sábado, 11 de março de 2023

 

                               Pouso Arriscado e Decolagem Perigosa

 

            Pois andava o "Lambe-Lambe" retratista - conforme sempre diz o Jader Dutra, de São Gabriel - fazendo seus "retratos" lá na fronteira com a Argentina, Uruguaiana, para ser mais exato.

            Fui muito bem recebido pelo Fernando, da Aeroagrícola Pampiana (e o correto é com i, mesmo), que, além de ceder hangar, sempre que possível me passava informações sobre clientes interessados em fotos aéreas.

            Um belo dia me chamou no seu escritório e apresentou um representante de insumos agrícolas que conhecia muito bem os principais granjeiros de Uruguaiana, com a localização de suas propriedades, fones de contato, etc.  Pena que  não lembre mais do nome dele, pois foi duma gentileza desinteressada a toda a prova. Passou informações valiosíssimas para meu trabalho e, chegando ao hotel, taquei-me a programar uma rota de voo.

            Informou ele, inclusive, posição de algumas pistas, caso fosse necessário  pouso por pane ou simplesmente uma desaguada.

            Tal voo coincidiria com o retorno do Kitfox para a pistinha em São Vicente do Sul, onde me escondo dos cobradores.

            Assim, caprichei no estabelecimento da devida rota, partindo de Uruguaiana, fotografando muitas propriedades antes de Alegrete e, depois, seguindo para as casas.

            No dia seguinte, condições favoráveis, me mandei aos céus, seguindo os pontos programados na rota.

            Lá pela posição 12 acho eu, o GPS enloucou por completo e apontou o próximo objetivo a uns 13.000 km de distância. Achei que fosse uma simples troca de Norte por Sul, corrigi, mas não deu certo. Apareceu um outro lugar no hemisfério Sul, mas a quase 5.000 km. Como a posição era duma fazenda em que o amigo  informante tinha como certa uma boa venda de fotos, não quis perdê-la e optei pelo pouso na pista da granja que estava sobrevoando naquele momento, para, com calma refazer a rota. Felizmente ele me informara que a pista era bem próxima da sede.  Foi pra já que a localizei e, como fosse ainda época de safra parti do "supositório" que estava plenamente operante, sem fazer o tradicional voo rasante para conferir o piso, obstáculos, essas coisas.

            Alinhei com o eixo da pista e me vim.

            Não sei como a aproximação me deu ideia de uma pistinha perfeitamente normal, sem buracos, cocurutos, essas coisas.

            O Kitfox e eu nos fomos para o toque.

            O primeiro contato com o planeta Terra até não foi ruim, mas, mal correra uns 50 m, começam a aparecer macegas e outras capoeiras, coisa de quase metro ou, esporadicamente, até mais.

            "Se dou manete aqui, a hélice em alta, qualquer haste um pouco mais encorpada faz um baita estrago. Não tem jeito: vou cortar o motor e ver o que acontece."

            Como diria o Jânio Quadros: "Cortei-lho".

            E fiquei no aguardo da pilonagem no meio daquele macegal brabo, pois o Kitfox era de trem convencional, levezinho, portanto, com todos os ingredientes necessários a uma cacaca das boas.

            Pois não é que a capoeirama só serviu para encurtar o pouso, sem qualquer dano ao teco-teco?

            Fiquei uma arara com o dono da granja: onde já se viu, em plena safra deixar uma pista naquele estado? Esgotei o estoque de nomes feios, horrorosos, ofensivos, xingantes.

            Bom, agora é aguardar que alguém da granja apareça, para estudarmos um meio de tirar o teco dessa sujeirama de inço.

            Ninguém apareceu.

            Piloto é raça de bicho impaciente: já comecei a tentar um plano infalível para sair dali voando.

            Mas como?

            Sair roçando aquela capoeira toda com a hélice, no barato, poderia me trincar sua ponta  (de fibra) ou, pior, arrancar fora um pedaço dela, desbalancear o conjunto, podendo até arrancar o motor do berço.

            Também havia a possibilidade de aparecer uma touceira mais resistente que me travasse uma ou duas rodas, com pilonagem ou perda de reta. Que sinuca de bico!

            Não, concluí, por ali não daria para decolar de jeito nenhum. Plano A fora de cogitação. Só que não tinha plano B ou C.

            Ao lado da pista havia uma valeta de drenagem, para evitar alagamento nas épocas de chuva. Não sei por qual motivo, paralela a esta vala havia uma trilha de trator que era tão larga quanto a distância entre os pneus. Por algum motivo não havia macegal nesta estreitíssima trilha, por uns 90 metros. Como já tirei o Kitfox do chão em até 60 m, de teimoso  e louco para fazer merda, resolvi arriscar. Seria o plano infalível B ...

            Tive que tirar o teco da "pista-brejo" no muque e levá-lo à cabeceira da improvisada, larga e comprida pista para decolagem.

            Ah, não esquecendo que, mesmo com o baita susto, comecei a matutar em como restabelecer a rota inicialmente programada.

            Aí veio o estalo: "Mas tu és mui burro hein, Barbosa? Era só ignorar a posição problemática, passar para a seguinte e nada disso teria acontecido". Até porque era quase provável o contato visual da fazenda mal lançada na rota, entre as duas posições corretas, se é que me entendem.

            Deixei o tequinho bem alinhado, com a bequilha na macega e a hélice na área limpa, encompridando ao máximo a pista. Dei uma última conferida a pé, se não havia nenhum buraco, haste mais resistente e parti pro tudo ou nada, doutrinando-me, "se for perder a reta, perde pro lado das macegas, nunca pro lado do valetão."

            Entrei na "espaçosíssima" cabine, ajustei bem os cintos, botei o surrado capacete azul, de mil novecentos e antigamente, chequei bem os solados dos tênis que calçava, para ver se não havia umidade ou sujeira que atrapalhassem, freei o teco, dei perto de setenta por cento da manete e, quando o bichinho começou a arrastar as rodinhas, liberei os alicates, fui ao fundo da manete e nos fomos.

            Nem sei a quantos metros das capoeiras decolamos. Só sei que decolamos.

            Aviãozinho bom, o Kitfox: aceita cada piloto ...

            Ah, por dever de justiça: o dono da granja era mui caprichoso e já fazia dois anos que fizera outra pista, com perfeita manutenção, abandonando aquela, por estar em área muito alagadiça.

            Foi eu decolar da desativada que logo avistei a nova, pois ficara oculta pelas árvores ao redor da sede.

            Outra coisa: o cagaço valeu a pena pois saiu o brique.

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PARAQUEDAS SALVA







Perto de Belo Horizonte. Ninguém se feriu.


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DIA INTERNACIONAL DA MULHER


   Uma delas saltando de asa delt a partir dum balão.
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