Acompanhando o Forum da ABUL, numa
oportunidade, o Ceotto repetiu que não existe almoço grátis. Em
outras palavras, tudo tem seu preço.
Ser piloto tem o preço em pilas e o
preço em outras moedas.
Como estou com o espírito maratonista
bem aguçado, por haver completado a minha 33a. Maratona há poucos dias, achei
bom dar uma escrevinhada comparando piloto e maratonista, categorias a que
tenho a honra e o orgulho de pertencer.
Ser piloto e maratonista é um
privilégio e uma conquista de poucos.
Sobre ser piloto muito já escrevi neste
bloguezinho. Sobre maratonas, pouco, mas vou dar uma misturada nas coisas e
acho que com fundamento.
Todo o piloto ou pretenso piloto que se
meteu a voar sem preparo, acabou se dando mal. Para os afoitos, voar é a coisa
mais simples do mundo. E já houve casos de loucos que, sem uma única aula, sem
um único duplo quiseram se meter de pato a ganso. Infelizmente, num dos casos o
preço foi altíssimo e não preciso esclarecer qual.
O maratonista que se meter a fazer os
42 km sem um mínimo de preparo, ou não terminará, ou terminará aos bagaços, com
dores até na ponta dos cabelos, esgotamento total e, por cima, correndo o risco
de sofrer um mal súbito, mesmo que seja guri novo. Um velhote de 58 anos que
nem eu, então, se não tiver cuidado, está frito em pouca banha.
Mas como um e outro conseguirão o
preparo?
Aí é que a porca torce o rabo.
O piloto terá que estudar um monte se
quiser passar no exame teórico. A saúde deverá estar dentro dos conformes.
Depois vem a instrução prática e aí é que se vê quem tem vocação ou está no
meio só de curioso. O corredor vai ter que ler um pouco, também. No mínimo
conseguir informações com veteranos, que sabem o caminho da roça. Na parte
prática é que vem a problemática: sair a correr sozinho, horas e horas, dia
após dia, com sol ou chuva, com frio ou calor, com boa disposição ou num bruto
cansaço, requer uma disciplina e uma força de vontade medonha. Maratonista é um
cabeça-dura, não duvide. Se encasquetar em fazer algo, favor sair da frente,
que o sujeitinho só vai se acomodar depois de conseguir, não importando as
dificuldades. Isto porque somente um teimoso conseguirá completar uma planilha
de treinos para uma prova de 42 km. E planilha com menos de 700 km, nem pensar.
Tem piloto que, para não levantar cedo,
só quer chegar no aeroclube depois do meio-dia, fazer um voozinho na hora mais
turbulenta e depois ir embora. Ora, voar com térmicas, ventos e quetais até
ajudam, mas depois de um certo patamar de preparo, nunca no início, quando se
precisa avaliar a ação progressiva dos comandos e a reação da aeronave. Com uma
térmica dando um pataço numa das asas, o novato nunca saberá se a asa subiu
porque o dito deu um pouco de aileron ou se houve alguma ação miraculosa ...
E faço um dos meus milhares de
parênteses:
Estava este manicaca no estágio que vai
do primeiro vôo solo à confirmação do dito.
Vôo, outro vôo, mais outro, ad
perpetuam, como diriam os meus colegas causídicos, e nada dos
instrutores confirmarem o solo.
Até que um aluno, mais antigo do que eu
me chamou num canto.
- Barbosa, tu não tá vendo que eles
querem é ver tu gastar um monte com horas e nunca vão te dar a dica sobre como
evitar o desperdício de dinheiro. É claro que voando nas horas turbulentas,
quando até eles sofrem para pôr o tequinho no chão, eles não vão se arriscar a
te largar num solo, e com razão. Bem que podes fazer uma cacaca.
E acrescentou:
- Pelo que eu vejo, tu estás voando
bem. Num horário sem turbulências, com certeza podes sair a voar solo sem
nenhum risco. Então, enquanto não confirmar o solo, só marca vôo no início da
manhã ou à tardinha.
"Tiro dado e jacu deitado."
No primeiro dia calmo em que voei, confirmado o solo, mas lá se tinham ido
quase oito horas e respectivos pilas. E com isso dá para ver que fui um
aluno queixo duro, dos que demoram a aprender as coisas...
Ainda bem que quando aprendo, dificilmente esqueço.
Retomando o fio da meada, tanto um
maratonista, quanto um piloto precisam abrir mão de certas coisas, se quiserem
obter algum sucesso nas corridas e nos vôos. Lembrando que, se um maratonista
planejar mal uma prova e "quebrar" no meio, o máximo que acontecerá é
ter que voltar para casa de táxi. Já um piloto ... Então, esse tem que ter
muito mais dedicação, perseverança e força-de-vontade para estar sempre
aprendendo e evoluindo.
Um corredor que queira viver nas
baladas estará virado num chapéu velho no dia seguinte. O piloto, além do
cansaço, vai estar com o psicológico também meio esgualepado. Ainda mais se foi
dormir em branco ...
Quanto a ser "louco", nas
duas categorias, só poder dar merda.
O maratonista louco vai forçar a barra
nos treinos, arrumando uma lesão muscular, um esgotamento e, até, as famosas
fraturas por estresse. O piloto louco, vai impressionar os loucos sem coragem,
nunca os corajosos sem loucura, mas, mesmo que tenha nascido com a quina virada
para a Lua, um dia vai lenhar o avião e, se o anjo-da-guarda estiver cansado
...
Resumindo, até porque fui fazer um
treininho - corri quase uma hora depois de haver relaxado por umas semanas,
após a Maratona de Porto Alegre - e estou cansado, nem um, nem outro chegarão a
algum lugar se quiserem levar a coisa na flauta, na moleza, na
sombra-e-água-fresca.
Disciplina, perseverança,
força-de-vontade e caldo-de-galinha não fazem mal a maratonistas, a pilotos ou
a quem quer que seja que leia este escrevinhador preguiçoso, desorganizado, que
não tem ânimo nem para concluir dentro dos conformes um artigo que começou ...
E mais não escrevo porque não sei!
Bons vôos aos meus cinco leitores e eventuais pilotos e maratonistas!
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