Conforme compromisso firmado entre partes, três leitores e o
escrevinhador, fiquei de contar uma outra aprontação do mesmo voo em que fiz o
primeiro é único parafuso de minha vida.
Pois bem, recuperados do cagaço do tal parafuso acidental em
que o instrutor nos metera, lá seguimos nós no rumo a Pelotas e Rio Grande.
Paramos da Princesa do Sul, para uma mijadinha básica e
reabastecimento, pois ainda teríamos que ir à região do superporto de Rio
Grande fazer fotos de topo de uma área
mais ou menos extensa, isto é, deveríamos ir o mais alto possível.
No solo tínhamos trinta graus de temperatura, pois era
verão. Isso por volta dumas onze horas da manhã.
Para fazer as tais fotos de topo, o manicaca e retratista
bolara um plano infalível: abrir a porta do bagageiro, isto depois de bem
amarrado aos cintos da bagagem e uma corda extra, que levara. Aí, era só
colocar a cabeça para fora e fazer as tais fotos.
Só que esquecera do estribo de embarque. O tal ficava bem embaixo
da área de visão da câmara. Assim, para fazer as fotos, tinha que estar com a
cabeça e a câmara abaixo do estribo desgraçado.
Confiado na excelente amarração que fizera, não me assustei
e dentro do avião ficaram apenas as pernas e um pouco mais, até a região da
cintura.
Todos os ingredientes para a cacaca.
Tínhamos subido para doze mil e quinhentos pés. Assim, a
temperatura lá estava vinte e cinco graus mais baixa do que no solo. Trinta
graus menos vinte e cinco, igual a cinco graus. Acresça-se que o oxigênio lá
era bem mais escasso.
Agora imaginem um sujeito praticamente pendurado pela
pernas, com a circulação prejudicada, tomando um vento gelado de 170 km/h no
focinho e com pouco oxigênio. Não deu outra: comecei a passar mal.
Imediatamente tratei de recolher a parte responsável por
estes escritos para o conforto da cabine do avião. Mas, quem disse que
conseguia me içar de volta para o compartimento da bagagem?
Ou pelo peso maior do lado externo ou pela fraqueza que começava
a dominar-me, já próximo ao desmaio, dei-me conta da realidade: o piloto lá na
frente, tendo os assentos traseiros entre nós,comigo fora da cabine, ele nada ouviria
se eu pedisse socorro, por certo o voo ia
continuar na maior tranquilidade.
Até dar-se conta de que algo errado acontecera com o
"Lambe-Lambe" Retratista, preciosos minutos ter-se-iam passado.
E lá estaria o fotógrafo desmaiado e pendurado, com quase
todo o sangue na cabeça, tomando um ventão geladíssimo nas ventas.
Depois dele flagrar-se do acontecido, até perder os doze mil
e quinhentos pés e pousarmos em Rio Grande, lá se iriam uns vinte minutos.
Pensei: "Ou tu dá um jeito de te içar de volta pro
avião ou deu pra tua bolinha!"
Foi como chegar alguém com meio litro de adrenalina pura e injetar na veia: arranjei forças não sei de
onde e, tonto e tudo, consegui ver-me dentro do Tupizinho bendito.
Não era o dia para a troca de querência: primeiramente por
ter-me saído bem dum parafuso acidental sem a mínima experiência com a manobra,
apenas papos de hangar e bar; segundamente, por não ter congelado lá em cima,
com pouco oxigênio, a uma temperatura enregelante.
Para terem uma ideia do quanto estava frio, depois de
devidamente sentado e amarrado, havendo recobrado o sangue-frio, lembrei-me das
fotos a baixa altitude e quis fazê-las.
E de que jeito, se as lentes estavam tão geladas, que embaçaram
externa e internamente? Não adiantava passar um pano macio para limpar o vapor
por fora: o problema era interno.
Tivemos que ficar uns dez minutos voando a uns quinhentos
pés, com as câmaras no painel, tomando Sol direto, até se aquecerem e poder
fazer as fotos.
Dez minutos de voo em que via o dinheiro literalmente saindo
do meu bolso ...
E lá estava eu preocupado com o prejuízo?
Depois das duas aprontações do voo não estava vivinho da
Silva?
Nunca acertei em Mega Sena, Loto, essas coisas. Mas que sou
sortudo, isto sou.
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