sábado, 4 de fevereiro de 2012

Voando no Calorão


Voando no Calorão

Tem gente que não aprende.
Gosta de levar cagaço.
Devia era tomar laço,
Que conselho não entende,
Nem a prudência compreende.
Acha que é sabichão.
Desafia assombração.
Sai a voar no calor.
Aí, lhe bate o pavor
Com pane no avião.

Ainda em dois mil e dez,
Vejam bem o que eu fiz,
Me larguei no 15 Bis.
Não quis esperar a vez.
E o motor então fez
O que seria normal.
Aqueceu de forma tal,
Que nenhum Fusca aguenta,
Calor a mais de quarenta.
Aí então me dei mal.

Derreteu cabo de vela
Lá se foi um bom pistão.
Sem potência o avião
Apresentou por sequela,
Uma descida e aquela
Sensação de "Eu devia
Era voar outro dia,
Mas agora já é tarde.
Só se aprende quando arde."
E pousei nas "melancia".

Essa história já contei:
Detonei a ferramenta.
Vendi e o Gilnei sustenta
Que bom avião lhe passei.
Quanto gastou eu não sei
Mas já tá quase voando.
E eu, burro, aprontando
Saio com o Kitfox
No calorão, como fosse
Amena a temperatura.
Só encontra quem procura
Aquilo que é bom para tosse.

Lá pelas dez da manhã
Co'a patroa decolei
E lá no Gelson pousei,
Tapado de picumã.
Eu ando meio tantã,
Pois inda tinha nevoeiro,
Teto baixo e eu rasteiro
Voava, dentro das regras,
Meio contraindo as pregas
Mas cheguei lindo e faceiro.




E o calorão comia,
Desses de derreter.
Eu em vez de suspender,
Teimei em ganhar o dia.
Fui tirar fotografia
Na hora do calorão.
Quase quarenta e o avião
Se portava nos contentos,
Repassei os instrumentos,
Tudo conforme o padrão.

Enquanto curvas fazia,
Mudando a posição,
O ar da refrigeração
O radiador atingia.
E assim ele resfria
A água e o motor
Eu tranquilo, sim senhor,
Aproeei rumo das casas
Conduzido pelas asas
Dum rico avião de valor.

Tudo o que é bom dura pouco:
Fui checar os instrumentos
E um desses elementos
Me colocou quase louco.
Da afoiteza era o troco:
A água quase fervia.
Aos noventa e oito ia.
Nos cem começa a fervura.
Nenhuma mangueira atura
Esse tipo de pressão.
Pensei: "Outra vez vou pro chão
Por procurar aventura."

"E agora, o que fazer?
Subo pro ar mais frio?"
Mas me dava um arrepio
No que ia acontecer:
Acelerar para valer
Com água quase fervendo!
Acabei foi escolhendo
Reduzir a tal manete
Para refrescar o flete,
Pouco efeito isto fazendo.

Com menor velocidade,
Menos ar no radiador,
A água quase em vapor.
Causo feio, era verdade.
E aquela ansiedade
Por chegar logo na pista.
Eu espichava a vista,
Mas não encurtava espaço,
Nem que fosse em placaço
Pousar, a maior conquista.

Cinco minutos fora,
Mas parecia uma vida.
Que rotinha mais comprida.
"Por favor, não seja agora
Se uma mangueira estoura
Será que o motor não tranca?"
Nossa mente se atravanca
Com tanta possibilidade.
Num causo desses, a verdade,

Té valente perde a banca.

Pousei, encurtando o causo.
Quase foi pouso manteiga.
Uma história não tão meiga,
Mas ali me dei um prazo,
Sem adianto sem atraso:
De só voar em dia quente,
Se galinha criar dente,
Ou se a vaca tossir.
A valente pro Céu ir
Viro cagão, mas vivente ... !!!

O referido é verdade e dou fé.
Gravataí, 04 de fevereiro de 2012.

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