domingo, 15 de janeiro de 2023

Uma das Piores Estiagens da Região Continua

 


   Como se vê, no contraste com a soja, as árvores e o arroz,  a grama está totalmente seca.

    Aqui na Palma, a última frente fria trouxe apenas 3 mm.

   Caso a próxima também falhe, os produtores terão um dos piores anos do seu trabalho. 

   Embora este seja um blog de aviação, a seca tem tudo a ver com nosso objetivo: se a lavoura está em crise, a aviação agrícola está junto. Se os lavoureiros sofrerem grandes prejuízos, todos estaremos sentindo os reflexos no bolso. Como avião só voa com dinheiro ...

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ESCLARE CIMENTO

     Na semana passada não houve postagem, pois o "Lambe´Lambe" também é filho de Deus e tirou umas férias. Com cimento ou não, vale o esclare sobre  a Resolução de Ano Novo, de postagens semanais, para deleite (condensado ... ???)  de meus cinco leitores (leitoros, leitoras - segundo a nova grafia a ser imposta ... kkk)

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Para esquecer a seca, relembraremos algumas peripécias do


Deoclécio, O Peão Voador

 

 

            No Aeroclube

 

 

         Trotearam coisa de três quartos de hora até chegar ao Aeroclube do Alegrete.

 

         Arrumaram uma sombra, amarraram as rédeas no tronco da árvore e saíram a procurar alguém que pudesse dar informação sobre o “Curso prá Guiá Apareio”.

 

         Atinar com o que fosse secretaria, recepção, essas coisas, nem tossindo a vaca.

 

         Nisso passa um Ipanema taxiando rumo à pista.

 

         O Deoclécio, seu amigo Eraclide, mais o cusco Ventania desandaram numa carreira de assustar lebrão em lavoura de soja, querendo alcançar o índio do “avião da uréia”. Decerto saberia dar alguma informação sobre o tal de Curso.

 

         O piloto reconheceu o bombachudo e o infalível Ventania, cusco até   bem treinado, que não preocupava mais quanto a vir se meter na frente da hélice.

 

         O Deoclécio também  tinha lá sua experiência com esses “avião de lavoura” e até ajudava a carregar uréia, azevém e o que precisasse, por isso sabia que não se chega pela frente num avião com motor ligado.

 

         Mas o recém-conquistado amigo só entendia de lida de campo, pealar, curar bicheira, no máximo, aplicar vacina, essas coisas, além de borracheira de bolicho e permanências na zona.

 

         Quando o piloto parou na cabeceira, para o cheque de decolagem, o desinfeliz  veio correndo, bem no rumo da hélice.

 

         Ainda bem que o comandante teve uma baita presença de espírito, deu toda a manete, freou a roda oposta à da aproximação do maluco, o avião girou rapidamente e conseguiu abotoar um asaço na orelha que não levara relho, lá no bolicho.

 

         O Eraclide, esse era seu nome, desabou na grama, com as melenas encharcadas pelo sangue que saía da orelha atingida.

 

         Cortado o motor, todos foram socorrer o desmaiado. Um pouco de água nas ventas, que quase todo o piloto carrega uma garrafinha, e, de vereda, o índio arregalou uns olhos, como que não sabendo se estava vivo ou morto.

 

         - A la fresca, tchê! Eu devia era ter te dado um outro relhaço lá no bolicho. Se é cosa que se faça? Se meter bem na frente da héliz? Se o meu amigo não é ligero, agora tu tava virado era em guisado prá lingüiça. E acho que nem seria de proveito: ia saltá um monte de bosta dessa cabeça ...

 

         O Deoclécio soltou uma gaiatada daquelas ...

 

         O outro não sabia onde se enfiar de vergonha. O que lhe ocorreu foi:

 

         - Bueno, peço desculpa, mas o que eu queria era atacá o home, pra tu sabê essas coisa dos decumento. Vê no que deu ...

 

         O piloto indagou do Deoclécio:

 

         - Tu veio para encomendar algum serviço lá na granja?

 

         - Não, tchê. Eu vim pro Curso.

 

         Nunca passaria pela cabeça do experimentado aviador que um sujeito tipo o Deoclécio, grosso que nem pau de tronqueira, sem ao menos haver concluído o primário, viesse a sonhar com vôos. E o que fazer ou dizer, para não sensibilizar o homem? Não seria bobo de irritar o peão. A orelha do outro, mais a alça de mira dum Smith 38 que aparecia de leve  por baixo da aba do casaco eram suficientes para desencorajar qualquer discórdia ...

 

         - Ah, mas então tu vai ter que voltar depois das duas da tarde. A moça do Aeroclube foi à cidade, aos bancos, correio, etc.

 

         - Esperá eu espero, mas adonde consigo bóia? Saco vazio não pára de impé, diz o ditado.

 

         - Vamos combinar o seguinte: eu vou fazer uma área aqui perto e, dentro duns quarenta minutos estou de volta. Vocês me esperem lá na sombra.

 

         E se foi para a cabeceira, decolando de imediato, que não estava para esperar mais alguma aprontação.

 

 

         O Deoclécio ao ver o Ipanema em vôo, era um peão na doma, um tropeiro assobiando por um corredor, um homem com os olhos cravados nas ancas da Conceição, um gaúcho feliz e realizado.

 

         Já não sentia fome, não se irritava com a demora, os contratempos. Dali a pouquito não ia se matricular no Curso de Direção de Aparelho?

 

         Isso bastava.


Não perca o próximo "capítalo", na próxima semana ...

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Para Verem como o Lambe-Lambe pilotava ...


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