O objetivo do blog é falar sobre aviação com leveza e bom-humor. Noticiar acidentes, embora possa chamar mais seguidores, em princípio é chover no molhado pois as más notícias sempre andam muito rápido.
Mas chega uma hora em que não se pode tapar o Sol com uma peneira: nas últimas semanas as zebras foram muitas, inclusive trágicas.
Aquela do avião que atropelou a caminoneta de manutenção ou seja lá do que fosse, poderia ter sido uma tragédia assustadora. Não ter havido danos aos tanques, com vazamento de combustível, foi algo que não tem explicação do ponto de vista meramente técnico. Os religiosos dirão que foi milagre, os místicos que foi sorte, mas estatísticamente, a probabilidade de ficar apenas em danos materiais era a menor delas. Felizmente foi a que aconteceu.
Conheci o advogado gaúcho. Falamo-nos umas poucas vezes, mas era um guri gente boa, estudioso, sempre buscando evoluir profissionalmente. Meu contato maior era com seu pai, o qual tinha, com motivos, muito orgulho do filho.
Mas a ceifeira não pergunta se é ou não a hora.
A pane veio no momento e hora mais críticos: logo após a decolagem, sobre área urbana. Duas mortes que poderiam ser muito mais por diferença de segundos.
Nesta semana um casal veterano também se foi, num avião experimental, ao que parece, confiável.
Fica no ar, porém, a pergunta: por que tantos acidentes, incidentes, tragédias, quase tragédias em sequência cronológica tão curta?
Nenhum acidente acontece devido a uma única causa. Há todo um conjunto de fatores que contribuem para a ocorrência. Não sou perito aeronáutico e não tenho elementos para apontar os fatores que estão causando tanta zebra. Acontece que há que se tomar providências e rapidamente, para eliminar boa parte destes fatores que, somados, causam as desgraças.
Peguemos, de novo, a camioneta no meio da pista na hora da decolagem. Falha inconcebível. Pode a torre ter falhado, os operadores do veículo podem haver entendido mal o contato rádio ou sido feito por qualquer outra forma o fato é que até uma criança fica espantada com a capacidade humana de cometer erros grosseiros.
Foi levantada a hipótese de atentado, justamente pela enormidade e gravidade do erro. Acredito que não tenha sido o caso, mas é uma hipótese plausível.
Resta torcer para que as leis da estatística façam a compensação pelo tanto que já tivemos de acidentes, mortes, incidentes, erros, falhas e que essa sequência assustadora seja interrompida por um longo período de voos seguros, pois o avião, apesar dos acontecimentos vistos, continua sendo o meio de transporte mais seguro.
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Para Desestressar um Pouco
domingo, 28 de março de 2021
O Ultraleve Kamikase do Pacheco
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Essas fotos comprovam a loucura que era um pouso naquela pistinha de
apenas 280 m, com uma rede de alta tensão na cabeceira oposta e esse malditos
pinus na aproximação. |
Pois o Pacheco gostava muito de furungar
nos seus “aparelhos”. Se estivesse ruim, tinha que melhorar, se bom,
tinha que revisar, se estivesse excelente, tinha que abrir para ver
como é que se fazia para deixar daquele jeito ...
E
mais futricava do que voava.
Num
belo dia encasquetou que o seu ML 200, 300, 400, 401, sei lá, estava com algum
problema de carburação. E mãos à obra.
Desmontou
o carburador, limpou, assoprou, regulou e tudo o mais que uma
furungação de respeito exige...
Veio
a hora da montagem que, para mim, é a pior de todas: como mecânico desmontador,
até quebro o galho, mas como montador, sempre enfrento a famosa sobra de peças
...
Pois
o Pacheco era um futricador mais preparado: montou o carburador e
não sobrou peça. Infelizmente.
Após
montado, nada restava, senão colocar o carburador no ultraleve. Colocado, havia
que testar o funcionamento.
Como
o aviãozinho ficara um bom tempo sem funcionar, a bateria se fora e o jeito era
fazer pegar na manivela. O improvisado mecânico aeronáutico passou à categoria
de relojoeiro: dê-lhe corda ...
