sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A Primeira Experiência

Uma vez que muitos gostaram e pediram para postar novamente, aqui vai meu primeiro voo com ultraleve.

                    A Primeira Experiência


                   Já era piloto privado, com muitas horas de vôo, bastante convívio com aeronaves e aeroclubes, por causa do trabalho com fotos aéreas, mas em matéria de ultraleve, era um analfabeto de pai e mãe.

                   Andava por Novo Hamburgo, tentando vender minhas fotos  para algumas empresas da região e, como todo apaixonado por vôo, sempre que possível, dava uma bisbilhotada no céu. E o que vejo? Um inseto voador todo diferente, biplano, aberto, voando no circuito de tráfego do Aeroclube de São Leopoldo, meu ninho de “águia”, mas não tão “águia”, assim ...

                   Que vender foto, que nada. Parei tudo e me mandei para lá, a fim de conhecer o “aparelho”, como dizia o saudoso Ivan Azambuja.

                   Ao chegar, vejo alguém levando uma surra da aeronave, pois não conseguia pousar. Todo o mundo no maior pavor, porque já era a segunda tentativa e o “comandante” comia toda a pista flutuando e nada de tocar. A gurizada fazendo sinal para que cedesse o manche, mas o dito, por cacoete de instrutor no Aeroclube, insistia em chamar mais ainda, só que o avião não entrava no famoso “estol controlado ao nível de  toque”.

                   E lá se foi para mais uma arremetida.

                   Enquanto fazia novo circuito de tráfego, fui especular o que estava acontecendo. “É que o Cel. Albrecht trouxe o May (nome do ultraleve), para demonstração e os instrutores e pilotos de mais experiência estão fazendo um “test drive” - foi o que me disseram.

-         E quem autoriza ou escolhe os que podem voar? – perguntei.

-         Ah, isto é com o Marcos.

                   Era ele o instrutor-chefe à época.

-         Marcos, põe meu nome aí na lista, que eu quero voar.

                   - Nem pensar – foi a resposta categórica.
                   - Como “nem pensar”, se tenho muito mais horas de vôo do que qualquer um desses instrutores aí. Se eles conseguem, por que é que eu não vou conseguir?

                   - Tu não tás vendo que o cara não consegue pousar? Para tu teres uma idéia, até eu não vou voar – complementou – como se isso fosse um argumento definitivo.

                   Retruquei:

                   - Tu não voas porque é cagão. Mas eu não sou. Marcos, em nome de nossa amizade e do monte de horas que ganhaste nas navegações pagas por mim, fala com o Albrecht e diz que eu tenho condições de fazer um circuitozinho.

-         Tá bom, mas algo me diz que tô buscando encrenca.

                   Falou com o homem e ele autorizou minha humilde pessoa a voar.

                   Passou-se então ao ‘briefing”. Acho que o mais curto que já fiz até agora, tanto que dezesseis  anos depois ainda lembro perfeitamente de todo ele:

                   - Dá-lhe manete, chama com setenta, sobe a setenta, cruza a noventa e pousa a setenta. Não esquece que o freio é na mão, para as duas rodas e que esse avião flutua muito. Para tocar na pista tens que ceder o manche. Podes decolar daqui da intersecção, mesmo, que não há necessidade de aproveitar toda a pista, que ele sobe que é um louco.

                   Falou isso enquanto ajustava os pedais, que ficavam muito longe, para as pernas curtas do baixinho aqui.

                   Assim, me fui, todo cheio de razão, achando que já era um ás.

                   Pelo pouco que andei no solo – somente a distância entre o pátio e o intersecção - não tive tempo para maiores avaliações. Chegando à pista, alinhei e dei-lhe manete.

                   E aí a coisa encrespou de vez. Eu, que era acostumado com aviões lentos, que aceleravam devagar, tipo Paulistinha, Piper 140, Tupi, quando me dou por mim, estou grudado no encosto por causa do torque, vendo o velocímetro disparar, no maior pavor (controlado), que decido abortar a decolagem, pôr o rabo no meio das pernas e admitir que ainda não estava pronto para aquele tipo de vôo. Só que a potência do motor, combinada com a leveza do avião, combustível no mínimo de segurança e o pouco peso do piloto magrela, andaram mais rápido do que o neurônio em funcionamento naquele dia.

                   A decisão de abortagem já me pegou no ar.

                   Então me bateu uma repentina vontade de visitar clientes, oferecer fotos, mesmo aos mal-educados, aos unhas-de-fome, qualquer espécie de gente ruim, desde que estivessem conversando comigo no solo.

                   Como falei, o pavor era controlado. Se um problema não tem solução, solucionado está.

                   “Se quero rever a Ju e o resto da família tenho que me manter voando”, pensei enquanto cravava os olhos no velocímetro, seguindo as instruções do longo “briefing”: sobe a setenta milhas.

                   Mas tinha um sério problema: a setenta milhas, a impressão que tinha era de que estava subindo na vertical e que a qualquer momento iria entrar num estol de badalo, ou coisa parecida. “Se tiro o motor para diminuir o ângulo de subida sei lá que atitude ele pode tomar. Vou fazer o seguinte: mantenho a aceleração e subo num ângulo mais suave.”

                   E lá me fui, subindo a noventa milhas, que era só o risco e o fedor. Completada a subida reduzi a manete, para manter as noventa de cruzeiro.

