domingo, 17 de março de 2024

Não Embrabeça seu Anjo


 


 

Estive lendo um tijolão publicado no forum da ABUL, escrito pelo Matta Machado, sobre sua experiência com os CBs.

 

Todos cometemos erros e, felizmente, em muitas das cagadas, o preço pago não é o mais alto. Foi o caso, onde o preço ficou no susto e suadouro. Mas como nem sempre as coisas terminam tão bem, ele resolveu tornar pública a aventura, para nos alertar.

 

Como dizia o esquartejador, vamos por partes:

 

Atender ao pedido de estranhos à aviação para fazer um vôo de risco é pedir para levar. Claro que todo o pai se amolece quando o pedido vem de algum projetinho de gente, com os olhinhos brilhantes de sede por aventura.

 

Cuidado: o adulto, o responsável, o capaz de avaliar riscos e ameaças somos nós, não as crianças. Elas confiam cegamente no seu maior herói, no super-homem, naquele que tem a coragem e competência de enfrentar os céus e as distâncias. É melhor decepcionar nossos fãs, diminuir um pouco a intensidade da aura de herói e continuarmos vivos, inteiros, em família.

 

Fazer um vôo de longa distância, num Corisco, aviãozinho bom, mas monomotor, em período conhecido como de intensas variações climáticas, pairando por horas sobre uma camada branca, ainda que em vôo sereno, é assumir risco graúdo. E se o motor, por mais confiável que seja, por melhor manutenção que tenha, inventar de perder rendimento ou, pior, ficar bem quietinho? A velha lei de Murphy é implacável - se pode dar errado, vai dar errado. E esta leizinha desgranida pode ser aperfeiçoada: o errado quase sempre acontece na pior hora. Pane no solo ou no circuito de tráfego é raríssima. Aliás, se a gente soubesse quando aconteceria a pane, elas estariam completamente banidas. Ninguém voaria sem antes fazer conserto, a revisão, etc., é evidente.

 

Pois bom, lá se ia o homem, meio alheio aos riscos que buscava.

 

Para completar, se foi tarde a dentro voando acima da camada, mesmo sabendo da possibilidade do surgimento dos CBs.

 

Atendendo à Lei de Murphy, eles surgiram.

 

Um erro nunca anda solito. O somatório iniciou com a decisão pelo vôo numa estação imprópria para aquele tipo de percurso, seguiu na insistência em permanecer sobre a camada com monomotor espartano de instrumentação, quis ir um pouco além, voando à tarde em época de CBs e, completou-se quando avistou um de nossos maiores inimigos e inventou de enfrentar a fera. Está certo que tinha medo de ficar com o combustível no crítico, mas, acredito que ainda assim, seria preferível isto a entrar na pauleira, cuja verdadeira força destrutiva não se podia avaliar. Vários equívocos que todos podemos cometer, mas todos simultaneamente, é nitroglicerina pura.

 

Como dizia minha avó, teve mais sorte do que juízo e o CB não era tão brabo, aliás, devia ser um dos mansos. De um CB de respeito, dificilmente um Corisco sairia ileso.

 

Felizmente tudo terminou bem, mas podemos dizer que ele não precisa mais jogar na loteria. Já ganhou sua mega-sena! Ele e a família estão inteiros.

 

Fico, sinceramente, com receio de escrever sobre erro dos outros, porque estou consciente de que já cometi muitos e que ainda vou cometer alguns, embora faça o possível para evitar.

 

Sou um piloto relativamente experiente. A sorte tem me ajudado e um pouco de preparo já me livrou de poucas e boas. Em oito panes, sendo duas de decolagem, consegui manter o nível de coragem acima do nível da bosta pelo cagaço, terminando os "causos" ileso em cinco casos e com um leve arranhãozinho na sobrancelha num deles, ainda que tenha lenhado feio o tequinho em duas ocasiões.

 

Tenho, entretanto, o maior respeito pela força da natureza. Já peguei algumas turbulências brabas, ventões de través de arrepiar na hora do pouso com pandorguinhas leves como Netuno, 15 BIS e Kitfox com trem convencional. Nunca, porém, tive o peito de enfrentar camada por horas, aliás, ultraleve não deve fazer isso nem por minutos e se o CB está pensando em se formar, compro uns dez tubos de Super Bonder, colo meus pés e os pneus do aviãozinho no solo, que é onde a gente deve estar quando aquelas nuvens bonitas de se olhar enfeitam os céus deste Rio Grande de Deus nas nossas imprevisíveis e quentes tardes de verão.

 

Nunca se sabe o dia em que o anjo-da-guarda está de férias, pegou um resfriado, ou, pior, já cansou das nossas aprontações...


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Pedido de Ajuda

    Atendendo ao pedido da multidão de leitores, perseguidores ou coisa parecida (quatro garantidos - o resto ...), estou organizando o livreco com minhas escrevinhações relacionadas com a aviação. 

   Na década de 80, escrevi no jornal Esportemotor, em Porto Alegre e era bem lido. Na década seguinte publiquei um livrinho analógico, independente, com minhas aprontações de Piá de Estância (tenho exemplares amarelados disponíveis). Lá por 2010, sei lá, comecei o Blog do Barbosa Lambe-Lambe. Teve mais leitores do que tenho agora e não sei explicar o motivo, pois a internet tá muito mais acessível. Acho que estou emburrecendo e escrevendo pior a cada dia que passa ... 

    Apesar dessa "grande experiência" , nunca publiquei um livro, digamos, oficial. Com ficha catalográfica, essas coisas. 

    Esse tal de e-book, então, nem pela frente das casas passou ...

    Se alguém tiver experiência no assunto e quiser me dar algumas dicas, informações sobre eventuais editoras idôneas, publicação virtual, esses troços, eu e os quatro leitores agradecemos.

    No meu Face aparecem muitas editoras oferecendo seus préstimos. Mas a gente anda escaldado ...

    Ah, até me ocorreu a ideia de lançar um livro tipo novela: a cada semana uma publicação nova. Seria como assinar um jornal semanal  - que tal o cacófato bagual ? Existe isso? 

    Agradeço a quem puder ajudar.

    Bom domingo!

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