sábado, 13 de fevereiro de 2021

Emergência Mijatória

 

         Alerta Mijatório

 

         Todo o mundo sabe que o homem é totalmente diferente da mulher, quando se trata de fazer ou tentar fazer duas coisas simultaneamente.

         A mulher chega da rua, vai desfazendo os sacos de compra, atendendo a filha de oito anos que conta como foi a escola e pede ajuda para tirar o calçado,  enquanto o menorzinho abre um berreiro pedindo mamadeira e ela já põe a esquentar o leite, ao mesmo tempo em que vai tirando a roupa de trabalho e pondo trajes caseiros.

         Se for um de nós e o sujeito tiver tudo isso para fazer, vai largar os sacos de compra no banheiro, derramar o leite, perguntar como foi a aula pro nenê e mandar a guria esperar  só mais um pouquinho a mamadeira. A seguir volta do quarto vestindo calça de pijama, camisa social e um chinelo diferente em cada pé ...

         Assim, como não temos esta qualidade, há que se ter um cuidado redobrado quando surgirem duas ou mais tarefas urgentes.

         Vejamos:

         Lá pelo ano de 1999, vim de Montenegro à chácara, aqui na Encruzilhada da Mata, em São Vicente do Sul. O tempo médio de voo é de duas horas e quinze minutos para chegar ao destino, se não houver vento de proa. E esse voo foi realizado no inverno, com temperatura baixa pela manhã.

         De início peguei umas formações esparsas de nevoeiro, nada preocupante, pois estava voando acima das nuvens e sempre havia buracos com visualização do solo.

         E tudo ia nos conformes, quando, lá pelos quarenta minutos de voo começou a vontade de mijar, agravada tal necessidade pelas infiltrações de ar gelado que todo o tequinho, no caso meu Kitfox, sempre tem.

         Andava este manicaca chegando aos cinquenta anos na época, idade que sempre trás um aumento na frequência aliviatória da bexiga.

         Pois bem, se aos quarenta minutos já estava querendo "desaguar" , imaginem com mais uma hora e trinta e cinco minutos, tempo previsto para chegar ao destino...

         Vinha me retorcendo no banco, cruzando as pernas, tudo que a gente faz, para tentar segurar o mijo.

         Estava segurando e pilotando, numa desconcentração total. Lá em cima, tudo bem, algum errinho dava para corrigir.

         Só que todo o voo termina em pouso e aí é que se vê a diferença entre os meninos e os homens ...

         Com vontade de mijar, esta diferença fica mais gritante ...

         Era o primeiro pouso naquela pistinha com o Kitfox, que, como se sabe, é um avião excelente, mas levezinho, flutuador uma barbaridade. E a pistinha tinha apenas 270 metros, com uma cerca na cabeceira e logo depois, uma linha monofio de alta tensão. Pousar ou pousar era a coisa a fazer.

         E se veio o tatu pelo freio!

         Estreia de pista, pouso curto, cabeceira com obstáculo, tudo para deixar o manicaca ainda mais tenso, não esquecendo a preocupação principal que era a de não se desconcentrar e liberar o xixi ...

         Repetindo: tinha que pilotar um pouco, concentrar na torneira mijante, voltar a pilotar, tudo em frações de segundo,  repetindo a alternância  numa velocidade, porque fazer as duas coisas junto um homem não consegue ...

         Bueno, a aproximação foi boa mas o toque coincidiu com o exato momento em que segurava a mijada.

         Deu a lógica: como sabia que deveria pousar curto, vinha "full flape", o que faz o nariz baixar, mudando o comportamento do aparelho no momento do contato com o solo. Com a concentração no tico, não lembrei desse detalhe e o toque foi quase um placaço. Devido ao "choque com o planeta Terra - como diria o Ledur" o Kitfox baixou o focinho além da conta. Não pilonei porque fui rápido na correção, mas o cagaço foi bagual.

         Após o susto, então, a mijadeira ficou insuportável. Parei o mais rápido possível, saí correndo, saquei dos trinta centímetros de mangueira e comecei a alijar peso ...

         Nisso meu tio e a esposa vieram me receber. E todos sabem que depois de começar, após segurar por muito tempo, não há jeito de interromper a operação.

         Gritei de longe:

         - Esperem um pouco! Estou em "emergência".

         Flagaram-se no que acontecia e aguardaram.

         Claro que não quiseram me abraçar e apertar a mão, nem pensar ...

Foi com esse aí que houve a primeira pane de 30 cm de mangueira ...


         Mas a experiência não foi única.

         Dia desses fui fazer um voo de duas horas e pouco, de novo ...

         Até uma hora e quarenta estava dando para aguentar, mas, teve um momento em que não tive escolha e me fui para pouso em Santiago. Como se sabe, lá o governo estadual fez um serviço muito do porco. Começou as obras de melhoria, mas só asfaltou metade da pista, que, para tequinhos, é mais do que suficiente.

         Como minha pistinha é de grama, e quase sempre pouso neste tipo de piso, esqueci que no asfalto tudo muda. Não existe derrapagem, se o quera toca levemente enviezado, temos meio caminho percorrido no rumo da perda de reta.

         De novo a impossibilidade de fazer duas coisas: segurar o xixi e pousar com todas as precauções.

         Evitando molhar as bombachas toquei suavemente, mas não me lembrei do cuidado especial com a manutenção da reta.

         Quando vi, Kitfox e mijão rumavam às macegas. Talvez o teco, que já me pertence há 14 anos e me conhece muito bem,  quisesse facilitar a ida ao brejo, para evitar que a vizinhança me visse no alívio de líquidos ...

         Só o mero pedal contrário não foi suficiente para a correção de rumo.

         Segurando xixi e corrigindo perda de reta, fui ao freio direito, esquecendo que o asfalto tem muito mais aderência do que a grama.

         Rapaz: o teco-teco deu um corcovo, atirou a bunda pra cima e o focinho pro chão, que se este velho não tivesse ainda mais ou menos de reflexos, estaria desmanchado o aparelho ...

         Deu tudo certo: milagrosamente, não pilonei, nem toquei a hélice no asfalto, mas que foi por pouco, isso foi ...

           

Já a última "pane" de mangueira foi com esse Kitfox...

         Também miraculosamente não molhei as indumentárias ...

         E me deu uma baita inveja branca do mulherio, com sua facilidade de fazer um monte de coisas ao mesmo tempo.

         E os do "politicamente correto"  que vão à merda, se não gostarem do termo "inveja branca", que, na cabeça desses bostas,  é expressão racista.

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Pensamento do "Dias"

– O segredo de um bom voo rasante é nunca deixar o avião encostar-se à sombra.

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Este vídeo vale a pena ver: tem até raso, mas raso mesmo do Concorde!!!


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