domingo, 1 de abril de 2012

Um Voo Histórico



Mal o Polaco estufara o peito, batera as asas e dera a primeira clarinada de saudação ao novo dia, estava já o Deoclécio sentado num cepo, sorvendo um amargo, com erva das mais fortes da Palmeira, bombeando o fogo e resmungando consigo e com o cusco:

                - Tchê, Ventania, hoje bamo amostrá  praqueles bundamol o que é um gaúcho de serventia.

Isto falava, porque  tinha um plano traçado . Bem traçado e infalível, que nem os do Cebolinha e Cascão contra a Mônica.

- Termino o mate, pito um palhero dos bueno, adespoi tomo uma caneca de café com um resto da oveia de onte e to pronto pro desafio. E tu não te fresqueia de me atrapaiá nos planejado.

Feito os alimentamentos, lá estava o peão num trote em riba da égua Xuxa, assobiando de novo o “Canto Alegretense”, música preferida quando estava por se envolver em alguma cosa arriscada.

O  Ventania, meio por perto, chuleando alguma caça - sorro, pereá, mulita, qualquer cosa de sustança.

Pros lados de Rosário a barra do dia avermelhava o horizonte e o peão vibrava de contentamento, que nem guri que acertou a bodocada.

De vereda estavam na várzea, onde uma nesga de cerração meio que contornava o mato da sanga.

- Só o que me falta. Uma baita librina. Aí se vai tudo rio abaixo ...

“Eles vão ver, pensava. Acham que sou um bocó, de não prestar atenção pras coisas.”

O imponente Ipanemão, uma das últimas aquisições do seu Ponciano, tapado de sereno, era um desafio. Mais de trezentos cavalos prontos a disparar na cancha reta que era a pista de 600 metros, bem larga e nivelada, sem obstáculos nas cabeceiras e com laterais limpas.

“Numa pista dessas até guri que não desmamou sai voando.”

Pelo andar da carruagem, já podem ter ideia do que se aproxima.

Como todos sabem , piloto e equipe agrícola são bichos por demais madrugadores e, antes do Sol nascido já estão a postos. Assim, se o peão queria, mesmo, voar, tinha que ser meio a rumo, antes dos outros chegarem, no lusco-fusco do amanhecer.

Por ser lugar retirado, de difícil acesso, onde ninguém ia, o piloto seguido deixava a chave no painel ou, na melhor das hipóteses, pendurava numa sobra de arame, meio escondida no oco dum moirão, cavado por um pica-pau.

Era praticamente noite             ainda e o rugir do motor acordou gente e bichos em toda a volta, coisa de légua.

Na fazenda, o pessoal achou que era o piloto. O piloto pensou que fora a equipe de apoio e o Deoclécio pensou que era isso mesmo que ele queria que eles pensassem.

Voará o gaudério? Destruirá o Ipanema do patrão? Morrerá junto com seu sonho de voar?

Não percam os próximos capítulos de “Aquela Estampa”, que acaba de iniciar, como dizem os apresentadores da Globo. Acaba de iniciar ... E eu é que sou burro ...


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