sábado, 23 de janeiro de 2021

Primeiro Grande Voo Comercial no Brasil



   Era um gigante na época. Trinta toneladas voando a 175 km/h sobre o Atlântico Sul. Seis motores com doze hélices ...
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Esclarecimentos
   Pretendo retomar o Blog do Barbosa "Lambe-Lambe", nos moldes iniciais. Postagens todos os finais de semana, se possível no sábado, para que o pessoal possa acessar com calma. 
   Sempre terá assuntos de aviação, preferencialmente a aviação leve e geral.
   Vamos fazer com que o Blog volte a ser o ponto de comunicação entre os pilotos e apreciadores da aviação aqui do Sul do Brasil e, por que não, do resto do país. 
   Anúncios de venda, trocas, informações sobre onde conseguir peças e materiais, tudo será publicado sem mexer na guaiaca da gauchada. Pelo menos inicialmente.
   Histórias, experiências, também serão postadas. Mande para o blog aquele seu baita cagaço, a mancada que deu, os erros cometidos, para servirem de alerta aos demais manicacas. 
   Sempre vamos levar a coisa mais para o lado bem-humorado, mas nunca esquecendo de que aviação é coisa séria e sempre lida com vidas humanas. 
   As contribuições serão recebidas pelo e-mail vilsombarbosa@hotmail.com ou pelo whatsapp (55)99997-6269.
   Então, "temo" combinados!
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         Vocação para Tatu

 

         O Aero Boero até é um avião razoável, desde que seu motor tenha, no mínimo,  150 hp. Aquela enjambrina que fizeram num acordo comercial com a Argentina, com troca de não lembro o que pelos ditos aviõezinhos foi muito do mal-feita. Em vez dos originais 150 hp, os "aparelhos" vieram com apenas 115 cavalos. E meio magricelas...

         Com tanques cheios, dois pilotos, o avião fica uma pata choca. Até sobe, mas devagar, quase parando.

         O blogueiro, há muito tempo alugava tecos para fazer "retratos" panorâmicos. Voava CAP 4, J3, Embraer 140, Tupi, esses equipamentos.

         E, às vezes, por necessidade, era obrigado, a contragosto, a voar nos tais Aero Boero.

         Andando por Santa Catarina e não vou dizer exatamente onde, para não comprometer o Aeroclube, tive que, esperneando, entrar num AB para fazer uns panorâmicos.

         Era um dia pré-frontal, quente, com pressão atmosférica baixa, tudo ajudando ...

         Mas o "Lambe-Lambe" veve de retratos e o jeito era encarar.

         Fomos pra cabeceira, o comandante deu motor e o aviãozinho começou a comer pista, comer pista, comer pista ... Até que resolvesse sair do chão demorou uma eternidade.

         O pior é que saímos e aí começou a briga com o altímetro: pra conseguir 150 pés por minutos de subida, só com muita reza forte. Mas fomos peleando, peleando, até chegarmos nos mil pés.

         Aí aproamos o local das tais fotos e fomos sem grandes sustos, voando nivelados, mas com o motor sem muita margem para enfrentar eventuais imprevistos.

         Como o blogueiro já tinha uma certa experiência, para evitar maiores percalços e cagaços, não se arriscou a voar mais baixo. Quem tem, tem medo.

         E a região inicial era num vale.

         Pois as fotos daquele vale foram feitas e tínhamos  que ir para um outro vale, na continuidade dos  clics documentatórios.

         Só que a natureza inventou de sempre colocar  uma cordilheira entre dois vales ...

         Comuniquei o guri que já era hora de irmos pro outro vale, além da tal serra, presente da mãe-natureza ...

         Ele fez sinal de entendido e tomou a proa da cidade seguinte a ser sobrevoada, lá do outro lado da morralhada.

         E botou a manete no esbarro rumo ao primeiro cerro, esperando o milagre da subida do Aero Boero.

         Só que o vento era de cauda e, se com vento de proa, mal subia a 150 pés, agora, praticamente não mexia o altímetro.

         E o morro vindo ligeirito em nossa direção, pois com vento no traseiro o AB ficou veloz ...

         O "Lambe-Lambe" atento, vendo o que o guri ia fazer.

         Sei lá o que o rapaz tinha na cabeça, acho que vento ou merda, pois já estva chegando ao ponto em que não se poderia fazer a curva sem risco de bater no morro, estolar, etc. e ele aproado bem com a metade da altura da montanha.

         Pulei nos comandos e inicieia a curva de 180 graus.

         - O que stásch fazendo? - falou com aquele sotaque de catarina.

         - Evitando abrir túnel no morro!

         E acrescentei:

         - Com o avião "subindo" deste jeito, nem com a ajuda de todos os santos de todas as crenças nós vamos ter altura maior do que o topo.  Vamos aproar o vento, subir até ficar acima da crista da serra e, aí, sim, passar para o outro vale.

         A manobra deu certo, tanto que estou contando, mas se fosse um fotógrafo que não tivesse experiência como piloto, com certeza aquele teria sido o último voo da dupla.

         Fica a dica: nunca tente ultrapassar uma serrania sem antes ter altitude superior a ela e com uma certa margem. Isso de achar que a razão de subida vai ser suficiente é um convite ao carro fúnebre.

         E se vier uma descendente sem prévio aviso? E se mudar o vento? Aí, em vez do lift, teremos um rotor jogando o avião para baixo.

         Não é por nada que num determinado ano houve mais mortes de pilotos e fotógrafos do que pilotos agrícolas.

         Na minha opinião há causas bem notórias: quase sempre o piloto de aviões usados para fotos é recém-iniciado no voo comercial, às vezes apenas PP, em ambos os casos com menos de 100 horas de voo, o que não é nada. Também pode ser um instrutor com as suas 150 horas, mas voando muito em região conhecida e com altitude maior. Deve contribuir, ainda, o fato de alguns pilotos irem trabalhar em locais totalmente estranhos, sem saber como se comporta a meteorologia, o tipo de relevo, ventos, alternativas, etc.

         Por via das dúvidas: se ainda não está acima e bem acima do topo duma cordilheira, não tente sobrevoá-la. A tentativa pode ser sua última ação "nesta terra que o Senhor teu Deus te dá."

          

 

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