Pois como lhes falei
minha carreira como piloto de asa delta foi meteórica. Literalmente: sempre que
vejo um deles, ele está caindo ...
Após o pouso com o sentante no espinheiro, não me dei por
vencido e insisti em levar adiante o Curso de Voo Livre a troco de fotos. Meu
sonho era decolar da Pedra da Praia das Laranjeiras, ali, colada na ponta Sul
do Balneário Camboriú.
Vou abrir um parêntese sobre as categorias de pilotos:
sempre existem dois tipos - o JACA e o VACA. Sempre prefira voar com um piloto
JACA - Já Caiu. Se caiu, continua vivo e
pilotando, das duas, uma: ou é extremamente perito ou tem uma bruta sorte. Com qualquer
dessas qualidades continua sendo preferível ao VACA - Vai Cair. Com o último,
nunca se sabe o que pode acontecer numa pane.
No voo livre o caso é parecido - temos o que já arborizou e
o que vai se empoleirar numa árvore. Não tem como fugir disso ...
Sabedor que se estava esgotando o meu crédito como aluno,
pois as fotos não cobriam milhares de horas, tratei de ir queimando etapas,
antes do final do curso, incluindo a tal arborização. Queria sair realmente capacitado ...
E lá estávamos nós, instrutor e alunos, no alto do morro da
Praia Brava, para prosseguimento dos voos.
Neste dia a situação do vento era oposta e não passava duma
brisa, meio insuficiente para voos de novatos.
Repetem-se as manobras de decolagem, voo curtíssimo, longa
e penosa subida do morro carregando a asa nas costas para entregá-la ao aluno
seguinte.
O fotógrafo-aluno faceiro que nem mosca em tampa de xarope,
esperando impaciente a vez de repetir a maravilhosa experiência de estar no ar,
sozinho, curtindo o zumbido do ar nos cabelos, a beleza da praia e o prazer
indescritível de ser como os pássaros.
Chegou a minha decolagem e o vento que da outra vez quase me
manda proutro mundo por estar forte, agora era "muy flaquito" como
diriam os argentinos que infestavam e ainda infestam a região no veraneio ...
O instrutor largou o "Agora". Lá me mandei eu esperando que o "lift" me erguesse e, do alto, agora "experiente", não permitiria a cabrada excessiva com o risco de estol. Assim já sairia curtindo o voo desde o seu
início.
Mas cadê o vento e o correspondente "lift"? Em vez
de subir, ao terminar a rampinha de decolagem, continuei num voo rasante, tipo
marreca piadeira. Tirava fininho duma pedra aqui, dum arbusto ali, desviava
doutro mais adiante e a situação começou a se mostrar complicada. Tudo indicava
que o pouso nos espinheiros ou o perseguido pouso normal lá na praia não
passavam de sonhos de uma noite de verão ...
O negócio era ir tentando driblar a vegetação e,
principalmente as pedras, descida abaixo.
Tudo ia nos conformes até que o novel voador se atrapalha e
perde o controle da asa. Esta derivou para a direita onde me aguardavam uns
butiazeiros guarnecidos por uma cerca de arame.
E farpado!
Tentei cabrar um pouquinho, tentando passar por cima da cerca e ver se me livrava do
abraço aos arames. Preferia catar coquinhos, dando um estampaço no tronco dalgum butiazeiro,
mas a manobra não foi muito feliz e já antes dos coquinhos, estava a asa devidamente enroscada na cerca.
Lá estava o fotógrafo ileso, mas encagaçado de
novo, com o "pequeno" nariz a milímetros do arame farpado e enferrujado,
combinação perfeita pruma infecção ou, pior, tétano, se não fizesse a vacina de
imediato.
O que me salvou de um baita estrago no semblante de galã de
porta de açougue foi os cabos que reforçam e fixam o trapézio à asa, os quais
formam um tipo de "Santo Antônio" protetor. As farpas não chegaram a
estragar minha estampa justamente porque correram pelos cabos e não me
atingiram, pelo que milhares de mulheres agradecem até hoje ...
Fui até fotografado no exato momento da arborização ou cercarização,
ritual indispensável a todo praticante de voo livre, mas, perdi uma tarde
inteira escarafunchando minhas fotos antigas e não consegui achar os tais
"retratos".
Mas quer arborizei, isso arborizei! E tenho como prova os
fios de arame e os butiazeiros que nunca me deixaram mentir.
Tem outra aprontação com asa delta, mas fica proutro dia.
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Sessão Nostalgia
Alguém sabe quem são os dois pilotos? Onde foi esta apresentação? Quando?
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Nostalgia Pessoal
Pelo prefixo do Paulistinha: de onde era ou é? Também por aproximação: que trecho do litoral catarinense (fica a dica)? Em primeiro plano, além do "Lambe-Lambe", quem é o outro piloto? Agora é piloto agrícola ...
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