sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Voo Livre - Parte II

 

               

 

         Pois como lhes falei minha carreira como piloto de asa delta foi meteórica. Literalmente: sempre que vejo um deles, ele está caindo ...

         Após o pouso com o sentante no espinheiro, não me dei por vencido e insisti em levar adiante o Curso de Voo Livre a troco de fotos. Meu sonho era decolar da Pedra da Praia das Laranjeiras, ali, colada na ponta Sul do Balneário Camboriú.

         Vou abrir um parêntese sobre as categorias de pilotos: sempre existem dois tipos - o JACA e o VACA. Sempre prefira voar com um piloto JACA  - Já Caiu. Se caiu, continua vivo e pilotando, das duas, uma: ou é extremamente perito ou tem uma bruta sorte. Com qualquer dessas qualidades continua sendo preferível ao VACA - Vai Cair. Com o último, nunca se sabe o que pode acontecer numa pane.

         No voo livre o caso é parecido - temos o que já arborizou e o que vai se empoleirar numa árvore. Não tem como fugir disso ...

         Sabedor que se estava esgotando o meu crédito como aluno, pois as fotos não cobriam milhares de horas, tratei de ir queimando etapas, antes do final do curso, incluindo a tal arborização. Queria sair realmente capacitado ...

         E lá estávamos nós, instrutor e alunos, no alto do morro da Praia Brava, para prosseguimento dos voos.

         Neste dia a situação do vento era oposta e não passava duma brisa, meio insuficiente para voos de novatos.

         Repetem-se as manobras de decolagem, voo curtíssimo, longa e penosa subida do morro carregando a asa nas costas para entregá-la ao aluno seguinte.

         O fotógrafo-aluno faceiro que nem mosca em tampa de xarope, esperando impaciente a vez de repetir a maravilhosa experiência de estar no ar, sozinho, curtindo o zumbido do ar nos cabelos, a beleza da praia e o prazer indescritível de ser como os pássaros.

         Chegou a minha decolagem e o vento que da outra vez quase me manda proutro mundo por estar forte, agora era "muy flaquito" como diriam os argentinos que infestavam e ainda infestam a região no veraneio ...

         O instrutor largou o "Agora". Lá me mandei eu esperando que o "lift" me erguesse e,   do alto, agora "experiente", não permitiria a cabrada excessiva com o risco de estol. Assim  já sairia curtindo o voo desde o seu início.

         Mas cadê o vento e o correspondente "lift"? Em vez de subir, ao terminar a rampinha de decolagem, continuei num voo rasante, tipo marreca piadeira. Tirava fininho duma pedra aqui, dum arbusto ali, desviava doutro mais adiante e a situação começou a se mostrar complicada. Tudo indicava que o pouso nos espinheiros ou o perseguido pouso normal lá na praia não passavam de sonhos de uma noite de verão ...

         O negócio era ir tentando driblar a vegetação e, principalmente as pedras, descida abaixo.

         Tudo ia nos conformes até que o novel voador se atrapalha e perde o controle da asa. Esta derivou para a direita onde me aguardavam uns butiazeiros guarnecidos por uma cerca de arame.

         E farpado!

         Tentei cabrar um pouquinho, tentando passar por cima da cerca e ver se me livrava do abraço aos arames. Preferia catar coquinhos, dando um estampaço no tronco dalgum butiazeiro, mas a manobra não foi muito feliz e já antes dos coquinhos, estava a asa devidamente enroscada na cerca.

         Lá estava o fotógrafo ileso, mas encagaçado de novo, com o "pequeno" nariz a milímetros do arame farpado e enferrujado, combinação perfeita pruma infecção ou, pior, tétano, se não fizesse a vacina de imediato.

         O que me salvou de um baita estrago no semblante de galã de porta de açougue foi os cabos que reforçam e fixam o trapézio à asa, os quais formam um tipo de "Santo Antônio" protetor. As farpas não chegaram a estragar minha estampa justamente porque correram pelos cabos e não me atingiram, pelo que milhares de mulheres agradecem até hoje ...

         Fui até fotografado no exato momento da arborização ou cercarização, ritual indispensável a todo praticante de voo livre, mas, perdi uma tarde inteira escarafunchando minhas fotos antigas e não consegui achar os tais "retratos".

         Mas quer arborizei, isso arborizei! E tenho como prova os fios de arame e os butiazeiros que nunca me deixaram mentir.

         Tem outra aprontação com asa delta, mas fica proutro dia.

_________________________________________

Sessão Nostalgia

   Alguém sabe quem são os dois pilotos? Onde foi esta apresentação? Quando?



______________________________________________________

Nostalgia Pessoal

   


    Pelo prefixo do Paulistinha: de onde era ou é? Também por aproximação: que trecho do litoral catarinense (fica a dica)? Em primeiro plano, além do "Lambe-Lambe", quem é o outro piloto? Agora é piloto agrícola ...

______________________________________________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário