domingo, 8 de junho de 2025

Sobre esta fria manhã de domingo - e o causo de um certo pouso - 08-06-2025

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Mais um História do Livrinho que Sairá em Breve ... (Quando?)

                   O Pouso Perfeito

 

                   Todo o mundo sabe que um bom piloto é aquele que sabe pousar bem. Tem sujeito corajoso, pé-e-mão uma barbaridade, prudente quando necessário, possuidor de excelentes conhecimentos teóricos e práticos, experiente e cheio de outras qualidades que, no entanto, põe tudo a perder na hora do pouso.

 

                   Assim, a gente vive tentando melhorar, fazer aquele pouso perfeito, que é conseguido quando a gente põe o avião no chão sem que ninguém note, inclusive o piloto.

 

                   Pessoalmente sempre gostei de praticar pousos. Voar para mim é muito gostoso, posso ficar no comando horas e horas, mas se não me deixarem fazer ao menos um pouso, fico frustrado. Como é gratificante a gente fazer o famoso manteiga, deixar todo o mundo babando e sair, assim meio desligado, fazendo de conta que aquilo é a coisa mais normal do mundo, que sempre acontece ...

 

                   Até que aprendi e fiz muitos pousos em pistas críticas ou até fora de qualquer tipo de pista, sem danos ou com danos mínimos.

 

                   Há porém experiências que nos marcam.

 

                   Tinha que fazer um traslado que também incluía a travessia do Guaíba e andar mais um bocado no rumo oeste. Para a aviação normal, variações de vento até que não atingem tanto o piloto, pois normalmente se decola de boas pistas, com aviões pesados, menos sensíveis  e logo se vai para as grimpas do céu onde as turbulências são menores. Agora, para ultraleveiros é uma desgraça. Se uma vaca dá um peido quando tu estás sobrevoando o bicho, lá temos uma asa subindo violentamente ...  Um leve brisa cria uma turbulência orográfica que nos afrouxa até as unhas, de tanto sacudir. Mas é a opção ...

 

                   Pois bem, já decolei com um Noroeste caborteiro, ventinho quente, manhoso, amolecedor de comandos, traiçoeiro, perigoso ... Mas tinha que voar e lá me fui brigar com as turbulências.

 

                   Saí de Itapuã  aproei um pouco à direita do circuito de tráfego de Belém Novo, o que me levava para uns morros duns seiscentos pés, perfeitamente indicados para me recepcionar com um rotor, já que o Noroeste vinha do outro lado dos tais morros.

 

                   Justamente quando me aproximava da zona de turbulência, aparece um ruído todo estranho, tipo hélice frouxa ou alguma peça do motor roçando em algo.

 

                   Com a garganta totalmente seca e a testa totalmente molhada dei um jeito de rumar a Belém Novo, coisa duns cinco minutos e torcer para não perder a hélice, o motor, sabia lá ...

 

                   Interiormente ressequido e exteriormente ensopado, fiz a aproximação de emergência e me fui para o pouso, numa pista de asfalto, com uma pandorga e vento de través. Estava bem arrumado.

 

                   Mas o que se aprende bem, nunca se esquece. Com pane ou não, pouso era pouso e não havia necessidade de atirar o aparelho no chão, pois, para um ultraleve, Belém Novo é um mundão de pista.

 

                   Assim, caprichei, mas nada de tocar.

 

                   E dê-lhe comer pista.

 

                   Pensei com meus botões: “Mesmo com essa imensidade de pista, se continuar flutuando desse jeito, vou furar.”

 

                   Comecei a ceder o manche, fiz até uma pequena arte e tirei uns graus de flape, com cuidado.

 

                   E sempre flutuando.

 

                   Quem disse que ouvia o gritinho do toque dos pneus no asfalto?

 

                   Aí me envaretei e, com muito jeito fui cedendo o manche, até chegar quase ao espetamento, mas nada do toque.

 

                   A estas alturas o Netuno já devia estar pensando: “O que deu nesse idiota, que sempre pousou tão bem. Vai ser boca-aberta prá lá! Tocou bem no início da pista e já faz uma eternidade que continua tentando pousar...”

 

                    Mesmo com o pavor da pane, instintivamente fizera tudo certo, mas tão certo, que os pneus tocaram tão suavemente o asfalto que fiz o papel de marido traído: o último a saber que já pousara.

 

                   Quanto à pane, mais uma vez o magnetozinho fora pro saco, se desmanchara por dentro. Ainda bem que não entrou em curto e não me toca fogo no ‘aparelho’.

 

                   Aí, só de birra voei uns dois anos só na bateria (duas bem carregadas), vendi o Netuno, que ficou dois anos com o Franzen, recomprei e a primeira coisa que fiz foi retirar o magneto e voltar para as baterias. Sabem como é, quanto menos peça girando, melhor.

 

                   E voei mais um ano e meio até vender o ‘Marimbondo’.

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