  com proibição de novos voos aqui.

- E se eu te garantir que não vai haver punição alguma para ti ou para qualquer outro?  - retrucou o sujeito num tom atrevido e de provocação.

Prossegui já meio saindo do normal, como diz a música aquela:

- Isso não está em discussão. O que o senhor tem que fazer é apagar o cigarro e ponto final. Se noutras situações há tolerância quanto ao descumprimento das regras de segurança, aqui no aeroporto a coisa muda de figura.

- Por gentileza, apague o seu cigarro.

- Não apago! É só o que me faltava: um qualquer, vindo não se sabe de onde, querendo me dar ordens.

- Sou um qualquer, mas tenho treinamento e mentalidade aeronáutica: o que lhe peço é para o bem de todos. Se o senhor não colaborar, vou ter que levar o caso adiante.

- Adiante como? Retrucou o fumante.

Comunicar o pessoal do aeroporto, o DAC (faz tempo), a direção do Aeroclube, por exemplo.

- Olha aqui, rapaz, vou continuar meu cigarrinho e não vai ser uma baixinho magrela que vai me mandar  apagar.

Aí, tive quer partir para a queima de etapas:

- O senhor está numa área particular, fiscalizada pela União Federal e se eu levar o caso ao conhecimento do Presidente deste aeroclube o senhor vai se complicar bastante.

Salientando que estávamos nos tempos da Ditadura Militar, quando os membros das forças armadas realmente mandavam. Podia até sair umas feriazinhas com despesas pagas em hotel zero estrelas e com direito a uns “carinhos” como cigarro aceso na sola dos pés, pau-de-arara, esses mimos ...

Mas o homem era durão e não se intimidava mesmo.

Não apagou o cigarro.

- Bom, falei, vou ter que levar o caso adiante, antes que sobre pra mim.

E para o piloto que iria fazer o voo avisei:

- Me aguarda um pouquinho, que vou na secretaria conseguir o contato do  presidente do aeroclube e já volto.

O sujeito deu  mais uma tragada e, irônico, falou:

- É desperdício de tempo.

Respondi:

- Não é!

Replicou:

- É, sim. E te provo que estou com a razão.

- Então prove.

- É perda de tempo procurar o telefone, pois o presidente do Aeroclube sou eu.

Aí a coisa ficou complicada: eu precisava continuar voando na região. Os únicos aviões disponíveis eram os de tal aeroclube. Que pepino!

- Bem, o senhor há de me compreender, não fiz por  mal. Apenas quis colaborar com a disciplina aviatória, mas se o senhor acha que dá para fumar aqui, sabe que até me deu vontade de acender um cigarrinho antes do voo?

Só então me lembrei de que nunca fumei ...

Acontece cada uma ...

E é pura verdade, hein, Neco?


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Hospitalidade Pura

 

         Nunca é demais repetir a grande hospitalidade da Terra dos Marechais – São Gabriel,   para com os pilotos que comparecem ao EPAER – Encontro de Pilotos e Aeronaves.

         Também é  de amplo conhecimento da comunidade aeronáutica que este blogueiro é uma exceção em termos de potencial econômico-financeiro neste meio, isto é, o próprio é um duro com certidão emitida e autenticada pelas autoridades competentes...

         Talvez por isto mesmo seja contemplado com uma deferência especial pelo pessoal de São Gabriel. Como há uma casinha do antigo Clube de Aerodesportistas que fica quase todo o tempo sem uso e, sabendo que a guaiaca do fotógrafo anda meio vazia, o “Lambe-Lambe”, que não é de luxos, nem poderia ser, quase sempre fica hospedado ali.

         Neste ano não foi diferente: liguei, me confirmaram a acomodação e se fumo ...

         Chegando lá o Felipe me advertiu:

-  “Lambe-Lambe” tu dá uma varrida. Isso tá sem movimento há tempo.

Mas vocês sabem como é: quem numa festa vai trocar um bom papo com amigos, mate, cerveja por uma varrição a capricho?

