sábado, 20 de agosto de 2011

Encontro de Cruz Alta

   Mais uma vez não pude ir até Cruz Alta, embora esteja relativamente perto, coisa duns 50 minutos.
   Acontece que andei enfrentando problemas de umidade (uma idade avançada) e uma dobradiça, a principal do dedão do pé esquerdo,  teve que sofrer umas esmerilhadas, recortes, parafusações, etc. Estou no solo por uns dias.
   Se o Diego ou alguém quiser enviar fotos ou noitícias, publicarei imediatamente no blog.
   Um abraço e votos de sucesso no evento e que ninguém "fique entanguido" com esse baita frio, como diria o peão Deoclécio.



O Rato e o Moinho

Era ainda criança e ouvia os antigos falando muito sobre o rato que tanto ia ao moinho que um dia deixava o focinho...

Em aviação a coisa é meio parecida. O fato de uma, duas, algumas ou muitas vezes, algo dar certo não é garantia de que sempre vá dar certo.

Acontece com os afoitos: vão aprontando, aprontando, cada vez mais querendo maior emoção e despertar mais admiração e respeito. Vão se aproximando da linha do limite. Cada vez mais perto, mais perto, até que conseguem andar exatamente sobre a linha.

É a realização suprema. Saber que dali ninguém passou. Ser admirado pela coragem e competência.

"Se ontem deu certo, hoje dará e amanhã, mais ainda, porque já tenho experiência" , pensa o corajoso.

Dê-lhe repetir as proezas.

Infelizmente não preciso terminar, pois todos sabem o que acaba acontecendo.

Se a escolha é: decolo com segurança ou decolo com 99% de segurança, acho bom não provocar o 1%. Bichinho desgraçado de vingativo. Normalmente acaba derrotando os outros 99. E solito ...

Todos conhecem a Lei de Murphy: Se pode dar errado, vai dar errado.

É pior do que a Lei da Gravidade: nunca falha.

Já fiz cagada de todo o tipo e qualidade e, felizmente, escapei. Agora, até por uma questão de mera estatística, meço as consequências. Em termos de pane que me levou ao solo, já tive seis e saí na vertical em todas e com a ossamenta nos encaixes. Sortudo, dirão alguns. É, concordo. Mas pergunto: alguém sabe qual a minha cota de sorte. Será que já não entrei na cota da próxima encarnação? Como não tenho a resposta, acho melhor não provocar a coatiara com varinha curta ...

Aplicando isso ao caso dos Motores Rotax voando em temperaturas baixas, fico na dúvida. Já enfrentei umas tossezinhas no Kitfox, em pleno vôo de cruzeiro.

Sei que teve gente que sobrevoou os Andes e nada ocorreu, mesmo sem ar quente para o carburador. Que bom. Mas, e quem garante que a configuração de tomadas de ar, posição do carburador, etc., seja idêntica à de outras aeronaves. E as condições de clima. Gelo em ar seco ou com pouca umidade é muito difícil de ocorrer. Frio e umidade alta: ai, ai, ai ...

Um amigo meu, oficial da Aeronáutica, certa ocasião voando em avião pequeno, a pistão, lá pelas bandas de Cascavel, com frio de rachar, conta que entre tantos problemas enfrentados, houve até o rompimento da bateria, cujo líquido congelou, dilatando-se. Parece que não houve congelamento do carburador, mas ele tinha ar quente.

Mas, analisemos, mesmo em situação de temperatura elevada, o pé do carburador e a admissão, sempre estão "geladinhos", por causa da velocidade com que o ar/mistura passa por ali. Transportemos o ar já em temperatura baixíssima (negativa) diminuindo ainda mais com o fluxo acelerado. Só não congela se a umidade for muito baixa ou houver alguma forma de neutralizar essa queda violenta de temperatura (pode ser o próprio calor do motor, ar da mufla, etc.). Mas, se não houver algum mecanismo de compensação, mesmo que não projetado, vai dar cacaca.

Já falei de minhas experiências. Enfrentei gelo em motor Volkswagen e Rotax, sem aquecimento. Consegui solucionar, improvisando com tecnologia de ponta ... Ponta de mangueira, ponta de arame, ponta de tubo de cola ...

Estou quase na idade sex.

Mais um ano e viro sex ... agenário. Como velho (e não me venham com chorumelas de melhor idade, eu, que sempre fui friorento, cada vez sinto mais frio. Assim, velho friorento voando a baixas temperaturas, com risco de congelar carburador, pé, mão, etc. ..., o melhor é ficar no bem-bom dum foguinho de galpão, fogo na lareira das casas, ao redor da china velha, tomando um vinho marca diabo ou só esquentando as mãos, as juntas duras e as partes moles ...

Realmente, até porque não sou obrigado a voar - em dias muito frios, arrumo outra coisa para fazer. Se não consigo distração, me tapo até as orelhas, até o frio passar.
E mais não escrevo, porque estou com os dedos endurecidos ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário