quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Lei da Vantagem


A Lei da Vantagem

Tenho cá comigo que a solução dos problemas do mundo é muito simples: bastam duas coisas - uma, parar de fabricar filhos em série, outra, já que não paramos de fabricar gente, vamos desenvolver o sentimento de solidariedade, de vida em grupo, de divisão dos parcos recursos de que dispomos e, isso, em todos os sentidos.

O que torna a vida sobre o planeta Terra cada vez mais difícil não é apenas o excesso de lotação. É, também, o tipo de passageiro embarcado.

O sujeito nasce e, só porque tinha um monte de babacas ao redor - médicos, enfermeiras, mãe, pai, avós e caterva - já fica achando que é a melhor bolacha do pacote.

Passa uma infância paparicado, torna-se um aborrescente dos mais aborrecidos e encara a vida adulta achando que o mundo gira em torno dele.

Aí a porca torce o rabito. Um monte de outros discípulos de Gérson também só quer levar vantagem, cria-se o conflito e está feita a porqueira.

Como ninguém mais se preocupa com o semelhante, nem possui sentimento ou consciência de grupo, a vida em sociedade torna-se cada vez mais difícil e, olhem, o ser humano não sabe viver sozinho. Aí fecha-se o círculo: não respeito os demais, fico isolado, cada vez mais agressivo e individualista, sou rejeitado, reajo com mais agressões, o outro também age de jeito semelhante e o dia-a-dia vira uma guerra de indivíduo contra indivíduo.

Hoje pela manhã tive uma clara demonstração disto:

Estava numa fila de carros aguardando a vez para entrar numa preferencial. Era hora de movimento e as brechas para entrar eram poucas e breves, exigindo do motorista uma certa habilidade, o que nem todo o mundo tem. Aí já está uma clara demonstração de nosso desrespeito para com os demais - mesmo sabendo que não tenho condições, compro uma lata velha e me enfio no trânsito. Azar dos outros.

Voltando ao assunto: chegou a vez do motorista à minha frente entrar no fluxo da avenida. Passou uma, duas, três, sei lá quantas oportunidades, mas o maneta não se encorajava. Como sou relativamente educado, aguardei e ao ver que o homenzinho não tinha condições, não fiquei buzinando. Apenas saí da traseira de seu carro e, como havia espaço, coloquei-me a seu lado, pois pretendia entrar na avenida antes da noite ...

Para quê? Foi o homenzinho ver que eu estava ao seu lado e que talvez fosse entrar na avenida antes dele, o tal que, antes não tinha coragem de avançar, a menos que os carros estivessem a quilômetros de distância, só para não perder a vez para mim, o que fez? Isso mesmo, enfiou-se justo na hora em que não podia. A Kombi que vinha na preferencial teve que dar um freadão para não bater, o grande motorista levou um baita cagaço e se mandou a la cria, com medo de que o que teve a frente cortada fosse atrás ...

Pois se era um bundão, não sabia dirigir direito, por que, justamente no momento em que eu poderia, nas aparências, levar vantagem, foi que se encorajou? Ah, mas a sua vez na fila não poderia ser de outro. Mesmo que estivesse trancando o trânsito por imperícia, a culpa de sua manetagem era de todos, menos dele.

Todos já ficamos trancados em cruzamentos porque o motorista da rua transversal avançou, mesmo sabendo que não havia espaço para completar a travessia, trancando a via quando o sinal fechou para ele.

Pensar em nós mesmos é básico. Faz parte do instinto de preservação da espécie. Mas este mesmo instinto nos faz procurar o grupo, viver em sociedade.
Mesmo as sociedades ditas mais primitivas dão o devido valor à indispensabilidade da vida em comum e estabelecem regras rígidas de convivência. Os modernosos, os democratosos, os individualistas criam o mito da autossuficiência. Há que se respeitar o direito individual a qualquer custo.

Quando nos dermos conta de que preservando o grupo estamos preservando nossa individualidade, estaremos chegando perto duma vida parecida com a verdadeira civilização, civilidade, evolução ...

O indivíduo, fora do grupo é um bosta.

Um bosta petulante e abestalhado, feito o motorista quase atropelado pela Kombi ...

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