sábado, 18 de fevereiro de 2012

Pouso com Ventão de Través - Causo Narrado pelo Deoclécio



Passou-se ansim:

- Diz que lá pelas bandas de Itajaí, nos plagos catarinense, um desses piloto recruta, que tá empeçando as peleia com os apareio, estava nas berba de ir pro tal de cheque.

O peão deu uma sorvida no amargo, depois cuspiu pro lado de montar e seguiu narrando:

- O rapazote não era lá mui assustado, desses que corre fantasma a canzil, no más! Facero que nem bolicheiro em dia de cancha reta, aguardava ansioso pelo avoo, pois ia confirmá o solo. Pela primeira vez ia se afastar da pista, sem um instrutor dando as garantia.

- O instrutor fez o tal de "bifing" ou seja lá o que for de palavra afrescalhada de gringo e dirigiram-se para o Paulistinha, devidamente aperparado pelo aluno. Diz que nesse negócio de "bifing" o instrutor alertou para as particularidade da região nessas cosa de tempo. "Duma hora para outra bate um ventão e a gente deve sempre contar com o pior e saber como enfrentar a situação" - falou pro novato.

- O ventinho que soprava vinha do leste, mas era cosa poca.

- Se foro pro firmamento, dum azul forte, com uma ou outra nuvenzinha, diz que desses tal "acúmulo". Fizero as manobra prevista no Manual e o instrutor autorizou o poso. Em vez de se dirigirem pro galpão dos apareio, pararam levemente afastados da pista e confirmou-se que tinha chegado a hora. "Fica tranquilo. Tu estás bem preparado. É só fazer o que tu sabes que vai dar tudo certo. E fica atento com a biruta, para ver se não aumenta o vento, quando voltares."

- Lá se foi o guri. Já se sentia homem, piloto, de verdade.

- Ficou cosa duns vinte minuto na área de manobra e se tocou de volta. Quando chegô no tráfego, arrepiô os cabelo de um tudo. A biruta tava retinha, de tanto vento. E bem de atravessado!

- Benzeu-se, agarrô-se com tudo quanto era Santo e repassô a forma de como fazê um poso com um ventão daqueles!

- Tremendo que nem vara verde, mas mantendo os pensamento concentrado fez os procedimento. Quando entrô na reta final, abaxô a asa do vento, deu um pedal contrário e veio pro tudo ou nada, pensando "se só desmanchá o Paulistinha e não me machucar, estou no lucro".

- Diz que o toque foi suave, a correção dessa tal de caranguejada foi feita no momento justo e, agradecendo aos Santos, confirmando a generosa oferta na Igreja, benzeu-se e foi pro galpão de guardá apareio.

- Meus parabéns - falou o instrutor.

- Provaste que sabes controlar um teco com vento de través, mesmo quando não há vento de través.

- Como assim? Sem vento? Olha só a biruta. Tá na horizontal, de tão forte que é o ventão.

- Mas ao olhar praquelas banda, a biruta tava murchinha, sinal de nenhum vento.

- Voltando de lá, com uma escada e um cabo de vassora na mão, que fora tirado de dentro do tubo de pano, um aluno veterano se desmanchava de ri, com o final da empulhada ...

Diz que o referido pode ser verdade de dou fé.
Vilsom Lambe-Lambe Barbosa

Nenhum comentário:

Postar um comentário