domingo, 20 de novembro de 2011

Cavalgada a Porto Alegre


Mal tinha cantado o galo,
Inda era madrugada,
Já tinha dado a mateada
E encilhava o cavalo.
Esse pingo de que falo,
Exige muita atenção,
Todo o cuidado do peão.
O descuido de um segundo
E o quera troca de mundo,
Pois o pingo é um avião.

Por dias tinha ventado.
Eu carecendo voar,
Esperando a madrugar.
(Como não sou aloprado,
Se o voo é arriscado,
Só faço na precisão.
Nunca é demais precaução.
Assim, se o vento tá forte,
Não vou cutucar a morte
Só pra bancar o machão.)

Na feita, tava flaquito;
Pouca nuvem ou cerração.
Pensei: "É esta ocasião.
Vou sair num trotezito,
A Porto Alegre, solito,
A partir de São Vicente.
(Se não sirvo pra valente,
Covarde não é minha'lma.)
Aquela manhã tão calma.
Pro meu voo era um presente.


Ventinho Leste de proa
Avagarava meu trote,
Mas não havia pinote.
A marcha rendia boa.
Para o piloto isto soa
Como milonga bem feita,
Que o compositor ajeita,
A guitarra dedilhando.
Sou pajador, e pajando
A estrada nunca se estreita.





Passei por Santa Maria,
Em Restinga fiz retrato.
E prosseguindo o relato,
Tudo como eu queria,
Num tapa pra já que eu via
A silhueta de Cachoeira,
Terra de minha parceira.
Só parei pra desaguada
E prosseguir na jornada
Antes que viesse a pauleira.


Devidamente aliviado,
Dei-lhe as esporas no flete.
No causo, era a manete.
Prá já tinha decolado
E para o Leste aproado.
Voar assim não é fardo
Na calma e sem retardo,
Bom pingo não desaponta:
E quando me dei por conta
Já sobrevoava Rio Pardo.
  
                                                                       

 
Velha capital Farrapa
À beira do Jacuí,
Tirei retrato e, dali
Ao destino era um tapa,
Como mostrava o mapa.
Embaixo, sacolejei
"Vou subir", então pensei,
E a coisa se acalmou
O corredor se alisou
E por Taquari cruzei.




Montenegro, de vereda
Pousei, outra desaguada.
Explico tanta mijada
Se não a história enreda
E a coalhada se azeda:
É que numa ocasião,
Por falta de hidratação
Quase que me apaguei.
Como daquela escapei,
Agora tenho cuidado,
Tomo líquido adoidado
E ainda não me molhei ...

Dali pra Gravataí
A distância era pouca,
Mas cada térmica louca,
Que não tinha no Gibi,
Até o garrão sacudi,
Mas pousar é que era o caso;
Passar a rede num raso
E mergulhar com vontade,
Mantendo a tranquilidade,
Sem adianto e sem atraso.

Mesmo estando cansado,
Fiz o que manda o manual.
Comandei o meu bagual
Dentro do programado.
Pousei curto, amanteigado,
Nem precisei usar relho.
Guardamos o aparelho.
Pensei: "A missão cumpri.
Se não sirvo pra guri,
Sirvo pra piloto

E VELHO...




Lá no fundo, Santa Maria a terra do piloto que se acha pajador ...


Restinga Seca - terra do Iberê Camargo


Rio Vacacaí (o Vacalevantei é mais adiante ...)




Rio Pardo


Taquari


19 de novembro de 2011

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