quinta-feira, 24 de outubro de 2024
sábado, 12 de outubro de 2024
12 de outubro de 2024
CONVITE EPAER - São Gabriel 2024
_____________________________________
Luto pelas Mortes em Minas
Duas tragédias em sequência. O piloto do avião agrícola procurado pela equipe dos bombeiros era gaúcho de Vera Cruz.
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2024/10/12/aeronave-bombeiros-queda-monomotor-mg.ghtmlPara Descontrair um Pouco
Elogio Sincero
Todo o mundo gosta de
ser elogiado e muita gente cai na armadilha de aceitar elogios venham do jeito
que vierem, não estando muito interessados em saber o quanto de sinceridade
encerram.
É
claro que os “ases” também gostam de ver suas qualidades reconhecidas. É na
busca da valorização de seu talento que surgem os
grandes pilotos de acrobacia e, por outro lado, os nem tão cheios de perícia
que se foram desta para outra antes do tempo, por se meterem a facão sem cabo
na ânsia de fazerem igual.
Ninguém,
é claro, gosta de ser chamado de “manicaca”, marcha-lenta e, chego a crer que a
maioria os ultralevistas se tem como o melhor “pé-e-mão” que cruzou a face da
Terra.
Acontece
que surgiu a necessidade de fazer um vôo saindo de Itapuã, atravessando o
Guaíba (rio, para uns, estuário, para outros, laguna para terceiros) – mas uma
massa dágua de impor respeito para quem não é acostumado com a fartura de rios
que serpenteiam pelo Rio Grande do Sul. Depois, voar no rumo da fronteira uns
sessenta quilômetros. Para ir e voltar sem pavores por escassez de combustível,
era necessário um apoio logístico e fiz o trajeto de carro, deixando uma reserva
estratégica de gasolina na pista da Aeroagrícola Astral.
Como
haviam me contado o caso de um colega que perdera o ultraleve numa travessia
sobre o Guaíba, que é largo, mas pouco profundo, tomei providências com
tecnologia de ponta para recuperar o “Marimbondo”, caso houvesse pane sobre o
rio, estuário, laguna, sei lá ... Peguei um galão de óleo vazio, fechei bem a
tampa, amarrei numa das pontas de uma linha de pesca de
vinte metros, enrolei-a e atei a ponta oposta na estrutura do
“Marimbondo”.
Estava
pronto o localizador mais barato e eficiente que já se inventou. Mesmo que a
correnteza levasse o Netuno para longe, coisa bem provável de acontecer, pois o
próprio nome do “aparelho” já era um chamariz: Netuno - deus das profundezas
..., era só procurar o tal galão boiando e providenciar a pesca do dito.
Chegou
o dia em que deveria fazer o tal vôo.
Cedinho,
como sempre faço, para fugir das turbulências, lá estava, em Itapuã, pronto
para a decolagem.
Era
voar no rumo Noroeste por uns dez minutos e logo estaria nas praias do lado
esquerdo do Guaíba. A seguir, desviar mais um pouco para o Norte e
seguir até uma parte onde, nem se está sobre a cidade de Porto Alegre, nem
sobre uma imensidão de água. É mais ou menos à altura da antiga Ilha da Cadeia.
Ali agente respira fundo, pede ao motor Volkswagen para que colabore,
pendura-se no pincel e se manda no rumo da tal Ilha. Se der zebra, pousa-se na
água e entra-se imediatamente em treinos para a maratona aquática, indo rumo à
Ilha ou ao continente, dependendo do que parecer mais perto.
Pois
enfrentei a situação, também confiado no colete salva-vidas que usava, herdado
da minha filha Juliana, que o usara aos nove, dez anos. Quem me olhasse de
longe, até poderia pensar que estava usando o sutiã duma tia gordota.
Atravessei
o rio, estuário, lago, laguna chamado Guaíba, sem que nada de extraordinário
acontecesse e me fui à pista da Astral, onde faria pouso técnico
para reabastecimento.
Levei
a aeronave ao pátio de estacionamento e fui à casinha dos combustíveis buscar a
gasolina que estocara.
Nesse
meio tempo aproximaram-se do Netuno, duas pessoas que eu não conhecia
pessoalmente e começaram a olhar o ultraleve de perto.
Sempre
priorizei a segurança, não ligando muito para a estética, beleza, essas coisas.
Em conseqüência, o aviãozinho não era lá uma Brastemp no item “boniteza”. Um
remendinho no Dacron aqui, um cabo de aço extra ali, para reforçar, outra
improvisação devidamente testada mais adiante e, realmente, não era de se
apaixonar pelo aspecto do distinto.
