Estive lendo um tijolão publicado no forum da ABUL, escrito pelo Matta
Machado, sobre sua experiência com os CBs.
Todos cometemos erros e, felizmente, em muitas das cagadas, o preço pago
não é o mais alto. Foi o caso, onde o preço ficou no susto e suadouro. Mas como
nem sempre as coisas terminam tão bem, ele resolveu tornar pública a aventura,
para nos alertar.
Como dizia o esquartejador, vamos por partes:
Atender ao pedido de estranhos à aviação para fazer um vôo de risco é
pedir para levar. Claro que todo o pai se amolece quando o pedido vem de algum
projetinho de gente, com os olhinhos brilhantes de sede por aventura.
Cuidado: o adulto, o responsável, o capaz de avaliar riscos e ameaças
somos nós, não as crianças. Elas confiam cegamente no seu maior herói, no
super-homem, naquele que tem a coragem e competência de enfrentar os céus e as
distâncias. É melhor decepcionar nossos fãs, diminuir um pouco a intensidade da
aura de herói e continuarmos vivos, inteiros, em família.
Fazer um vôo de longa distância, num Corisco, aviãozinho bom, mas
monomotor, em período conhecido como de intensas variações climáticas, pairando
por horas sobre uma camada branca, ainda que em vôo sereno, é assumir risco
graúdo. E se o motor, por mais confiável que seja, por melhor manutenção que
tenha, inventar de perder rendimento ou, pior, ficar bem quietinho? A velha lei
de Murphy é implacável - se pode dar errado, vai dar errado. E
esta leizinha desgranida pode ser aperfeiçoada: o errado quase sempre
acontece na pior hora. Pane no solo ou no circuito de tráfego é
raríssima. Aliás, se a gente soubesse quando aconteceria a pane, elas estariam
completamente banidas. Ninguém voaria sem antes fazer conserto, a revisão,
etc., é evidente.
Pois bom, lá se ia o homem, meio alheio aos riscos que buscava.
Para completar, se foi tarde a dentro voando acima da camada, mesmo
sabendo da possibilidade do surgimento dos CBs.
Atendendo à Lei de Murphy, eles surgiram.
Um erro nunca anda solito. O somatório iniciou com a decisão pelo vôo
numa estação imprópria para aquele tipo de percurso, seguiu na insistência em
permanecer sobre a camada com monomotor espartano de instrumentação, quis ir um
pouco além, voando à tarde em época de CBs e, completou-se quando avistou um de
nossos maiores inimigos e inventou de enfrentar a fera. Está certo que tinha
medo de ficar com o combustível no crítico, mas, acredito que ainda assim,
seria preferível isto a entrar na pauleira, cuja verdadeira força destrutiva
não se podia avaliar. Vários equívocos que todos podemos cometer, mas todos
simultaneamente, é nitroglicerina pura.
Como dizia minha avó, teve mais sorte do que juízo e o CB não era tão
brabo, aliás, devia ser um dos mansos. De um CB de respeito, dificilmente um
Corisco sairia ileso.
Felizmente tudo terminou bem, mas podemos dizer que ele não precisa mais
jogar na loteria. Já ganhou sua mega-sena! Ele e a família estão inteiros.
Fico, sinceramente, com receio de escrever sobre erro dos outros, porque
estou consciente de que já cometi muitos e que ainda vou cometer alguns, embora
faça o possível para evitar.
Sou um piloto relativamente experiente. A sorte tem me ajudado e um
pouco de preparo já me livrou de poucas e boas. Em oito panes, sendo duas de
decolagem, consegui manter o nível de coragem acima do nível da bosta pelo
cagaço, terminando os "causos" ileso em cinco casos e com um leve
arranhãozinho na sobrancelha num deles, ainda que tenha lenhado feio o tequinho
em duas ocasiões.
Tenho, entretanto, o maior respeito pela força da natureza. Já peguei
algumas turbulências brabas, ventões de través de arrepiar na hora do pouso com
pandorguinhas leves como Netuno, 15 BIS e Kitfox com trem convencional. Nunca,
porém, tive o peito de enfrentar camada por horas, aliás, ultraleve não deve
fazer isso nem por minutos e se o CB está pensando em se formar, compro uns dez
tubos de Super Bonder, colo meus pés e os pneus do aviãozinho no solo, que é
onde a gente deve estar quando aquelas nuvens bonitas de se olhar enfeitam os
céus deste Rio Grande de Deus nas nossas imprevisíveis e quentes tardes de
verão.
Nunca se sabe o dia
em que o anjo-da-guarda está de férias, pegou um resfriado, ou, pior, já cansou
das nossas aprontações...
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