O
ML estava meio temperamental naquele dia e não queria pegar. Ou queria
preservar o dono.
Finalmente,
quando o homem já estava com o braço que nem o do Popeye de tanto dar hélice, o
ML pegou.
Como
todos sabem, neste tipo de avião, ao se dar hélice, fica-se numa posição
bastante perigosa, entre a dita e o conjunto leme/profundor. Pois
foi nessa posição perigosa que o motor pegou a pleno, porque o novel
especialista em carburação montara alguma coisa errada.
Veio,
então, a luta por segurar a cavalaria do motor, que, no caso tinha comido muito
milho e estava com energia de sobra. Não deu outra: o avião foi mais forte e a
traseira do ultraleve passou por cima do apavorado mecânico que, por pouco não
foi arremessado contra a hélice girando a mil.
Avião
é feito para voar e foi o que aconteceu com o recém-consertado ultraleve. Horas
e horas decolando, pousando, cruzando pelos céus, que, no subconsciente da
máquina, ficam gravadas todas as dicas do piloto ou instrutor, e ninguém ignora
que avião tem alma, vontade, temperamento ...
Ganhou
os céus de Gravataí o avião do Pacheco.
Mas não pensem que
decolou de uma pista em meio a grande área deserta. O aeródromo além
de curto, cercado de redes elétricas e árvores, ainda tinha a “vantagem” de
estar rodeado por vilas na maior parte dos lados e, num outro, pela
obra da GM.
Todos
nós, pilotos, não resistíamos à tentação de ver o progresso da primeira fábrica
de automóveis a se instalar no RS. Por isso o aviãozinho já sobrevoara várias
vezes tal obra e, como ultraleve também é bicho curioso, mesmo sem piloto, o ML
encasquetou de ver a montadora.
Quando
o Pacheco viu o avião rumando para aquelas bandas, dizem que foi um tal de
pegar-se com todos os santos conhecidos e os que estão por ser canonizados. Se
caísse nas instalações da multinacional, mesmo vendendo tudo o que tinha, o
homem teria de reencarnar um montão de vezes, para pagar o prejuízo.
Dê-lhe
rezar.
Ou
por serem fortes as rezas, ou por ter quase todo o avião alguma tendência, o
aeromodelo criado a Toddy começou a fazer uma curva.
Vendo
as preces atendidas, o Pacheco, homem reconhecido, começou a rezar pela graça
alcançada.
O
solitário brinquedo voador curvando, curvando.
Quando
o fervoroso cristão abre os olhos, eis que um ultraleve kamikaze vinha
na final dum mergulho certeiro e mortal.
Que
rezar, que nada. O Pacheco, mais o seu Oly, seu guarda-campo e guarda-sítio,
correram para trás das colunas do hangar, na esperança de não serem atingidos
diretamente pela mortífera aeronave.
O
guerreiro invisível sabia muito bem o que queria e prosseguia com os dois na
alça de mira.
Foi
um tal de pedir perdão dos pecados, que os céus, donde vinha o perigo, tivessem
piedade e acolhessem duas almas cristãs no paraíso.
O
Céu ou o Inferno deviam estar com problemas de superlotação e, uma providencial
rajada de vento bateu no leme da máquina exterminadora.
O
ultraleve recém-regulado, com motor afinadíssimo, rendendo todos os hps
possíveis foi, incrivelmente, estatelar-se numa lavoura de cana a
apenas 100 metros da pista, mas ainda dentro do sítio de seu piloto, sem causar
qualquer dano a terceiros. Nem destruíra a GM, nem matara ou ferira os dezoito
ocupantes de cada uma das casinhas ou barracos das vilas próximas.
Dizem
que depois desse susto o Pacheco furungava, mas, em carburador, nunquinhas.
O
referido é a mais pura verdade e dou fé.
Nota do
Escrevinhador: o Pacheco agora anda revisando carburadores lá pelo Céu, pois lá
não tem GM, pista curta ou vila superpopulosa nos arredores. E, se der problema,
tem um monte de anjos para segurar um ML pela ponta das asas e trazê-lo de
volta sem danos ...
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