sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pois na semana passada um dos guaipecas aqui da Chácara apareceu com sintomas de envenenamento.

   Em questão de horas, o "Lobo" foi andejar no Céu da cachorrada.

   O que mais doeu, não foi a morte do bicho, mas o sofrimento. Se realmente foi envenenamento proposital, quem faz isso, nem merece qualificação.

   Era um cusco dócil, uma cruza de ovelheiro (Collie, para os metidos), com policial (Pastor Alemão, para os que se acham ...). O mais obediente da Chácara.

   E de uma paciência com criança ...

   O ilustre fotografado junto com ele, já levantava procurando pelo "Meu amiga Lobo" ...

   O Lobo era tão "Seu Amiga", que um dia, quando o pai do piá queria que ele dormisse, ele, não querendo dormir, tentou a seguinte chantagem emocional:

   - O papai não é meu amiga, a mamãe não é meu amiga, a vovó não é meu amiga, o vovô não é meu amiga, a tia não é meu amiga, o tio não é meu amiga. Só o Lobo é meu amiga ...
O "Meu Amiga Lobo" quinze dias antes do envenenamento.

O "Lobo", quando chegou na chácara.

Quando este escrevinhador era guri, também teve um outro cachorro morto por envenenamento.
Estou anexando a crônica sobre o caso.


Praga de Guri

Lá na Palma, como em muitos lugares, os fazendeiros têm a mania de colocar "bolas" para matar cachorros, quando desconfiam que algumas ovelhas estão sendo comidas pelos eles. Comendo um desses pedaços de carne envenenada (agora sei que usam estricnina) é morte certa para o cusco.

O errado disso é que as ovelhas podem estar sendo comidas por sorros, guarás e outros bichos, incluindo-se aí, principalmente, os abigeatários. E, mesmo que fosse algum cachorro, como justificar a colocação de "bolas" que podem ser comidas por um cusco que nada tem a ver com a história?

A gente sempre soube o nome dos fazendeiros e fazendeirotes que costumavam fazer isso. Por falta das tais provas, não vou citar o nome deles, para que este livrinho de crônicas não dê origem a um escrito grandioso: "Memórias da Cadeia", principalmente porque não teria condições de competir com as "Memórias do Cárcere" do Graciliano Ramos.

Assim, a única coisa a fazer era, quando se ia para os lados das terras dos malevas, evitar que a cachorrada fosse junto. Mas, e quando o cusco farejava alguma cadela corrida pela redondeza. Como evitar a gauderiada do bicho?

Com o "Dudu" sempre tomávamos todos os cuidados. Apesar de tudo, um dia apareceu tossindo e vomitando. Deitou-se embaixo dum cinamomo e só se levantava para tossir e vomitar de novo. Demos leite, carvão moído com leite, tudo o que diziam que era bom. Mas seu estado se agravava a cada hora. Passou mal toda aquela tarde. Entrou a noite e nada de melhorar.

Na minha oração de antes de dormir, pedi com toda a fé que Deus o salvasse. Dormi sonhando com meu cusco bom e faceiro, pulando macega e buscando vaca.

Na manhã seguinte estava tão fraco que nem conseguia se levantar. Empurramos mais um pouco de leite com carvão moído goela abaixo, numa última tentativa de salvá-lo.

Antes de sair para a escola me acocorei ao seu lado e fiquei um tempão acariciando seu lombo, sua cabeça. Ele mal conseguia abrir os olhos, mas quando o fazia, um mar de tristeza me fitava e minhas lágrimas caíam sobre seu focinho.

O Dileu e a Valdeci já iam longe quando consegui largar meu cachorro. Não fiz questão de alcançá-los e segui caminhando solito. Aquela dor era só minha.

Na aula, não consegui me fixar em nada. Só queria que chegassem duma vez as onze e meia. Não esperei ninguém na saída e me fui na frente, esquecido do bodoque, das carreiras de guri e demais brinquedos. Só pensava em chegar logo.

Fui direto ao cinamomo. Não estava lá.

Com o coração aos pinotes corri à cozinha para ver se falava com a Vó. Podia ser que ele tivesse melhorado e até andasse caçando preá. A esperança é a última que morre.

Estava sentada na cadeira de balanço, chorando.

Compreendi e perguntei, gaguejando:

- Onde?

- Atrás do galpão.

Fui correndo. O vento leste estava forte e assobiava triste nos arames da cerca.

O coração de guri ficou pequeno para tanta dor e não consegui chorar.

Quando o Dileu chegou, passamos uma corda pelas espaldas do Dudu, amarramos a outra ponta no meio duma trama de cerca e nos fomos, feitos junta-de-bois, levá-lo para longe de casa, onde viraria carniça. Não sei por que não nos ensinavam a enterrar os bichos mortos.

Deixamos na beira do banhado e voltamos sem falar nada.

Não quis ver meu amigo estragado pelos corvos. Só meses depois fui até lá. A ossada estava espalhada, mas a cabeça ainda conservava todos os dentes no lugar.

Eram dentes brilhantes. Bonitos.

Ali, enquanto relembrava o Dudu nos dias quentes de verão, depois duma caçada ou lida de campo, suando com toda a língua de fora, dentes à mostra, roguei uma praga que, parece, pegou valendo.

Nunca vi, numa mesma região, tanto fazendeiro indo ao dentista.

Botar chapa, como diziam ...

Um comentário:

  1. Amigo de uma olhada em sua propriedade para ver se não tem lesmas.
    Pois estas tem por mania andar sobre a comida e o bebedouro de cães.
    O que deixa aquele rastro brilhoso o qual os cães acabam lambendo sem querer e se intoxicam podendo vir a morrer.
    Sou blogueiro também, e apaixonado por aviação apesar de nunca ter sequer entrado em um avião.
    adorei seu blog o meu fica no endereço:http://hid0141.blogspot.com/
    Sou um amante da História, tenho parentes que trabalham na embraer
    Grande abraço Edson Day

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