terça-feira, 7 de junho de 2011

Sinuca de Bico




Bueno, já lhes contei o causo vivido por mim próprio, com a pane do 15 BIS, aviãozinho louco de especial que foi obrigado a pousar numa lavoura de melancia, por causa de um superaquecimento. Tal superaquecimento ocorreu porque a anta aqui inventou de voar no dia mais quente do ano, na hora mais quente do dia ...

Quem procura, acha ...

Um motorzinho Volkswagen 1600 original, com um único carburador 32 mm, puxando um aviãozinho num calor de 39, 40 graus, só pode superaquecer.

O coitado do 15 Bis ficou todo guenzo com o pouso desajeitado e teve que ser refeito pelo Gilnei Jardim, seu feliz novo proprietário.

Depois deste episódio, que já não foi o primeiro com superaquecimento, pois pousei numas bananeiras no segundo dia do meu primeiro ultraleve, o Netuno Marimbondo, fiquei meio escaldado com o calor e procuro não voar em dias quentes.

Acontece que, paradoxalmente, também enfrento temperaturas de lascar o cano ou de renguear cusco, como fala o Deoclécio, porque moro no Rio Grande do Sul, lugar de índio macho, de não se assustar com temperaturas abaixo de zero.

Dia desses tive que dar uma voadinha e o dia estava frio para mais de metro. Além do frio, o vento de superfície estava forte. Alternativa: subir para livram-me das turbulências orográficas.

Fui subindo, subindo, de olho nos instrumentos, para ver se a temperatura do óleo, cabeça dos cilindros, água, etc., não caía muito. Nos instrumentos não apareceram grandes anormalidades, mas mesmo assim, fiquei com todos os sentidos em alerta.

Afinal, decolara com uns 7 graus na superfície, estava a quase 3000 pés, o limite do vôo visual e, pelos meus cálculos friamente feitos (desculpando o trocadilho), diminuindo 2 graus a cada mil pés, lá em cima estávamos beirando o zero. Zero somado aos 140 km de velocidade é uma combinação meio bastante convidativa para um congelamento de carburador...

O Kitfox é um baita dum aviãozinho, mas não sei porque não vem com mufla de aquecimento do ar para a admissão. É projeto americano, lugar de muito frio, montado no Brasil pela falecida COAER, excelente montadora de Curitiba, lugar frio, também.

E prosseguia o vôo. Mesmo estando alto, a turbulência ainda me pegava, pois o vento era duns 45/50 km/h. Resolvi subir mais um pouco.

Dei manete com suavidade, não subi agressivamente, justamente para não aumentar muito o fluxo de ar gelado na admissão.

Fui levando, levando.

Eis, senão quando o motor dá uma tossida.

O piloto deu uma peidada, aguardando o pior ...

Agüentei no osso, fingindo que nada acontecera, esperando que a co-pilota Sandra não tivesse notado nada ou não se desse conta do que houvera.

Mas já estava com o campinho de azevém escolhido para o pouso.

Parei com a subida, enfrentei a turbulência e voei mais uns 50 minutos com o coração na boca e o terminal aquele cortando prego ...

Pousamos com um ventão, mas, felizmente, na cidade em que estávamos chegando, Itaqui, que fica bem na fronteira com a Argentina, tem umas seis empresas de aviação agrícola com pistas nas mais variadas direções.

Havia combinado pousar na Garça Aviação, mas fui parar na Passamani & Reis, que tinha a pista com o vento bem aproado e chegamos inteiros, apesar da princípio de resfriado do Rotax 912 ...

Eu, que achara que a co-pilota nem se dera conta, depois do vôo descobri que ela também ouvira a tossida e não me falara nada, para não me assustar ...

Legítima sinuca de bico! No verão o motor derrete, no inverno o carburador entope com gelo.

Para não ficar muito tempo sem voar, estou pensando em comprar um pala ou poncho para pôr no Kitfox.


Aqui, decolando, ainda sem poncho ...

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