Quanto
mais examinavam, eles, pilotos da aviação convencional - agrícola, mais se
convenciam da precariedade, pelo menos na aparência, do meu Netuno, embora, na
realidade ele estivesse num estágio de confiabilidade raramente encontrado
nesse tipo de avião. Tanto que voei mais de 350 horas sem qualquer problema
sério, apenas manutenção periódica. Mas eles não sabiam disso e, baseados no
que viam, estavam realmente impressionados com o peito do piloto que
atravessara o Guaíba em tão precária embarcação.
Não
me conheciam e assim prosseguiram nos comentários não muito lisonjeiros ao
ultraleve. Quanto à parte que me toca, uma de suas observações foi o maior
elogio que recebi até hoje, e acho que foi sincero, pois ouvi quando chegava
perto, sem que percebessem minha presença:
-
Para voar “nisso” aí, só tendo colhão muito roxo. Tem que ter coragem!
Deviam
ter desancado muito a lenha no ultraleve, pois ficaram com cara de cachorro que
comeu ovo, quando me apresentei como o “colhão roxo”, piloto do Netuno.
Tentaram remendar a situação, pois não sabiam até que ponto da conversa eu
ouvira. Mas, realmente, só escutara o elogio ao piloto.
Para
deixá-los à vontade e desfazer o mal-estar, repliquei:
-
Só colhão roxo não chega. Tem que ser louco, mesmo. Desses de atirar pedra.
E
prossegui no meu abastecimento, como se receber um elogio daqueles fosse a
coisa mais comum do mundo, para mim.
Mas,
cá comigo, estava pisando nas nuvens de tão faceiro. Dois pilotos agrícolas,
que é categoria que tenho na mais alta conta, haviam reconhecido que, para voar
num Netuno era necessária tanta coragem quanto a que se precisa para voar a um
metro do solo, com o avião até as goelas de carga, nunca se sabendo direito se
algum granjeiro progrediu na vida e instalou uma nova rede de alta tensão bem
no meio duma lavoura.
Se
naquele dia pegasse um ventão, as térmicas estivessem impossíveis, acho que
enfrentaria assobiando, no mais.
Iria
lá um “colhão roxo” se assustar com ventinhos e ascendentezinhas?!
Esta a "linda" e impressionante aeronave.
Outro que tem gratas recordações deste aviãozinho é o Luques, também piloto agrícola, que estava junto num voo de teste dos mais apavorantes que já fiz. Como ele mora em Uruguaiana, dizem que até hoje compra cueca nova m Paso de Los Libres, na Argentina ...
sábado, 5 de outubro de 2024
As Hélices do “Pober Pixie”
Depois daquele
desentendimento que tive com a cerca, detonando o “Kitfox”, por falta de pilas
tive que vender o aviãozinho, mesmo acidentado, a preço de banana, que foi a
oferta que apareceu.
Resumindo,
o Fábio, instrutor em Gravataí, na Aldeia dos Anjos, pagou o motor Rotax 912 e
levou junto o resto, como cortesia ... Mas, a bem da verdade, comprou com o
motor trancado, sem saber o que podia ter por dentro. Felizmente, nada sério, o
motorzinho havia sofrido um calço mecânico, pela excessiva carbonização.
E
como é que eu iria adivinhar que num motor de quatro tempos, com TBO prevista
para 1000 horas, devesse fazer descarbonizações, dependendo da freqüência de
uso, com apenas 150 horas, para o caso de quem voasse com intervalos muito
grandes? Como já estava com 560 horas, sem uma única descarbonização, usando
uma gasolina, que é, digamos, uma m ..., deu isto mesmo ...
Eu
e o meus parênteses ... Isso detona o meu estilo, se é que existe algum. E aí
veio outro ...
Logo
após a venda do Kitfox, o melhor aviãozinho leve em que já tive o prazer de
voar, fiquei, como diz o gaúcho: “de a pé”, por uns meses.
Lá
pelas tantas consegui comprar o “Pober Pixie” “construído” pelo dentista Saffer, com assessoria
(ortopedística) Paulo Machado, e que naquela época estava nas mãos do
anestesiologista Régis, também conhecido como Grumatã ... E por que é que há
tanto médico na aviação?
A
estas alturas a tesão por voar novamente num aviãozinho próprio saltava pelas orelhas. A ansiedade também era
proporcional a esta tesão, o que, normalmente, não dá bom resultado.
Já
havia feito um voozinho de teste em São Leopoldo, mas fora apenas turno de
pista. Quem levara o aviãozinho para Montenegro fora o próprio Régis.
Assim,
no dia em que fui lá fazer meu primeiro vôo, você não imaginam a ansiedade por
estar no ar, de novo, numa aeronave minha.
Havia
feito umas modificações no pára-brisa e também queria testar as reações
aerodinâmicas com elas, antes de sair para vôos mais longos.
Os
pneus estavam um pouco murchos e no hangar do Régis e colegas da aviação experimental não havia compressor de ar.