                   Aí tive uma folguinha para olhar para baixo e quase me borrei todo: estava montado num banquinho mais estreito do que meu sentante, o que  dava a sensação de estar pendurado num par de asas veloz e sensível, nada tendo que passasse por baixo do meu corpo. De novo o pavor controlado ...

                   Mas aí já eram horas das manobras de pouso. Reduzo um pouco a velocidade, mas não para os setenta, giro a base, pego a final e, como estava um pouco mais veloz do que o aconselhado, o ângulo de descida foi maior e permitiu que estivesse em altitude quase de toque bem no início da pista.

                   Se entrando a setenta o avião flutuava toda a pista, imaginem a oitenta ...

                   Só que eles “não contavam com minha astúcia”. É claro que eu não iria bancar o bocó de ficar chamando o avião para tentar um toque convencional e comer toda a pista, tendo que me submeter a todo aquele pavor de novo, se fosse necessária uma nova arremetida. “Ele falou que tem que ceder o manche do contrário o avião não pousa.” Dei uma olhada para baixo e vi o pneu do trem  a mais de um metro do solo. “Tô alto. Dá para ceder bastante”.

                   E cedi.

                   Mas a cedida foi uma espetada.

                   Para quem olhava à distância, pilonagem certa.

                   O Albrecht contava o avião perdido, o instrutor-chefe já se via expulso do aeroclube por haver autorizado a experiência.

                   Repito: “não contavam com minha astúcia”.

                   Quando vi o trem quase tocando, arredondei e toquei “manteiguinha”, de acordo com “todos os meus movimentos friamente calculados”.

                   E alguém acreditou que eu fizera aquilo de  forma consciente e sob controle?

                   Cheguei ao estacionamento achando que mereceria cumprimentos pelo curtíssimo pouso. O que recebi foi uma baita mijada:

                   - Barbosa, se tu queres te matar, escolhe outro jeito, não o Aeroclube. Como é que tu me dás uma espetada a tão baixa altura? Tiveste muita sorte!

                   - Ué, vocês não disseram que tinha que ceder o manche. Eu cedi.

                   Não sei porque, de repente apareceu um problema no “aparelho” e ninguém mais voou naquele dia....

                   Eu, no entanto, voltei para casa todo bobo. Entrara pela primeira vez num ultraleve, não fizera duplo algum nem em aeronave levemente semelhante, não “quebrara a garça”, pousara manteiga e ainda dera um cagaço na rapaziada.

                   Sentia-me um verdadeiro ás.

                   Ou seria asno?...



                   Respostas nos comentários

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Confirmada a Morte da Família que Voava no Paradise em Mato Grosso
Abaixo o link sobre quem eram, o tipo de avião, etc.

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/mundo/brasil/noticia/2017/12/10/familia-desaparece-em-voo-de-monomotor-em-mato-grosso-319374.php

Outro link confirma as mortes

http://www.showdenoticias.com.br/Noticia/18722

   Segundo informações que circulam na web, o piloto entrou em IMC, pois a camada estava baixa e ele procurava um "buraco" por onde passar. Infelizmente chocou-se com o solo sem conseguir. Isso de acordo com informações de moradores da região.
   Colega: sempre avalie muito bem as condições meteorológicas. Nunca banque o otimista. "Vai melhorar" pode transformar-se em "Piorou muito". É melhor ir de carro ou não ir do que enfrentar a natureza. Ela não tem culpa de nossas decisões.  




domingo, 18 de junho de 2017

Catanduva - São Pedro do Sul

Sítio de Vôo de Catanduva Está a Pleno Vapor

   O comandante Nédio Marques da Rocha, com sua persistência, conseguiu trazer de volta ao Sítio a movimentação dos tempos iniciais.
   Atualmente o hangar do sítio abriga três "Pelican", um Fox IV, dois "Mistral", um Astro GT, e o ultraleve do Hausen, que por falha na memória do blogueiro, não consigo lembrar qual é.
   
                                              

   A pista foi retrabalhada, ficando bem mais lisa e segura. Continua tendo a limitação de arremetida restrita ou impossível para a Serra.
   Sempre é bom salientar que, na decolagem no sentido Sul há a linha de alta tensão que cruza a uma distância segura e, dada a diferença de altura entre a cabeceira da pista, está praticamente nivelada ou ligeiramente abaixo do aeródromo. Mas, sempre é bom lembrar para que não haja surpresa para alguém que venha visitar o Sítio pela primeira vez.



   O sítio conta com "posto" de abastecimento, mas é sempre bom contatar antes com o Nédio, para saber se há alguém na pista, para o reabastecimento. 






   A pista tem setecentos metros, o que permite a decolagem com vento forte, a quarenta e cinco graus, de cauda, como este Norte, do dia 16 de junho.


    


   O Pelican chacoalhou, mas a decolagem transcorreu sem problemas mais sérios. 

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Lambe-Lambe produz artesanalmente a Cerveja "Bilsan" - em vez de Pilsen ...

A Produção Caseira Prossegue

E a degustação continua ...
Só para privilegiados ...



Pajadinha Degustante

Se sua existência é vã,
Se o índio se apavora
Com a "crise" desta hora.
Comece bem a manhã.
Deguste uma "Bilsan".
É muito mais que cerveja.
Boa pra sarna e brotoeja.
Mas vá com certo cuidado,
Pra não acordar amoitado,
E atolado nas carqueja ... !!!