Como a camada de poeira não ultrapassava meio milímetro de altitude, relevei, calculando que como não chovia dentro da casa, com certeza não haveria risco de aquaplanagem num pouso de comandante um tanto quanto “Choppado”.

Eu disse choppado, não chapado ...

Fiz uma vistoria superficial, estendi os lençois, ajeitei o resto das traquitanas e me mandei pro hangar do festerê.

E dê-lhe prosa, mentira, verdade, chopp, churrasco.

“Porementes” tem a hora de ir pra pouso e hangarar.

Mas isto depois dum churrasco primoroso, com uma costela bovina macia barbaridade, finalizando com outra costela, agora de ovelha, claro que com a famosa gordurinha.

Aproveitei.

Lá pelas duas e meia da manhã, me acordo com as tripas na maior rebordosa e foi o quanto deu para chegar ao banheiro.

Cá comigo:

“Quem manda um velho de setenta e um anos se atracar a comer carne gorda de noite? E ainda refrigerada a chopp?”

Amanhã vou maneirar – pensei.

E voltei pros pelegos.

Mal deitei já tive que pular e ser ligeiro que nem gato no charque. Foi o quanto cheguei no vaso e deu-se o empuxo da turbina ...

Acho que fui umas oito vezes à “patente” antes do nascer do Sol.

E dê-lhe a xingar os  criadores de bichos tão irresistíveis e os assadores que faziam aquela carne derrubar as barreiras salutares de qualquer cristão.

Isso foi na sexta à noite.

No sábado o dia amanheceu lindo, maneirei nas carnes e no chopp.

Tudo parecia dentro dos conformes.

Felizmente à noite foi um coquetel bem mais leve do que a churrascada da sexta.

O domingo, ainda que com chuva a partir das 10 da manhã, foi outro de muita convivência, alegria e, para variar churrasco de primeiríssima. Peguei leve na carne e não bebi álcool, pois tinha a estrada de regresso a fazer.

Só que sentia um certo mal-estar, cansaço, sonolência.

“Deve ser pelo muito tempo em pé, forçando a coluna, a  churrascada, o choppinho, etc. (especialmente o etc.)”

Cheguei em casa bem, só que cansado além da conta.

De novo pros pelegos.

De manhã, na segunda, o cansaço e o mal-estar continuavam: DNA – Data de Nascimento Antiga,  pensei...

Não era.

Olhando a mão esquerda, notei que na base do polegar esquerdo havia uma bolha em formação.

Meu diagnóstico certeiro: uma aranha me picou. Mas achei que fosse coisa sem consequência.

Compressa caseira e a certeza de que nada mais sério acontecera.

Mas não: a bolha crescendo.

Decisão: amanhã cedo me mando para Santa Maria. E me fui.

Encurtando a prosa:

A picada da aranha marrom, uma das mais perigosas me escolhera. Ela é perigosa, porque a picada é indolor, não incha, não avermelha e  a gente só vai se dar conta da realidade quando o estrago está bem grande, pois ela já pode ter causado  um monte de problemas aos órgãos internos, especialmente rins.  A partir do terceiro dia é que aparecem as bolhas, necrose local, etc., como fora o caso.

O médico me falou:

- Tiveste sorte. Ela inoculou uma quantia mínima de veneno. Mas a sintomatologia é da marrom.

Fiz o tratamento e, parece, está tudo dominado.

Agora vejam vocês: lá a hospitalidade é tanta que até os insetos (?) vêm cumprimentar a gente ...

Como não sou de me entregar pros home, nem pras “marrom” vai um versinho:

 

Bem como tinha que ser

Eu me larguei do meu pago;

Chimarrão, carne e bom trago,

Tudo tinha no EPAER.

Muito avião pra gente ver.

E demonstrando seu dom

Muito ás, piloto bom,

Em aula de acrobacia.

Assim, como é que eu iria

Ligar pra tal de “marrom”?


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