Teria, então, que ir ao hangar do aeroclube para calibrá-los.
Saí
“dando dezoito em terra lavrada”, expressão gaúcha para cavalo bom, que faz em
dezoito segundos algo ao redor de um quarto de milha: mas, ao aproximar-me do
hangar do Aeroclube, esqueci que havia chovido um monte, que a pista estava
encharcada, especialmente nas laterais e, em vez de seguir cuidadosamente o
acesso ao pátio de estacionamento, saindo da pista a noventa graus, fui pelo
atalho e enfiei o Pober Pixie na banhado.
As
rodinhas se enterraram no barro e a pilonagem
foi suave e parcial, com o aviãozinho de nariz enterrado, sem maiores
danos, aparentemente.
A
gasolina derramando do tanque e o pessoal com medo de chegar perto para me
ajudar, temendo o fogaréu. E o “Pobre Bicho” em posição pouco cristã, de bunda
erguida ...
Lá
pelas tantas, como o fogo não veio, o Wagner, então presidente do aeroclube e
mais um curioso que andava por lá vieram me ajudar. O tal curioso veio com uma
garrafa de cerveja numa das mãos e um cigarro aceso nas outra. Ao aproximar-se
para ajudar, largou a garrafa, mas não o cigarro. E a gasolina derramando ...
Consegui
avisá-lo a tempo e o trabalho de resgate foi feito sem grandes imprevistos.
Examina
daqui, examina dali, apenas a proteção
metálica da ponta da hélice havia saído, ficando irrecuperável. Tentei
improvisar outra, mas o peso ficou diferente e desbalanceou-se o catavento...
O
remédio foi apelar para o Orley, em Ponta Grossa e pedir uma nova hélice com a
maior brevidade. Ele entendeu minha situação e, numa semana eu já tinha
ventilador novo no Pober Pixie.
A
pressa pelo vôo deu em nova cacaca.
Coloquei
a hélice em posição errada. Na hora da
partida manual além de exigir muito maior esforço, o giro não fechava bem com o
tempo de explosão, dificultando a ‘pegada’ do motor.
Deixo
assim, só por hoje e noutra hora coloco em posição certa, que hoje quero é voar
– pensei.
Na
posição normal, o Pober já era meio reinoso para pegar. Do jeito em que estava,
com a gente dando hélice com medo, havendo menos força no giro, a coisa
encrespou-se de vez: nada de Continetal 65 roncar.
Já
estava num baita suadouro, fazendo mil e uma experiências , ora desafogando o
motor, ora girando com a manete em posições diversas, etc.
Resolvi
partir para um método científico de acionamento: calcei o avião com umas pedras
pesadas e altas, para ter certeza de que não pularia os calços e dei hélice com
a manete toda reduzida: não pegou. Manete meio centímetro avançada: necas. Um
centímetro à frente: nem sinal. E,fui avançando milimetricamente. Movimentos
“friamente calculados”.
De
repente ...
O
Continental 65 em vez de roncar, berrou que nem terneiro de sobreano na
capação.
E
berrou valendo.
O
Pober Pixie do “causo” é monoplace, com o assento do piloto ligeiramente
recuado para que o peso do manicaca deixe o centro de gravidade na posição
correta. Como nesta “experiência sobre o que não se deve fazer” o piloto estava
“dando corda” na aeronave, já tínhamos um fator prejudicante. Dito piloto
deveria cabrar o manche, se estivesse dentro do avião. Como estava fora, que
pelo menos travasse os comandos corretamente, o que não fez. Outro item
entornador de caldo. A única coisa aparentemente correta, foram os calços
superdimensionados, para substituírem os freios, o que, ao final, contribuiu
decisivamente para o desandamento da
maionese ...
O
motor queria puxar o nariz do avião para a frente, os calços impediram, o
profundor estava solto e não havia peso no local certo para impedir que a cauda
se erguesse. Assim ...
Saltou
caco de hélice a mais de quarenta metros.
Depois
dessa acho que o meu recorde merece um lugar no Guiness: sem uma única hora de
vôo, em apenas sete dias, o grande piloto
destruiu duas hélices
Quando
liguei de novo para o Orley ele até pensou que fosse para reclamar de algum
problema. Contei-lhe o acontecido e até pensei em propor-lhe sociedade: a duas
hélices por semana para o mesmo avião,
duvido que ele arrumasse outro cliente igual ...
Por
consolo, restava a esperança de já tivesse gasto o estoque da cagadas a fazer,
devendo o primeiro vôo já estar sob a
conjunção aeronáutica do cuidado, da atenção e nada de pressa em voar ...
E
tudo foi uma beleza, tanto que ainda estou escrevendo, vivinho e sadio da
silva.
_________________________________________
Tá Perto
"Invite" Gaudério
______________________________________